(Antonio Perez, Estadão Conteúdo) — A onda de enfraquecimento global do dólar, em dia marcado por valorização das commodities e alta firme das bolsas aqui e em Nova York, deu o tom aos negócios no mercado doméstico de câmbio nesta sexta-feira, 9. Em meio a relatos de fluxo estrangeiro para ações e renda fixa domésticas, o dólar operou em baixa desde a abertura do pregão e encerrou o dia em queda de 1,13%, cotado a R$ 5,1476, com mínima a R$ 5,1422. Com o tombo de hoje, a moeda encerra a semana em baixa de 0,72% e marca desvalorização de 1,04% no mês.
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Por aqui, a deflação de 0,36% do IPCA em agosto (menor que a mediana de -0,40% de Projeções Broadcast) – aliada a núcleos ainda pressionados e avanço no índice difusão – pode dar sustentação à possibilidade de alta adicional da taxa Selic neste mês e manutenção da taxa em níveis elevados por mais tempo. Isso, em tese, desestimula posições contra o real. A semana foi marcada justamente por falas cautelosas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do diretor de política monetária da instituição, Bruno Serra. Ambos desautorizaram apostas mais contundentes em afrouxamento monetário no primeiro semestre de 2023.
Um dos gatilhos para a retomada do apetite ao risco seria a possibilidade de novos estímulos monetários na China, cuja inflação mostrou sinais de desaceleração em agosto. Profissionais também comentaram que a moeda americana vem de uma rodada expressiva de fortalecimento no exterior, o que abria espaço para ajustes e realização de lucros, apesar de o Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) manter o tom duro contra a inflação e esfriar apostas em redução dos juros ao longo de 2023.
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Diretor do Federal Reserve (Fed), Christopher Waller disse hoje apoiar “aumento significativo” na reunião do BC americano no dia 21 e continuidade do processo de alta de em 2023, com juro terminal na casa de 4%. Presidente do Fed de Kansas City, Esther George defendeu “firmeza” no processo de aperto monetário. Ambos têm poder de voto este ano.
Parece que, depois de operar sob a sombra de uma desaceleração mais forte na economia dos EUA e de recessão na Europa, o mercado tenta mudar a narrativa, passando a embutir nos preços dos ativos a possibilidade de um “soft landing” das economias desenvolvidas. Por essa ótica, a postura firme dos BCs cortaria a crista da inflação, o maior problema global, sem sacrifícios exagerados à atividade.
“Os mercados decidiram ver o lado positivo hoje. As bolsas em Nova York subiram bastante. O resultado mais baixo da inflação na China estimula os preços das commodities, o que acaba atraindo investidores estrangeiros para a bolsa brasileira e derruba o dólar”, afirma o economista da Valor Investimentos Piter Carvalho.
Moedas como o euro e o iene – de maior peso na formação do índice DXY – hoje ensaiaram uma recuperação das pesadas perdas nos últimos dias. Ontem, o Banco Central Europeu (BCE) subiu os juros em 75 pontos-base e prometeu novas altas. O governo japonês deu sinais de que estuda intervenção no mercado de câmbio para conter a depreciação de sua moeda. Depois de superar os 110 pontos nesta semana, o índice DXY tombou hoje, operando no limiar dos 109 pontos – ainda em patamar historicamente elevado e com valorização de quase 14% no ano.
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“A ideia de uma política mais ‘hawkish’ na Europa, após o BCE acelerar o ritmo de alta de juros, está favorecendo o euro em relação ao dólar. Vemos o DXY perdendo força. Além disso, a alta dos preços das commodities favorece as moedas emergentes”, afirma a economista-chefe do Coface para a América Latina, Patrícia Krause.
De fato, as divisas emergentes e de países exportadores de commodities subiram em bloco, à exceção do peso chileno, que amargou perdas superiores a 2%, em meio a turbulências políticas e o temor quanto a oferta de cobre, com possível greve de mineradores locais. O preço do minério de ferro para janeiro na Dalian Commodity Exchange da China, subiu 3,74%. Em Qingdao, o preço da commodity à vista avançou 2,38%. O contrato de petróleo tipo Brent para novembro, referência para a Petrobras, fechou em alta de 4,14%, a US$ 92,84 o barril.
Além do apetite externo ao risco e alta das commodities, que carreiam recursos para a Bolsa local, a economista Bruna Centeno, da Blue 3, observa que a perspectiva de uma alta adicional da taxa Selic ajuda a dar suporte ao real. Ela ressalta que o Banco Central já se mostrou desconfortável com o nível de inflação e que a deflação do IPCA em agosto está muito ligada aos preços da gasolina. “O núcleo da inflação ainda está bastante pressionado. Não dá manobra para arriscar na política monetária. O BC surpreendeu bastante nesta semana ao sinalizar a possibilidade de um aumento adicional da Selic”, afirma Centeno.