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Juros: taxas sobem com ajustes ao Copom e tensão entre governo e BC

Pela manhã, as taxas curtas e intermediárias chegaram a subir mais de 20 pontos

Juros: taxas sobem com ajustes ao Copom e tensão entre governo e BC
(Foto: Envato Elements)

Os juros futuros terminaram a quinta-feira em alta, em meio aos ajustes ao comunicado hawkish do Comitê de Política Monetária (Copom) e seus desdobramentos no mundo político, tendo sido o movimento, porém, suavizado à tarde quando os retornos dos Treasuries passaram a cair.

Mais até do que não sinalizar sobre o ciclo de queda da Selic, o Copom deixou claro o risco de ter de voltar a elevar a taxa caso as expectativas de inflação não convirjam às metas. Os recados inflamaram ainda mais os ânimos dentro do governo contra o plano de voo da autoridade monetária e a figura do presidente Roberto Campos Neto. A curva zerou as apostas de corte em maio, assim como para junho foram reduzidas, e o orçamento total projetado agora está bem mais enxuto.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,17% (máxima de 13,24%), de 13,02% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 12,04% para 12,10%, mas chegou na máxima a 12,27%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 12,35% (12,49% na máxima), de 12,31%, e a do DI para janeiro de 2029 encerrou em 12,85%, de 12,78%, com máxima a 12,96%.

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Pela manhã, as taxas curtas e intermediárias chegaram a subir mais de 20 pontos, enquanto as longas abriam mais de 10, num movimento de “bear flattening” atribuído basicamente ao Copom.

O mercado limpou a precificação de corte da Selic em maio, que ontem era de cerca de 20%. Para o encontro de junho, a curva projetava no meio da tarde 14 pontos de queda, em torno de 60% de probabilidade de recuo de 25 pontos e 40% de estabilidade. Até ontem, as apostas para este encontro eram todas de baixa, entre 25 e 50 pontos. Para o fim de 2023, os DIs apontam taxa básica próxima a 12,50% e para o fim de 2024, entre 12% e 12,25%. Os números foram fornecidos pelo economista-chefe do Banco Modal, Felipe Sichel.

Enquanto os trechos curto e intermediário refletem diretamente a percepção de que o Copom não vê espaço para alívio monetário estando as projeções futuras tão longe das metas, os longos precificam um desconforto com o aumento da tensão na relação do governo com o BC, expresso nas críticas disparadas entre ontem e hoje à atuação da autoridade monetária.

O presidente Lula disse que a manutenção da taxa básica “não tem explicação nenhuma no mundo” e que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, “tem que cumprir a lei”, sugerindo ainda que o Senado é quem tem de “cuidar” do chefe da autoridade monetária.

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Para os economistas, no entanto, a explicação para o tom do comunicado é principalmente a desancoragem das expectativas em relação às metas, quando texto diz que o Copom irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas, que mostrou deterioração adicional, especialmente em prazos mais longos.

“Aumentou a probabilidade de que a taxa Selic fique estável ao longo do ano ou só comece a cair nas últimas reuniões, tendo em vista o tom duro do Copom, a elevação das projeções de inflação e o risco de o novo arcabouço fiscal não ser visto como crível”, disse o chefe da Área de Estratégia da Warren Rena, Sérgio Goldenstein.

Sichel acrescenta que a manifestação das lideranças do mundo político em relação ao Copom contribuíram para adicionar volatilidade ao mercado. “Em teoria, a política monetária de um BC autônomo não teria de levantar questionamentos pelo lado político”, avalia.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, considerou o comunicado como “muito preocupante” e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse esperar que a ata apresente justificativa “imparcial e justa com o Brasil”. Vale lembrar que ambos, junto com Campos Neto, compõem o Conselho Monetário Nacional (CMN). No Copom de janeiro, a ata corrigiu o tom do comunicado, após Haddad afirmar que esperava um “aceno” do BC nas considerações sobre o fiscal após a apresentação do pacote fiscal.

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Para embaralhar ainda mais o cenário, o presidente da Câmara, Arthur Lira, saiu em defesa do BC, ao dizer que este só terá instrumentos para indicar baixa nos juros após o anúncio do novo arcabouço fiscal. O governo não conseguirá entregar a nova regra em março, como prometido, e vai anunciar só em abril, após a viagem de Lula à China.

No meio da tarde, o ambiente externo deu uma contribuição para aliviar um pouco a pressão sobre a curva, com as taxas reduzindo a alta na esteira da ampliação da queda dos juros dos Treasuries. No fim do dia, a T-Note de dez anos rodava abaixo de 3,40%.

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