Ainda que um recuo da taxa básica brasileira reduza o diferencial de juros com os EUA, especialistas ouvidos pela Broadcast afirmam que a arbitragem ainda ficará atrativa, o que tende a estimular a entrada de recursos num momento em que a Bolsa brasileira é vista como “barata”. Um dos principais focos de incerteza, por ora, é a eleição de 2026 que se avizinha, afirmam.
No mês passado, houve entrada de R$ 2,061 bilhões por parte de estrangeiros, com o acumulado do ano já positivo em R$ 27,347 bilhões. No ano passado, houve saída de capital externo de R$ 32,1 bilhões da B3, após aportes de R$ 44,8 bilhões em 2023.
Novembro trouxe o capital estrangeiro de volta, após outubro registrar saída de R$ 1,226 bilhão, num movimento que havia sido considerado pontual por analistas. Até agora, o ano teve oito meses de ingresso de recursos externos – somente abril, julho e outubro registraram retiradas.
Até o dia 10, o capital externo de novembro estava no vermelho, com a saída de recursos tendo atingido seu pico, de R$ 1,75 bilhão, no dia 4. A tendência, porém, se inverteu, e o mês alcançou ingresso de R$ 1,049 bilhão no dia 11. Nos últimos seis dias do mês, de 21 a 28, entretanto, houve saídas diárias que somaram R$ 5,277 bilhões.
Na avaliação de Bruno Takeo, estrategista da Potenza, os investidores estrangeiros ficaram mais receosos em tomar risco em meio a dúvidas sobre Inteligência Artificial (IA) entre o final de outubro e o início de novembro, principalmente.
Segundo ele, num primeiro momento, os comentários tinham caráter mais especulativo, mas agora investidores têm buscado alguma lucratividade. “Começaram a surgir questionamentos quanto aos rendimentos, e alguns investimentos pararam de ser direcionados para emergentes, enquanto o mercado aguardava para verificar se havia algum problema no setor.”
Ainda que todas as incertezas envolvendo IA não tenham sido dissipadas, o balanço acima do esperado da Nvidia (NVDC34), empresa americana do setor de tecnologia, no terceiro trimestre trouxe um pouco de alívio, instigando a retomada do apetite por risco, diz Takeo.
A despeito do ingresso de capital internacional na B3 nesta reta final do ano, Felipe Sant’ Anna, especialista em mercado financeiro do grupo Axia, adverte que a sazonalidade pode jogar contra este cenário. “Em dezembro costuma ter um movimento de saída em razão do fechamento do caixa das empresas, remessas externas, pagamento de bônus e dividendos”, explica.
Porém, segundo ele, se o Fed cortar novamente o juro nos EUA, mais dinheiro deve migrar para o Brasil. “Mas tenho dúvidas se esse fluxo vai se manter em 2026, por conta das eleições”, pondera Sant’ Anna.
De acordo com o especialista, o volume de ingresso externo está muito indexado aos juros altos no Brasil. Atualmente, a taxa Selic está em 15,00% ao ano, enquanto nos EUA o juro básico está na faixa de 3,75% a 4% ao ano – menor nível desde novembro de 2022.
“O Brasil ainda está barato em termos de múltiplos. É preciso monitorar mesmo as questões locais”, diz Takeo, da Potenza, ao referir-se a questões fiscais e que envolvam o debate eleitoral, pontuando que esse último assunto só deve ganhar corpo após o carnaval como influência para os mercados.
Mesmo que distante, o debate eleitoral pode estimular o ingresso de capital estrangeiro à medida que surgirem nomes para disputar o pleito que sejam mais alinhados com uma política fiscalista, avalia Felipe Cima, analista da Manchester Investimentos. “É preciso uma mudança da pauta econômica, com foco na alteração da pauta fiscal”, diz.
Demais categorias de investimento na B3
As demais categorias de investimento na B3 ficaram majoritariamente no azul. O destaque foram as instituições financeiras, que aportaram R$ 1,11 bilhão e foram a única classe a atingir o patamar bilionário.
Já os investidores institucionais voltaram a registrar saídas. Ao longo de 2025, somente outubro foi positivo, com aporte de R$ 258,306 milhões. Em novembro, a retirada chegou a R$ 8,741 bilhões, a segunda maior do ano, atrás somente de setembro, quando o grupo sacou R$ 9,214 bilhões.
A saída dos institucionais reforça um nível de cautela maior do investidores domésticos em relação aos do exterior, que acabam por não acompanhar tão de perto o noticiário brasileiro e a consequente volatilidade. “De todo modo, a tendência é positiva para a B3. O ingresso de capital externo deve continuar mesmo sem recursos locais, de fundos de pensão”, estima Takeo, da Potenza.