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O que são os leilões que o Banco Central faz para tentar frear o dólar?

Operações se tornaram comuns diante da alta da moeda, que sobe mais de 27,4% em relação ao real no ano

O que são os leilões que o Banco Central faz para tentar frear o dólar?
Nota de dólar americano. Foto: Adobe Stock

O Banco Central voltou a realizar leilões de dólar para tentar conter a alta da moeda americana. Nesta terça-feira (17), a divisa superou a casa dos R$ 6,20, refletindo a tensão sobre as contas do governo e a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve o tom mais duro e apontou para a piora na expectativa da inflação. Esse é o quarto dia útil seguido em que o BC injeta dólares para tentar reduzir a pressão das cotações.

Os leilões são operações em que a autoridade monetária oferece dólares diretamente aos participantes do mercado, como bancos e instituições financeiras. Dessa forma, eles representam ferramentas utilizadas para regular a liquidez e dar suporte à estabilidade cambial.

Intervenções desse tipo sinalizam o compromisso do Banco Central com o equilíbrio do câmbio, ajudando a reduzir incertezas e a diminuir a volatilidade do mercado. “Esses leilões ajudam a conter a alta do dólar ao aumentar a oferta de moeda estrangeira no mercado, reduzindo a pressão causada por movimentos especulativos ou desequilíbrios momentâneos entre oferta e demanda”, diz Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas.

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A autoridade monetária tem um cadastro de dealers de câmbio – bancos e corretoras que atuam como seus intermediários. Esses dealers não são sempre os mesmos, variando de tempos em tempos conforme os critérios estabelecidos pelo Banco Central para o seu credenciamento. “Durante um leilão, esses participantes fazem uma cotação eletrônica, em que cada dealer pode mandar as suas ofertas no limite pré-estipulado pelo Banco Central. Posteriormente, essas ofertas são analisadas: algumas são descartadas e outras, validadas”, descreve Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital.

Com a injeção de um volume grande de dólares no mercado, o preço da moeda americana tende a ceder. “Temos visto, no entanto, que esse movimento é momentâneo. A contenção do dólar ocorre temporariamente, mas depois a divisa volta a subir”, pontua Pletes. “Um controle efetivo do dólar vai depender, na verdade, do cenário econômico interno. O risco fiscal está tão pesado que esses leilões não têm sido suficientes para conter a aceleração da moeda americana”, complementa.

Por que o dólar está subindo?

O dólar acumula uma alta de 27,45% em relação ao real em 2024. No ano, o real sofreu com as desconfianças dos investidores em relação à condução das contas públicas. Tudo piorou depois que o governo apresentou o tão aguardado pacote de corte de gastos. As medidas divulgadas foram consideradas incertas e difusas, além de gerarem dúvidas sobre a sua real aprovação no Congresso.

O que também desagradou foi o anúncio da proposta de isenção de Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil. O sentimento é de que o plano pode anular os efeitos positivos do pacote fiscal, colocando em xeque o real comprometimento do governo com as contas públicas. A divulgação da medida foi feita oficialmente em 28 de novembro e, no dia seguinte, o dólar chegou a atingir a cotação histórica de R$ 6,11.

Alexandre Rebelatto, head de operações no Grupo Laatus, afirma que o mercado agora ficará atento a como o pacote fiscal sairá do Congresso, já que existe grande potencial de desidratação. “Há também um outro vetor que impulsiona a alta da moeda: as remessas de final de ano, ou seja, empresas multinacionais que enviam lucros para suas matrizes”, explica ainda.

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Com a aceleração do dólar, diferentes instituições já começaram a rever suas projeções futuras para a moeda americana, como mostramos nesta reportagem. Dentre as casas consultadas, o Wells Fargo tem a maior estimativa e acredita que o dólar pode alcançar o patamar de R$ 7 ainda no primeiro trimestre de 2026, em um cenário global de fortalecimento da divisa e de perda de confiança na credibilidade fiscal do Brasil.

O Boletim Focus desta segunda-feira também trouxe uma piora nas expectativas para o câmbio. Agora, a mediana do mercado para o dólar ao final de 2024 subiu de R$ 5,95 para R$ 5,99. Um mês antes, estava em R$ 5,60. A estimativa intermediária para o fim de 2025 aumentou de R$ 5,77 para R$ 5,85, na sétima alta seguida. Já a projeção para o fim de 2026 passou de R$ 5,73 para R$ 5,80 e, para o fim de 2027, de R$ 5,69 para R$ 5,70.