A presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum, avalia que em novembro o Brasil já terá a regulamentação do Decreto 10.946, publicado em janeiro deste ano e que trata da cessão de espaços físicos e o aproveitamento de recursos naturais para geração elétrica offshore, o primeiro passo para a instalação de parques eólicos offshore na costa brasileira.
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Ela foi a moderadora do primeiro painel do webinar “PD&I: A transição energética e o papel das empresas de petróleo e gás na geração de energia eólica offshore”, organizado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) sobre a nova tecnologia que começa a chegar no País.
“A perspectiva é de que em novembro a regulação vai estar pronta e vamos começar 2023 já com a regulamentação”, disse Gannoum durante o debate.
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A executiva ressaltou que já são 169 gigawatts (GW) de projetos de eólicas offshore sendo analisadas pelo Ibama – volume próximo ao total da capacidade instalada atualmente no Brasil, de mais de 180 GW -, o que mostra o interesse dos investidores no segmento. Ela destacou a importância da discussão está sendo realizada na ANP, já que a parceria entre petroleiras e empresas de geração de energia elétrica será fundamental para desenvolver a indústria de geração de energia offshore no Brasil.
“A gente acredita que o Decreto é a solução, apesar de ter também Projeto de Lei tramitando no Congresso, mas que pode demorar, que pode levar tempo por causa das eleições. O Decreto atende bem aos nossos investidores”, avaliou.
Ela destacou que a regulamentação ambiental já está pronta e é suficiente, após o Ibama editar um Termo de Referência para os projetos que estão sendo analisados. Para deslanchar, porém, a indústria precisa agora da regulação comercial, “que está andando”, e um olhar para a necessidade de investimentos na infraestrutura de portos e no reforço das linhas de transmissão, para aguentar os grandes volumes de energia que serão gerados.
“Precisamos também de estudos sobre custos, porque a energia eólica offshore terá que ser competitiva com solar e eólica onshore (terra), que vão determinar os preços da energia nos próximos anos”, explicou.
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A executiva ressaltou ainda, a importância de se discutir sobre conteúdo nacional para reduzir o custo dos equipamentos e a formação de pessoal, prevendo que muita mão de obra vai migrar da indústria do petróleo e gás natural para as energias renováveis, no contexto da transição energética.
Presente no evento, o representante do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Guilherme Arantes, destacou que as empresas de petróleo e gás precisam estar envolvidas não apenas pelo conhecimento, mas pelos grandes investimentos que terão que ser feitos.
“Estamos falando de trilhões de dólares, tudo é superlativo (na eólica offshore). A gente fala muito do hidrogênio verde e é a eólica offshore que vai fazer essa conexão”, disse Arantes.
Segundo o executivo, na produção de energia elétrica por eólicas onshore os equipamentos correspondem a 70% do custo, enquanto na offshore esse peso cai para 30%, enquanto a infraestrutura e serviços são responsáveis por 40% do total a ser investido, e onde o setor de petróleo e gás poderá participar ativamente.
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“Ainda não estamos estudando financiamento (para eólica offshore), mas temos que estar preparados, tanto para o hidrogênio verde como para eólica offshore e a cadeia produtiva da eólica onshore já está envolvida, temos nos reunido com eles para discutir a nova tecnologia”, informou.
Presente no debate, Gustavo Pontes, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), disse que o Plano Decenal de Energia 2032, que está sendo elaborado pela autarquia, vai atualizar a contribuição energética das futuras usinas eólicas offshore, assim como os custos. Ele também destacou a sinergia com a indústria de petróleo e gás e lembrou que no Decreto editado pelo governo tem previsão de cessão gratuita de área para execução de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) para o segmento, o que vai permitir um conhecimento maior sobre o assunto.
Ele observou que a tecnologia eólica offshore está evoluindo rapidamente no mundo inteiro e que o Brasil, apontado como potencial exportador de hidrogênio verde, terá que aumentar expressivamente a geração de energia elétrica se quiser ter sucesso na comercialização do novo combustível, já que 70% do custo do hidrogênio verde vem da energia elétrica. “A demanda mundial por hidrogênio verde pode ser um impulsionador da eólica offshore no Brasil”, avaliou.