A imposição da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos, prevista para entrar em vigor no dia 1º, não deve afetar significativamente os fundamentos e os ratings (notas) de crédito das principais exportadoras de carne bovina do País, segundo avaliação da Fitch Ratings.
Em entrevista exclusiva ao Broadcast Agro, o diretor sênior de corporates para a América Latina (consumo e varejo), Renato Donatti, e o diretor de corporates para a América Latina (Agro e Proteínas), Flávio Fujihira, destacaram que a diversificação geográfica e de portfólio dessas companhias protege suas finanças contra choques de mercado.
“Essas empresas – JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3) – não são mais apenas exportadoras de carne bovina brasileira. Elas diversificaram muito, tanto geograficamente quanto em termos de produtos”, afirmou Fujihira. “Apesar do impacto ser relevante para o setor brasileiro de bovinos, essas empresas não devem ser tão afetadas. Hoje elas têm uma exposição muito menor a esse tipo de risco”, acrescentou.
A Fitch observa que a JBS, por exemplo, gera cerca de metade da receita nos Estados Unidos a partir de operações locais, o que a torna praticamente imune à tarifa. “A exportação a partir do Brasil representa algo entre 1% e 3% da receita total da JBS”, explicou Fujihira.
Já no caso da Minerva, a exposição às exportações brasileiras para os EUA corresponde a cerca de 5% da receita, embora o grupo envie aproximadamente 15% para aquele mercado quando considerados todos os países em que atua.
“Mesmo a Minerva, que é menor e tem uma estratégia mais concentrada em bovinos, se expandiu para outros países – Austrália, Uruguai, Paraguai, Argentina – e exporta a partir dessas localidades”, comentou. No caso da Marfrig, a operação da National Beef ajuda a mitigar o problema, assim como a força da operação de carne de frango.
Essa capacidade de diluir riscos também sustenta a solidez dos ratings atribuídos pela Fitch. “A JBS é grau de investimento, a Marfrig é ‘BB+’ e a Minerva é ‘BB’. Essa diversificação geográfica e de produtos é parte fundamental da nossa análise”, complementou Donatti. Segundo ele, empresas menores e mais concentradas geograficamente, como o paraguaio Frigorífico Concepción, enfrentam riscos maiores e, por isso, têm ratings mais baixos.
Publicidade
Os analistas afirmam que a tarifa dos EUA não representa, portanto, um fator de pressão. “Em termos de rating, esse cenário não muda nossa visão sobre as empresas. O que acompanhamos mais de perto são movimentos estruturais, como a dupla listagem da JBS nos EUA, o ramp-up (aceleração) das plantas que a Minerva comprou da Marfrig, ou mesmo a consolidação da BRF pela Marfrig”, disse Donatti. “Os grandes vetores estão em outras frentes”, resumiu Fujihira.
O ambiente de juros altos no Brasil, por sua vez, tem impacto mais direto sobre as companhias que mantêm maior exposição ao financiamento doméstico, fator que também pesa pouco sobre as indústrias de proteína animal. “A Minerva, por exemplo, fez uma emissão de ações para reduzir a alavancagem e mitigar os efeitos da taxa básica de juros Selic elevada”, observou Fujihira. Já a JBS, que possui dívida majoritariamente emitida no exterior, sofre ainda menos com o cenário local.
Na avaliação da Fitch, os recentes movimentos das principais exportadoras de carne bovina do País são, em geral, positivos do ponto de vista do crédito. “Cada empresa está num estágio diferente, mas os movimentos são, em geral, positivos. A JBS já atingiu um nível de porte e diversificação que a coloca como uma das maiores multinacionais brasileiras. A Marfrig caminha nessa direção, principalmente com a integração da BRF (BRFS3). E a Minerva, por sua vez, foca em ser um player eficiente em bovinos – o que é uma estratégia coerente, embora menos diversificada”, comentou Donatti.