O tom positivo das commodities hoje impulsionou o principal índice da B3 hoje, apesar das incertezas tarifárias. A agenda de indicadores e balanços foi carregada, com destaque para o início das reuniões de política monetária do Banco Central brasileiro e do Federal Reserve (Fed), nos Estados Unidos.
Diante dessas dúvidas, o Índice Bovespa fechou em baixa de 1,04% ontem, aos 132.129,26 pontos. A poucos dias da entrada em vigor do tarifaço dos Estados Unidos ao Brasil — e sem sinais de negociação no horizonte —, investidores tendem a continuar pouco dispostos ao risco.
“Os ativos devem manter certo descolamento do fator externo, tendo em vista a preocupação com a proximidade de 1º de agosto, quando, em tese, entram em vigor as tarifas de 50% dos EUA sobre produtos brasileiros”, pontua em nota Silvio Campos Neto, economista sênior e sócio da Tendências Consultoria.
No mercado de câmbio local, o dólar hoje iniciou o dia em alta, mas inverteu o sinal por volta das 11h (de Brasília) após o leilão de dólares do Banco Central. No fechamento, a moeda encerrou a R$ 5,5695, com queda de 0,36% – confira aqui o noticiário sobre dólar.
Ibovespa hoje: os principais assuntos desta terça-feira (29)
Agenda econômica às vésperas da Super Quarta
A agenda econômica desta terça-feira (29) concentrou atenções no primeiro dia das reuniões de política monetária do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) e do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que anunciam suas decisões na quarta-feira (30). No Ibovespa hoje, a Petrobras (PETR3; PETR4) divulga o relatório de Produção referente ao segundo trimestre do ano, após o fechamento do mercado. PETR3 fechou em alta de1,68% e PETR4 avançou 1,28%.
Ainda na agenda econômica hoje, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, concedeu entrevista à CNN, enquanto o presidente do BC, Gabriel Galípolo, e diretores participaram da primeira sessão da reunião do Copom.
O BC realizou leilão de linha de até US$ 1 bilhão e o Tesouro fez leilão de Notas do Tesouro Nacional – Série B (NTN-B, títulos públicos com rendimento atrelado à inflação) e Letra Financeira do Tesouro (LFT, título pós-fixado com rentabilidade atrelada à taxa de juros).
O vice-presidente Geraldo Alckmin se reuniu com o governador do Ceará e com o setor de tecnologia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu o ministro da Defesa e os comandantes das Forças Armadas, e a presidente do Banco do Brasil (BBAS3).
Nos EUA, saíram o relatório Jolts de abertura de vagas de junho e o índice de confiança do consumidor de julho. Boeing, Procter & Gamble e UnitedHealth divulgaram balanços antes da abertura, enquanto Visa, TIM Brasil (TIMS3) e Motiva (MOTV3), após o fechamento.
Bolsas globais ficam mistas à espera de acordo EUA-China
Os mercados de ações fecharam em alta na Europa, com as negociações tarifárias entre EUA e China em Estocolmo no radar, além de dados econômicos e balanços corporativos. O secretário de Comércio americano, Howard Lutnick, disse ontem que os dois países poderão estender a trégua comercial por 90 dias.
As bolsas de Nova York encerraram em queda, conforme investidores digerem resultados de balanços corporativos melhores que o esperado e se alinham na véspera de decisão do Federal Reserve.
A ação do Barclays subiu 3,07% em Londres, após reportar lucro e receita acima das previsões, mas reiterar seu guidance (projeção) para 2025, enquanto a Stellantis avançou 0,14% em Milão na esteira do prejuízo no 1º semestre.
O Produto Interno Bruto (PIB) da Espanha cresceu 0,7% no segundo trimestre, acima da expectativa (+0,6%) e, na comparação anual, avançou 2,8% entre abril e junho.
Os rendimentos dos Treasuries (títulos da dívida estadunidense) estão com viés de baixa, ecoando ainda o acordo comercial americano com a União Europeia — embora alguns setores tenham ficado de fora — e com expectativas pela decisão de juros do Fed, na quarta-feira, em meio à escalada nas pressões do governo Trump para cortes de juros.
Dólar alcança maior cotação desde junho
O dólar iniciou a semana em alta com os mercados repercutindo o acordo comercial fechado entre os Estados Unidos e União Europeia (UE) que fixou as tarifas de 15% sobre as exportações do bloco europeu para o mercado americano. No último fechamento, o dólar à vista encerrou o pregão em alta de 0,50%, a R$ 5,5899, a maior cotação desde 4 de junho deste ano.
Nesta tarde, o dólar subiu ante moedas de países desenvolvidos, ainda impulsionado pelo acordo comercial entre EUA e UE. O índice DXY do dólar avançou 0,25%, a 98,886 pontos, após tocar máxima em um mês de 99,04 pontos.
BC realiza leilão de US$ 1 bilhão
O Banco Central (BC) vendeu a oferta integral de US$ 1 bilhão em um leilão de linha (venda com compromisso de recompra) realizado nesta terça-feira (29), com o objetivo de rolar o vencimento de 4 de agosto. Duas propostas foram aceitas, e a taxa de corte foi de 5,3310%.
A oferta de dólares do Banco Central ocorreu na modalidade pós-fixado Selic. A taxa de câmbio usada foi de R$ 5,5810, equivalente à taxa Ptax (taxa de referência para as operações de câmbio no mercado financeiro) do boletim de 10h.
As operações de venda serão liquidadas na próxima segunda-feira (4). As operações de compra serão liquidadas em 4 de novembro.
Commodities em alta
Os contratos futuros do petróleo fecharam em alta de mais de 3% nesta terça-feira, estendendo o rali de ontem, após Trump afirmar que a Rússia tem “10 dias a partir de hoje” para acabar com a guerra na Ucrânia. Caso não haja recuo, serão implementadas tarifas a Moscou, enfatizou o republicano.
Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para setembro avançou 3,74% (US$ 2,50), a US$ 69,21 o barril. Já o Brent para outubro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), teve alta de 3,40% (US$ 2,36), a US$ 71,68 o barril. Nas máximas do dia, o WTI e Brent atingiram maior nível desde 23 de junho.
Entre as commodities hoje, o minério de ferro no mercado futuro da Dalian Commodity Exchange, para setembro de 2025, fechou em alta de 0,63%, cotado a 798 yuans por tonelada, o equivalente a US$ 111,17.
Petrobras divulga relatório operacional
A Petrobras deve reportar resultados robustos em seu relatório de produção e vendas a ser divulgado na noite desta terça-feira (29), dizem os analistas do Santander, XP Investimentos e UBS BB em relatórios enviados aos clientes. O bom desempenho deve vir pela performance do campo de Búzios, no pré-sal da bacia de Santos.
Últimos dias para o tarifaço dos EUA ao Brasil
Faltando três dias para a entrada em vigor da tarifa de 50% dos EUA sobre produtos brasileiros, ainda não há acordo, e a insegurança persiste. O presidente Donald Trump indicou que a maioria das tarifas ficará entre 15% e 20%, sem mencionar diretamente o Brasil.
O governo brasileiro intensifica negociações, com o vice-presidente Geraldo Alckmin em contato com autoridades americanas e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, propondo medidas ao presidente Lula para reduzir os impactos nos setores mais afetados.
Preocupados com uma possível inadimplência de exportadores, bancos brasileiros pediram ao BC mais leilões cambiais de reservas. Empresários americanos sugeriram um novo manifesto à Casa Branca pedindo o adiamento da tarifa em reunião com senadores brasileiros, que também buscaram apoio da Câmara de Comércio dos EUA para viabilizar diálogo entre Lula e Trump. “Eu trabalho para que eles não encontrem diálogo”, disse o deputado federal Eduardo Bolsonaro sobre a movimentação dos senadores.
Esses e outros dados do dia ficaram no radar de investidores e impactaram as negociações na Bolsa de Valores brasileira, influenciando o índice Ibovespa hoje.
*Com informações de Maria Regina Silva, Silvana Rocha e Luciana Xavier, do Broadcast