O dólar hoje fechou em alta e renovou o seu recorde histórico de encerramento, recuperando-se das perdas observadas nas três últimas sessões. Com novas preocupações fiscais no radar dos investidores, a moeda americana finalizou esta sexta-feira (6) em valorização de 1,02% cotada a R$ 6,0708, após chegar a atingir máxima a R$ 6,0925 durante o pregão.
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A divisa também se saiu bem no exterior. O índice DYX, termômetro do comportamento do dólar em relação a seis moedas fortes (euro, iene japonês, libra esterlina, dólar canadense, coroa sueca e franco suíço), exibia ganhos de 0,30% ao final da tarde desta sexta-feira, aos 106,034 pontos.
No Brasil, o dia foi de maior cautela no mercado, com o receio de que as medidas de contenção de gastos, apresentadas pelo governo na última semana, sejam desidratadas durante a tramitação no Congresso. Conforme o Estadão mostrou nesta reportagem, deputados resistem a mexer no Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda.
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A notícia apagou o ânimo observado pelos investidores na véspera, com a decisão da Câmara dos Deputados de aprovar o regime de urgência para duas propostas do pacote fiscal. As medidas agora podem ser votadas diretamente no Plenário, sem passar antes pelas comissões da Câmara. As questões tratadas envolvem a limitação da utilização de créditos tributários em caso de déficit nas contas públicas e o alinhamento do modelo de reajuste do salário mínimo à regra de despesas do arcabouço fiscal.
“Por mais que tenhamos observado, ao longo dos últimos dias, a questão da urgência no Congresso, o pacote apresentado, de fato, perdeu essa credibilidade e para combater isso agora não existe solução. É possível minimizar danos, mas o mercado sempre vai ficar com o pé atrás”, afirma Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
Diante das preocupações fiscais, a conclusão do acordo de comércio entre Mercosul e União Europeia acabou sendo deixada de lado pelos investidores. O anúncio foi feito nesta sexta-feira (6) durante a reunião da cúpula dos líderes do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, integrantes do grupo sul-americano, na cidade de Montevidéu (URU).
Payroll cresce acima do esperado
Nos Estados Unidos, o payroll (relatório oficial de emprego americano) mostrou a criação de 227 mil vagas em novembro, em termos líquidos, segundo relatório publicado pelo Departamento do Trabalho do país. Analistas consultados pelo Projeções Broadcast esperavam geração de 155 mil a 270 mil vagas, com mediana de 200 mil. Para Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, o dado sinaliza que o mercado de trabalho americano permanece robusto e confirma o cenário de pouso suave – redução da inflação com o menor custo possível para a atividade econômica e o emprego.
“Após a divulgação dos indicadores, ampliou-se o consenso em torno da expectativa de que o Federal Reserve (Fed) faça mais um corte de 0,25 ponto percentual nos juros em sua última reunião do ano, deixando eventuais mudanças de rota para 2025 após conhecermos melhor as medidas de política econômica do novo governo de Donald Trump”, pontua Igliori.
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Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, também espera um corte de juros de 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Fed. “A inflação vem progredindo em direção à meta de 2%, com as expectativas ancoradas. A autoridade ressaltou na última reunião que os riscos às metas de emprego e inflação estão mais ou menos equilibrados”, diz.
O dólar na semana
O dólar fechou a segunda-feira (2) em alta de 1,11% cotado a R$ 6,0680 – o que era até esta sexta-feira (6) o seu recorde de fechamento. O mercado reagiu negativamente ao pacote de ajuste fiscal apresentado pelo governo na semana passada, o que elevou o clima de desconfiança. Além disso, a ameaça de Donald Trump de impor uma tarifa de 100% sobre o Brics, caso os países do grupo tentem substituir o dólar em suas transações comerciais, também abalou o mercado.
Depois de bater seu quarto recorde consecutivo na segunda-feira (2), a moeda americana abriu em queda na terça-feira (3), com ausência de pressão lá fora. Por fim, terminou a sessão em baixa de 0,16% cotada a R$ 6,0584. No dia, o relatório Jolts mostrou que a abertura de postos de trabalho nos Estados Unidos passou de 7,372 milhões em setembro para 7,744 milhões em outubro. O resultado ficou acima da expectativa de analistas consultados pela FactSet, que previam abertura de 7,44 milhões de vagas no período.
Já na quarta-feira (4), a moeda teve a sua segunda sessão seguida de relativo alívio no Brasil, fechando em leve baixa de 0,21%, ainda que acima dos R$ 6. O movimento refletiu o recuo do dólar ante outras moedas fortes durante boa parte do dia, enquanto o pacote fiscal do governo Lula seguiu no foco dos investidores.
Na quinta-feira (5), a moeda americana encerrou em queda de 0,63% cotada a R$ 6,0097, após chegar a perder o patamar de R$ 6 e atingir mínima a R$ 5,9608 durante a sessão. A notícia de que a Câmara dos Deputados tinha aprovado o regime de urgência para duas propostas do pacote fiscal acalmou os ânimos dos investidores
O dólar vai subir mais?
A cotação do dólar atingiu seu recorde histórico de encerramento nesta semana, no auge do estresse com as medidas apresentadas pelo governo federal para o ajuste fiscal. As propostas para gerar uma economia de R$ 70 bilhões aos cofres públicos em dois anos não foram bem recebidas, depois de o Executivo anunciar a isenção de Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil.
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Como mostramos aqui, traçar com exatidão a trajetória do dólar nas próximas semanas é uma tarefa difícil. Mas o consenso é de que a moeda deve se estabilizar em um patamar elevado – ou seja, em um nível acima de R$ 6. “Esse estresse do dólar, nesta magnitude, pode ser considerado pontual. Entretanto, esse movimento faz parte de uma dinâmica de longo prazo de desvalorização do real”, afirma André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online.
A última edição do Boletim Focus trouxe uma estabilização na projeção para o dólar ao final de 2024, que vinha em alta por seis semanas consecutivas. O mercado agora espera que a moeda americana encerre o ano em R$ 5,70. Para isso, o dólar teria que cair 5% em dezembro.
A estimativa para 2025 aumentou de R$ 5,55 para R$ 5,60, enquanto a de 2026 subiu de R$ 5,50 para R$ 5,60. A projeção do dólar para 2027 não foi alterada.