O aumento da curva de taxa de juros de longo prazo e a piora da percepção de risco, em reflexo ao fluxo de notícias relacionadas a temas políticos e regulatórios no setor elétrico, sem o efetivo encaminhamento, têm pesado nas ações das elétricas, avalia a equipe de análise do Itaú BBA.
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No acumulado do ano até agora, o Índice de Energia Elétrica (IEE) cai 6,85% enquanto o principal índice da Bolsa, o Ibovespa, recua 5,71%. Entre as empresas sob a cobertura do banco, os piores desempenhos no acumulado do ano são AES Brasil (AESB3), CPFL (CPFE3), Engie, Energisa (ENGI11), Equatorial (EQTL3) e Auren (AURE3). A única elétrica com desempenho positivo no acumulado do ano é a Cemig (CMIG4), que sobe mais de 13% no ano, explicado por menores chances de federalização, bons resultados e a recente venda da Aliança em condições consideradas atraentes.
“Os investidores brasileiros estão com maior peso no setor de serviços públicos e, com base em conversas recentes, parece que houve alguma rotação para outros setores, como o varejo”, escreveu o analista Marcelo Sá.
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Para ele, as taxas de juros mais altas explicam grande parte do fraco desempenho das elétricas. “A NTN-B 2040 (duração de 10 anos) e a NTN-B 2055 (duração de 15 anos) caíram 2,3% e 3,1%, respectivamente, no acumulado do ano, um pouco abaixo do Ibovespa” disse.
Entre os temas regulatórios, Marcelo Sá cita um aumento da percepção de risco em particular no processo de renovação da concessão das distribuidoras de energia. O analista afirma que todo o mercado esperava que o decreto com os termos de renovação da concessão fosse publicado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) em dezembro de 2023. No entanto, esses termos permanecem até hoje em discussão.
Ele cita também o movimento feito pelo governo federal nesta semana de solicitar à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a abertura de um processo administrativo para analisar se a Enel merece perder a concessão em São Paulo por não cumprir as obrigações contratuais, no que reforça os sinais já dados pelo MME de preocupação com a qualidade do serviço de distribuição de energia.
“Mantemos nossa visão de que as concessões serão renovadas sem a necessidade de pagamento de bônus de concessão, mas com métricas de qualidade mais desafiadoras. Contudo, acreditamos que as empresas que operam concessões com indicadores de baixa qualidade poderão ter dificuldades em renová-las e, portanto, poderão ser forçadas a vendê-las”, disse, sem dar nomes.
Para o analista, o recente fluxo de notícias sobre Medidas Provisórias que deverão ser enviadas ao Congresso nos próximos dias também contribuiu para o fraco desempenho das ações das elétricas. Ele se refere à proposta consolidada semana passada pelo MME à Casa Civil de um texto com medidas para reduzir as tarifas de energia e estender subsídios a usinas de geração renovável.
Geradoras
Especificamente no caso das geradoras de energia, o analista do Itaú BBA comenta que as ações dessas empresas não contabilizam a melhora nas perspectivas dos preços da energia. “Os preços da energia para 2025 aumentaram de R$ 106/MWh em dezembro para R$ 155/MWh em março, enquanto os preços da energia para 2027 aumentaram de R$ 127/MWh em dezembro para R$ 148/MWh em março”, disse.
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Para o Itaú BBA, Eletrobras (ELET3), Copel (CPLE6), Engie e Auren (AURE3) são os nomes mais sensíveis às mudanças nos preços da energia.
Ainda sobre Eletrobras, o analista avalia que as incertezas quanto ao potencial acordo entre a companhia e o governo federal em relação à disputa pelo direito de voto estão pesando no desempenho das ações.