“A expectativa era de um dia um pouco mais morno, dia de certo ajuste depois da nova queda forte no dólar e nos juros, e alta da nossa Bolsa ontem”, diz Bruna Sene, analista de renda variável da Rico.
Apesar da expectativa de avanço nas negociações entre os governos brasileiro e norte-americano, autoridades do Brasil permanecem no “modo São Tomé”, aguardando para ver. Em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, o presidente Donald Trump fez elogios a Lula e anunciou que se reunirá com ele na próxima semana.
Espera-se que os líderes cheguem a alguma solução sobre o tarifaço imposto a produtos brasileiros. Conforme Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença, apesar dos recentes recordes do Ibovespa, o volume tem sido baixo, em meio a uma postura cautelosa de investidores. “Risco fiscal é grande, há incertezas no governo, na política”, diz.
Em paralelo, as bolsas de Nova York fecharam novamente em queda após o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, afirmar ontem que os preços das ações estão “altamente valorizados” e demonstrar cautela quanto à perspectiva de novos cortes de juros. O foco também esteve nos riscos de paralisação do governo dos EUA.
Nesta quarta-feira (24), as commodities operaram em direções opostas: o petróleo Brent avançou em torno de 2,22%, enquanto o minério de ferro fechou em estabilidade, na China.
No câmbio, o dólar hoje avançou ante a maioria das divisas, incluindo o real. No fechamento, a moeda americana subiu 0,91%, a R$ 5,3274.
Ibovespa hoje: os principais assuntos desta quarta-feira (24)
Bolsas globais têm desempenho misto em meio a desdobramentos do Fed
As bolsas de Nova York caíram, enquanto as Bolsas europeias fecharam majoritariamente em alta, ecoando a fala do presidente do Fed, Jerome Powell, de que os preços das ações estão “altamente valorizados”, além de demonstrar cautela sobre a perspectiva de mais cortes de juros. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar em relação a seis moedas fortes, subiu 0,62% aos 97,871 pontos.
Também ontem, o presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, afirmou que as taxas de juros podem cair, mas é preciso ficar atento à inflação.
No dia, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, afirmou que a China e os EUA devem “reforçar a comunicação, evitar mal-entendidos e prevenir confrontos”, durante encontro em Pequim com uma delegação de congressistas dos Estados Unidos. Foi a primeira visita de legisladores federais americanos ao país desde 2019, pontua o comunicado.
Encontro de Lula e Trump: o que mais afetou o Ibovespa hoje?
A expectativa de uma possível reunião entre o presidente Lula e o presidente Trump, na próxima semana, continuou no radar. Banqueiros brasileiros consideram a mudança de postura de Trump com Lula positiva, mas preferem esperar para ver as cenas dos próximos capítulos.
O ministro Fernando Haddad disse que a ideia na conversa sinalizada pelo governo dos Estados Unidos com o governo brasileiro é “primeiro separar política da economia”.
O ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República, ponderou que o governo ainda precisa aguardar para ver quais serão os desdobramentos da curta conversa inicial que os dois líderes tiveram ontem nos corredores da ONU.
Agenda econômica do dia
Na agenda econômica desta quarta-feira (24), o presidente Lula concedeu entrevista coletiva à tarde. Lula afirmou que ficou feliz ao ouvir de Trump que houve uma “química boa” entre os dois. “Tive outra satisfação de ter um encontro com o presidente Trump. Aquilo que parecia impossível, deixou ser impossível e aconteceu. Eu fiquei feliz quando ele disse que pintou uma química boa entre nós”, afirmou.
O presidente afirmou também que não há motivos para que os dois países vivam em “momentos de conflito”. Lula disse ainda que ficou feliz com o convite de Trump para uma conversa e que quer “construir uma pauta positiva” com o líder americano, além de “discutir e garantir a paz no planeta”.
No contexto local, a PEC da Blindagem não passou pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, que rejeitou o texto nesta manhã.
Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participou de audiência pública na Comissão de Agricultura da Câmara. O ministro classificou o rápido encontro entre Lula e Trump como uma “abertura” que pode ajudar a resolver a dimensão econômica das tarifas aplicadas pelas autoridades americanas sobre produtos brasileiros.
“Eu penso que, se houver boa vontade de parte a parte, nós vamos resolver a questão econômica rapidamente. Agora, a questão política é outro departamento. Envolve outro Poder da República, e tem a questão constitucional”, disse Haddad a jornalistas, na saída da audiência.
O ministro lembrou que algumas empresas brasileiras não podem ser atendidas apenas por crédito, e precisam retomar o acesso ao mercado americano.
Na agenda externa, destaque para o discurso da presidente do Federal Reserve de São Francisco, Mary Daly, ao final da tarde, após o fechamento do pregão. Mais cedo, a dirigente do Banco da Inglaterra (BoE), Megan Greene, discursou na Universidade de Glasgow e sinalizou que não considera apropriado cortar a taxa de juros no momento.
Greene ressaltou que os dados sobre a economia do Reino Unido demonstram persistência da inflação em nível elevado e aumento nos riscos de alta, incluindo dos preços de serviços, que devem permanecer em torno de 5% até o fim deste ano. Este cenário, na visão dela, exige uma postura mais restritiva da política monetária britânica.
“Uma instância mais restritiva pode significar pular os cortes de juros”, disse, acrescentando que a cautela é a resposta apropriada para o ambiente econômico incerto.
Esses e outros dados do dia ficaram no radar de investidores e impactaram as negociações na bolsa de valores brasileira, influenciando o índice Ibovespa hoje.
*Com informações de Luciana Xavier e Maria Regina Silva, do Broadcast