Fabricio Tota, diretor de Novos Negócios do MB, defende que criptoativos precisam superar barreiras culturais para conquistar o investidor tradicional. (Foto: Adobe Stcok)
Na medida em que os criptoativos avançam para além do nicho de entusiastas e conquistam espaço nas discussões do mercado financeiro tradicional, o desafio passa a ser cultural: como aproximar esse universo de investidores acostumados a operar em ativos mais convencionais? Essa foi a reflexão central de Fabricio Tota, diretor de Novos Negócios do Mercado Bitcoin (MB), em entrevista exclusiva ao E-Investidor.
Tota destacou que o maior desafio atual para o mercado de criptoativos é quebrar a barreira cultural que ainda existe entre esse universo e o investidor tradicional.
“Ainda é um assunto que causa resistência. Quando o gestor ou o consultor vai falar de cripto, parece que está entrando em um território estranho. O grande desafio é tornar esse tema mais próximo do dia a dia”, afirmou.
Os que sabem demais costumam recusar as criptos, por quê?
Segundo ele, a dificuldade é ainda maior quando se trata do investidor profissional – gestores de fundos, agentes autônomos e consultores de valores mobiliários.
“Não é uma ideia ruim manter parte relevante do patrimônio em reais. Afinal, é a moeda que usamos para fazer contas. Mas quando estrangeiros olham para a América Latina, colocam todos os países no mesmo balaio. E aí a stablecoinaparece como solução contra a desvalorização cambial”, explicou.
Real vs Dólar: as coisas não são o que parecem ser
No entanto, o diretor ressaltou que a narrativa de fragilidade das moedas locais precisa ser analisada com cuidado.
Ele lembrou que, em 2025, o real se valorizou frente ao dólar, contrariando a expectativa de perda constante. “O dólar se desvalorizou 15% em relação ao real neste ano. E se considerarmos o rendimento da Selic, o investidor local poderia ter uma vantagem de até 25% em relação ao dólar. Nenhum investidor fica tranquilo em perder 25% em um ano só porque no longo prazo pode compensar”, observou.
Na visão do diretor, o mercado brasileiro perdeu uma oportunidade ao não explorar ativos digitais de forma mais ousada.
Enquanto fundos globais já se expunham a cripto como alternativa de diversificação – mesmo em meio ao desempenho forte das bolsas americanas -, gestores locais permaneceram excessivamente focados em ações e renda fixa domésticas. Tota defende:
“Os multimercados no Brasil não tiveram bons resultados em janelas de 5 a 10 anos. Talvez se tivessem olhado para cripto, poderiam ter reduzido volatilidade e melhorado retorno.
Como entrar no mercado cripto?
Para ele, a aproximação com o mercado tradicional precisa ser feita de forma construtiva, sem antagonismos.
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“Não é chegar dizendo que o investidor institucional é burro e que o jovem que apostou tudo em bitcoin é gênio. Esse cara, às vezes, colocou todo o dinheiro dele, mas o ‘todo’ era nada. Quando se trata de gerir bilhões de reais, a conversa é outra. É preciso construir pontes”, destacou.
A regulação como chave do sucesso das criptos
Ao projetar o futuro, Tota foi enfático: a regulação terá papel central na aceleração do setor.
Ele acredita que, em até cinco anos, os pagamentos internacionais via stablecoins estarão totalmente integrados às transações cotidianas, muitas vezes de forma invisível para o usuário.
“Você vai entrar em um aplicativo, fazer uma compra e nem perceber que a operação foi liquidada em stablecoin. Vai ser natural, como um Pix. Até 2030, isso será extremamente comum”, afirmou.
O Brasil, segundo ele, tem uma característica particular: é grande o suficiente para atrair empresas estrangeiras, mas isso também gera um efeito colateral, já que negócios locais tendem a se acomodar dentro do mercado doméstico.
“É diferente de países como Chile ou Israel, onde as empresas já nascem globais. Aqui, o tamanho do mercado cria conforto, mas também limita a expansão internacional”, avaliou.
Perdi o bonde da cripto ou ainda tenho tempo?
Apesar da sensação de que o investidor já perdeu o “bonde do cripto”, Fabrício Tota reforçou que o setor ainda está em estágio inicial. “Quando se fala em US$ 4 trilhões, parece enorme. Mas, se comparado a todo o mercado investível – títulos públicos, ações, imóveis, arte, colecionáveis -, é uma fatia muito pequena. Ainda há muito espaço para crescimento”, ressaltou.
Por isso, a recomendação é de encarar os criptoativos como investimento de longo prazo, não como aposta. Tota criticou a mentalidade de curto prazo, comum em apostas esportivas, e reforçou que a construção de patrimônio exige disciplina:
Investimento não pode ser tratado como descarga de adrenalina. É sobre aposentadoria, transferência de riqueza geracional, vida digna no futuro.
Para ele, o mercado já oferece infraestrutura segura e informação suficiente para que investidores ingressem com responsabilidade, embora ainda falte capacitação entre profissionais do setor. “O investidor brasileiro se acostumou a seguir especialistas em fundos imobiliários, ações e renda fixa. Mas muitos desses especialistas ainda não olham para cripto. Isso cria um vácuo de orientação. É aí que plataformas como a nossa entram, para pegar na mão do investidor e ajudá-lo nessa travessia”, concluiu.