O Ibovespa chegou a oscilar levemente para o negativo no meio da tarde desta terça-feira (06) com a piora de humor em Nova York, mas conseguiu evitar perdas, após ter encerrado o dia anterior em queda de 2,25%. Hoje, a referência da B3 oscilou entre mínima de 109.217,24 e máxima de 110.662,73 pontos, saindo de abertura aos 109.402,99. Ao fim, mostrava ganho de 0,72%, aos 110.188,57 pontos, com giro financeiro ainda moderado na sessão, a R$ 24,2 bilhões, nesta véspera de decisão do Copom sobre a Selic. Na semana, o Ibovespa cede 1,55% e, no mês, 2,04% – no ano, a alta é limitada a 5,12%.
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Com um olho na tramitação da PEC da Transição pelo Senado, que sofreu resistência quanto ao extrateto já na Comissão de Constituição e Justiça, e outro nas medidas de reabertura na China, o Ibovespa conseguiu se descolar, ainda que levemente, da aversão a risco em Nova York, onde as três referências de ações fecharam o dia com perdas acima de 1%, chegando a 2,00% para o tecnológico Nasdaq.
“Apesar da boa recuperação econômica e de a inflação (nos EUA) apresentar algum sinal de melhora, o Federal Reserve deve seguir, em menor intensidade, com o aperto monetário, o que deve impactar os dados de atividade econômica no quarto trimestre de 2022 e pode penalizar os ativos de risco”, observa Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora, destacando que as bolsas americanas vêm de um rali iniciado ainda em meados de outubro.
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No Brasil, “apesar de algum otimismo na abertura do pregão, o Ibovespa perdeu força e retomou a pressão vendedora na parte da tarde, com o mercado precificando o risco fiscal, de olho na PEC da Transição no Senado”, acrescenta o analista.
Aqui, perto do fechamento da Bolsa, os senadores da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) firmaram acordo e aprovaram por unanimidade, em votação simbólica, o texto da PEC da Transição, com ampliação do teto de gastos em R$ 145 bilhões, valor abaixo dos R$ 175 bilhões inicialmente propostos. Também ficou acertado que uma nova regra fiscal será apresentada até agosto de 2023.
Na B3, o desempenho de Vale (ON +1,45%) e das ações de grandes bancos (Itaú PN +2,31%, Bradesco PN +2,36%, Bradesco ON +1,46% e BB ON +1,02%, as quatro nas respectivas máximas do dia no fechamento) deu suporte ao Ibovespa, enquanto Petrobras se firmou no negativo à tarde, tendo resistido, mais cedo, ao dia ruim para o petróleo – as perdas na commodity se acentuaram na etapa vespertina, com o Brent e o WTI caindo mais de 4% no pior momento da sessão.
Ao fim, Petrobras fechou sem direção única, com a ON ainda em baixa de 0,17% e a PN, com leve ganho de 0,08%. Na ponta do Ibovespa, destaque para Ecorodovias (+6,70%), Renner (+5,06%), IRB (+4,55%) e Gol (+4,10%), com Sabesp (-4,49%), PetroRio (-3,83%) e 3R Petroleum (-3,55%) do lado oposto.
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Em Brasília, o relatório do senador Alexandre Silveira (PSD-MG) sobre a PEC da Transição foi apresentado e lido pela manhã, propondo a ampliação do teto de gastos em R$ 175 bilhões por dois anos, em 2023 e 2024. Com discordâncias sobre o valor, a sessão foi suspensa e os senadores seguiam reunidos à tarde. A oposição ao novo governo queria reduzir a ampliação do teto, de R$ 175 bilhões para R$ 125 bilhões.
À tarde, o senador Jaques Wagner (PT-BA) disse, na reunião da Comissão de Constituição e Justiça, que o PT concordava em reduzir a ampliação do teto de gastos na PEC em R$ 30 bilhões, o que resultaria em valor de R$ 145 bilhões, ao final aprovado pela CCJ. O senador disse também que o partido concordaria em enviar ao Congresso uma proposta de revisão do arcabouço fiscal, em projeto de lei complementar, em um prazo, a princípio, de seis meses. No relatório de Silveira, o prazo seria maior, de um ano.
“O Ibovespa acabou subindo um pouco hoje porque tinha caído muito ontem. O valor (da PEC) acabou sendo mantido acima do que esperávamos, mesmo com a situação fiscal muito frágil. O sinal é ruim, e precisamos esperar, agora, para ver qual será a reação do Copom, amanhã, no momento em que ainda não se tem um novo arcabouço fiscal. Pelo menos, aparentemente, se prefixou valor por dois anos, o que reduz o risco de que venha a ser aumentado depois”, diz Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos, que aguardava algo mais próximo a R$ 125 bilhões, com efeito fiscal que seria neutro, abaixo dos R$ 150 bilhões.
“A perspectiva de elevação dos gastos (públicos) em 2023 para sustentar a demanda das famílias gerará mais inflação. Caso esses riscos se materializem, o único remédio para combater a inflação será elevar os juros, levando a uma expansão menor da economia. Esse cenário ainda não é certo, (mas) a probabilidade existe. Precisamos de mais clareza e diretrizes sobre os rumos da economia em 2023″, aponta Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. “O quadro que se desenha com a aprovação do projeto, mesmo que desidratado, torna cada vez mais importante a discussão sobre uma nova regra fiscal.”
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