Metanol: saiba como não cair no golpe do combustível adulterado e evitar prejuízos
Especialistas afirmam que golpe afeta o consumidor de três principais formas: no bolso, no carro e na condição física, já que o composto é altamente corrosivo
Metanol é o famoso 'barato que sai caro', afirmam especialistas (Foto: Adobe Stock)
Nesta quinta-feira (28), equipes da Polícia Federal, Polícia Militar, Promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e agentes fiscais da Receitas Estadual e Federal cumprem 200 mandados de busca e apreensão da Operação Carbono Oculto. O foco da investigação atinge a região da Avenida Faria Lima, o setor de combustíveis e o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Segundo os auditores da operação, o objetivo, além de desmantelar todo o esquema de fraude, é “mirar nos vários elos da cadeia de combustíveis controlados pelo crime organizado, desde a importação, produção, distribuição e comercialização ao consumidor final até os elos finais de ocultação e blindagem do patrimônio, via fintechs e fundos de investimentos”.
As investigações apontam para uma dezena de práticas criminosas, desde crimes contra a ordem econômica, passando por adulteração de combustíveis, crimes ambientais, lavagem de dinheiro – inclusive do tráfico de drogas –, além de fraude fiscal e estelionato. O impacto pode recair até mesmo sobre o consumidor final, já que essa alteração nos combustíveis de automóveis pode causar danos reais para a pessoa física.
Saiba o que é o metanol
Uma das principais práticas investigadas é a adulteração de combustíveis com metanol, um tipo de álcool destinado a fins industriais, diferente do etanol, utilizado legalmente nos veículos.
Luiz Felipe Bauri, coordenador dos cursos de Engenharia da Faculdade Anhanguera, lembra que o metanol é um álcool simples, obtido a partir do gás natural, carvão ou biomassa, composto por carbono, hidrogênio e oxigênio (CH₃OH).
Embora seja utilizado em processos industriais, seu uso como combustível automotivo representa alguns riscos sérios: é altamente tóxico, corrosivo e pode comprometer gravemente o motor.
O metanol é uma substância altamente corrosiva, capaz de provocar danos sérios em veículos e prejuízos diretos aos consumidores quando empregado como carburante.
Além disso – e este é um dos pontos mais explorados pelo crime organizado –, o metanol é significativamente mais barato e não sofre a mesma carga de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) aplicada ao etanol automotivo.
O esquema funciona da seguinte forma: quadrilhas criam empresas de fachada para importar o produto sob a justificativa de uso industrial. No entanto, assim que a carga chega ao País, ela é desviada e utilizada para abastecer redes de postos. Atualmente, São Paulo é considerada o epicentro dessas adulterações.
Segundo a Receita Federal, já foram movimentados cerca de R$ 52 bilhões em postos de combustíveis dentro desse esquema, resultando em um prejuízo estimado de mais de R$ 8 bilhões aos cofres públicos.
Em nota oficial à imprensa, o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) manifesta seu apoio às operações. Ana Mandelli, diretora executiva de Downstream do IBP avalia que a situação é “um risco sistêmico à integridade da economia formal, que corrói a confiança de investidores, expõe o consumidor a produtos de péssima qualidade e, mais grave, utiliza a capilaridade do setor de combustíveis para financiar outras atividades criminosas”.
Como evitar cair no golpe do combustível adulterado
De acordo com a advogada Débora Farias, o golpe afeta o consumidor de três principais formas: no bolso, no carro e na saúde. A primeira frente está relacionada aos gastos com consertos e manutenção, enquanto o carro pode sofrer perda de desempenho e garantia. A saúde também é motivo de preocupação, já que a inalação de vapores de Metanol é prejudicial.
Publicidade
Cristiano Malheiro, também professor de Engenharia na Anhanguera, exemplifica a questão da saúde humana:
Pode causar cegueira ou até a morte se ingerido ou inalado em grandes quantidades. Se ficar muito exposto aos vapores pode gerar no indivíduo dores de cabeça, náuseas, tontura e problemas respiratórios.
Malheiro também acredita que o uso do metanol é o famoso “barato que sai caro”, já que “traz sérios riscos ao veículo ao danificar o motor e as peças do sistema de injeção eletrônica, corrosão nos tanques e mangueiras, redução da vida útil do veículo e falhas ou panes no funcionamento”.
Para evitar cair no golpe, Farias recomenda algumas dicas:
Abasteça sempre em postos de confiança, preferencialmente optar por bandeiras mais sólidas e conhecidas; exija nota fiscal e desconfie de preços muito abaixo da média.
Bauri concorda com ambas as avaliações: “Abastecer com combustível adulterado contendo metanol significa danos diretos ao veículo, como falhas no sistema de injeção, perda de potência, aumento do consumo e, em casos mais graves, a necessidade de reparos custosos no motor”.
Além desses cuidados, existem algumas formas de identificar que o combustível foi adulterado: engasgos, queda de potência ou consumo elevado devem ser sinais de alerta para o motorista. Caso reconheça um dos sintomas, agir rápido pode evitar maiores problemas.
Para o Jornal do Carro/Estadão, Rogério Gonçalves, diretor de combustíveis da AEA, recomenda uma medida simples: completar o tanque com gasolina aditivada ou etanol e deixar que o motor queime o que restou da mistura contaminada.
Publicidade
Se a ação não tomar efeito e o comportamento do carro piorar, o proprietário deve levar o veículo a um mecânico para esvaziar completamente o tanque. Ao suspeitar de possível adulteração, guardar uma amostra do combustível suspeito pode ser usada para uma eventual análise futura.
Como agir de for afetado pelo golpe do metanol
A advogada recomenda que se, ainda com todos os cuidados, o consumidor seja prejudicado pelo golpe do Metanol, o ideal é:
Procurar um mecânico para saber a extensão do dano causado no veículo, com a expedição de um laudo;
Fazer uma reclamação via Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) e se necessário ingressar com ação judicial para pedir indenização pelos danos.
Além das recomendações de Farias, Bauri sugere que seja feita uma perícia do combustível para comprovar a adulteração e buscar reparação dos prejuízos.
“Por último, mas não menos importante, denunciar o fato às autoridades policiais e Agência Nacional de Petróleo (ANP), vez que não deixa de ser um crime praticado contra a saúde do consumidor”, finaliza a advogada.