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O que os investidores devem saber sobre plano de financiamento dos EUA

O Departamento do Tesouro do país deverá divulgar o plano na próxima quarta-feira (31)

O que os investidores devem saber sobre plano de financiamento dos EUA
Edifício do Federal Reserve nos EUA, em Washington DC (Foto: Envato Elements)

O Departamento do Tesouro dos EUA deverá divulgar o seu mais recente plano de financiamento na quarta-feira (31), um evento que era rotineiro, mas que recentemente tem gerado oscilações do mercado graças às preocupações com o déficit do orçamento federal.

A cada trimestre, o chamado anúncio de refinanciamento do Tesouro oferece aos investidores uma análise detalhada de como o governo pedirá dinheiro emprestado para compensar a diferença entre as suas receitas e despesas.

Este anúncio se tornou importante à medida que os montantes envolvidos aumentaram. Os investidores estão, especialmente, ansiosos por saber quanto serão vendidos de títulos do Tesouro de curto prazo em comparação com papéis de longo prazo, uma decisão que pode ter implicações importantes nos custos de empréstimos em toda a economia.

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Aqui está o que você deve saber antes do anúncio de quarta-feira, que ocorrerá horas antes de o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) concluir sua reunião de política monetária de dois dias:

Sobre os financiamentos

Os responsáveis pelo Tesouro gostariam que os anúncios de refinanciamento fossem enfadonhos – a baixa volatilidade ajuda a manter baixos os custos de financiamento do governo -, mas esse não tem sido o caso recentemente.

Os perigos dos grandes déficits se tornaram evidentes em agosto, quando necessidades de financiamento maiores do que o previsto levaram as autoridades a aumentar o tamanho dos leilões de dívida de longo prazo para um montante acima do esperado pelos investidores. O anúncio foi um novo golpe em um mercado já sob pressão devido às especulações de que o Fed manteria as taxas de juros mais altas por mais tempo. O rendimento da T-Note de 10 anos atingiu 5% no final de outubro pela primeira vez em 16 anos.

Os investidores tiveram uma segunda surpresa com o anúncio de refinanciamento seguinte, em 1º de novembro, quando o Tesouro aumentou em montantes menores os leilões de dívida de longo prazo, apoiando-se, em vez disso, em papéis da dívida de curto prazo. Isso ajudou a desencadear uma reversão nos rendimentos de longo prazo, que determinam um piso para todas as taxas de juros, desde hipotecas até títulos corporativos.

Perspectiva mais calma

As condições do mercado antes do anúncio de refinanciamento desta quarta-feira estão muito mais calmas do que no passado. Os rendimentos dos títulos do Tesouro desaceleraram acentuadamente desde as máximas de outubro, embora tenham se recuperado um pouco neste ano.

Confiantes de que o Fed começará a cortar as taxas des juros em 2024, os investidores têm preferido títulos, fazendo com que a perspectiva de aumento do tamanho dos leilões pareça menos assustadora.

Muitos em Wall Street esperam que o Tesouro aumente os leilões na mesma proporção que aumentou no trimestre anterior. Isso significa, por exemplo, que aumentaria o tamanho dos leilões de Notes de 2 e 5 anos em US$ 3 bilhões por mês nos próximos três meses, ao mesmo tempo que aumentaria os leilões de títulos de 10 anos em US$ 2 bilhões em relação ao trimestre anterior.

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As autoridades já sinalizaram que o Tesouro provavelmente fará uma pausa no aumento do tamanho dos leilões após esse anúncio.

A incerteza permanece

Mesmo assim, não é como se os investidores tivessem voltado aos tempos em que ignoravam o anúncio de financiamento. Ainda há incerteza sobre o que as autoridades anunciarão para o próximo trimestre.

Os analistas do Barclays, por exemplo, preveem que as autoridades podem, mais uma vez, surpreender os investidores ao optarem por um aumento menor no leilão de notas de 10 anos, elevando-o em US$ 1 bilhão, ao invés de US$ 2 bilhões.

A justificativa é que, apesar do recente rali dos títulos, a oferta de papéis da dívida do Tesouro ainda está elevando os rendimentos de prazos mais longos e que os responsáveis continuarão sensíveis quanto a exercer pressão sobre esse trecho da curva.

A adoção dessa abordagem, provavelmente, impulsionaria os títulos do Tesouro e reduziria os rendimentos, pelo menos marginalmente.

Ao mesmo tempo, os analistas alertam que ainda existe o risco de que o anúncio do refinanciamento possa gerar elevação dos rendimentos – devido a uma decisão específica ou ao ressurgimento amplo das preocupações dos investidores sobre o déficit e a dívida.

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No final, “as questões que fizeram com que o mercado realmente recuasse bastante no final de outubro são as mesmas questões que estamos ponderando novamente aqui: necessidades de financiamento muito grandes” e a perspectiva de leilões maiores, disse o economista da Jefferies, Thomas Simons.

Ponto imprevisível

Além do anúncio desta semana, alguns fatores diferentes poderão alterar os planos de financiamento do Tesouro no próximo ano.

Um deles é o próprio déficit, cuja previsibilidade é difícil. Nos primeiros três meses do atual ano fiscal, o valor foi um pouco maior do que no ano passado. Ainda assim, na segunda-feira, o Tesouro anunciou que precisaria tomar um pouco menos de empréstimo no trimestre atual do que havia projetado em novembro.

Outro fator é o que o Fed decidirá fazer com a sua carteira de quase US$ 8 bilhões de títulos e outros ativos.

Em junho de 2022, o banco central começou a reduzir o seu portfólio de títulos do Tesouro em US$ 60 bilhões por mês, permitindo que alguns papéis vencessem sem realizar a rolagem para outros.

Esse processo, conhecido como aperto quantitativo, tem o efeito de reduzir os depósitos bancários no Fed. Se permanecesse indefinidamente, provavelmente causaria distorções nos mercados de empréstimos de curto prazo, porque os bancos estariam menos dispostos a abrir mão do seu dinheiro.

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Em um discurso recente, a presidente do Fed de Dallas, Lorie Logan, que geriu a carteira do banco central entre 2019 e 2022, disse que poderia fazer sentido abrandar o ritmo em que o banco central permite o vencimento dos títulos ainda este ano.

A decisão sobre quando começar a reduzir o aperto quantitativo e quando acabar com ele é muito importante para os investidores em títulos, porque o Tesouro precisa pedir mais empréstimos aos investidores para pagar o Fed à medida que os títulos vencem. Quanto mais cedo o procedimento terminar, o Tesouro precisará emitir menos dívida nova.

Questão nova

Um último aspecto que os investidores precisam levar em conta é a iminente introdução do novo programa do Tesouro para recomprar determinados títulos do Tesouro antes da sua data de vencimento.

Um dos objetivos do programa é dar suporte a títulos mais antigos, os chamados “off-the-run”, que tendem a atrair menos procura do que títulos do Tesouro emitidos mais recentemente. Esses títulos mais antigos, portanto, são mais difíceis de negociar.

O financiamento destas compras poderá exigir que o Tesouro realize leilões maiores do que seriam de outra forma – embora os analistas esperem que o impacto inicial do programa seja relativamente modesto.

Espera-se que mais detalhes sobre as recompras sejam divulgados com o anúncio do refinanciamento na quarta-feira, incluindo uma possível data de lançamento.

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Fonte: Dow Jones Newswires