Segundo o Banco Central (BC), que coordena o desenvolvimento do Pix, a funcionalidade foi construída com participação ativa dos integrantes do Fórum Pix e do Grupo Estratégico de Segurança, assegurando uma base sólida de proteção. “Medidas de segurança foram estabelecidas para garantir clareza e controle ao usuário, como a exigência de notificação prévia sobre o débito, possibilidade de cancelamento até as 23h59 do dia anterior à cobrança, e contestação de débitos indevidos pelo Mecanismo Especial de Devolução (MED)”, destaca a autoridade monetária. Além disso, o pagador poderá definir um valor máximo por autorização e terá acesso, diretamente pelo aplicativo bancário, a uma área específica para gerir, suspender ou cancelar autorizações.
O Banco do Brasil (BB) foi o primeiro a lançar o Pix Automático para seus clientes, no dia 29 de maio. A instituição defende que a iniciativa representa um avanço em inovação e atendimento ao consumidor. “Foi uma aposta clara em inovação com foco no cliente. Mais do que protagonismo, é sobre estar onde o cliente precisa — com agilidade, segurança e tecnologia de ponta”, afirmou o banco. A instituição também assegurou que participou ativamente da elaboração do modelo junto ao BC e que o serviço conta com múltiplas camadas de segurança e total transparência.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) reforça a importância do Pix Automático como uma ferramenta que elimina barreiras históricas dos débitos automáticos tradicionais. Ao contrário do modelo anterior, que exigia convênios específicos entre empresas e bancos, agora qualquer prestadora de serviço pode oferecer essa modalidade de pagamento, independentemente do banco utilizado pelo cliente. “Isso ampliará o alcance das soluções de recebimento e trará mais conveniência e redução de custos para empresas e consumidores. Além disso, abre uma nova onda de crescimento nas transações do Pix, especialmente no setor de serviços”, afirma a federação.
Na avaliação do especialista José Barletta, Diretor Técnico da Ingenico, os riscos de segurança do Pix Automático são equivalentes aos das demais modalidades do Pix, já amplamente testadas. Ele destaca a atuação do Banco Central no aprimoramento do MED, com melhorias previstas para o próximo ano. Para ele, o a novidade facilita o cancelamento de autorizações e contribui para padronizar a experiência do consumidor, algo que hoje varia bastante entre bancos. “Essa unificação torna a vida do usuário muito mais simples e previsível”, explica.
Apesar das facilidades, a substituição completa de métodos tradicionais de pagamento não ocorrerá de forma imediata. Renato Fairbanks, CEO da iugu, outro especialista ouvido, pondera que “o Pix Automático vai democratizar o acesso a pagamentos recorrentes, permitindo que empresas menores — como escolas e condomínios — ofereçam essa modalidade sem a burocracia de convênios com grandes bancos”. No entanto, ele acredita que o novo sistema não “matará” o débito automático tradicional no curto prazo. “A tendência é de convivência, com o Pix Automático expandindo o acesso, reduzindo a inadimplência e simplificando os processos, mas não substituindo imediatamente as formas já consolidadas.”
Ralf Germer, CEO e cofundador da PagBrasil, enxerga o Pix Automático como uma verdadeira revolução nos pagamentos recorrentes no Brasil. Para ele, trata-se de uma alternativa mais segura, controlável e transparente, com potencial de inclusão para milhões de brasileiros sem cartão de crédito ou com acesso limitado aos bancos tradicionais. “Toda cobrança acontece apenas com consentimento prévio do consumidor, com autenticação via app. Parâmetros como valor máximo, frequência e recebedor são definidos pelo próprio usuário, o que garante controle total. Se algo sair desses parâmetros, o pagamento é automaticamente bloqueado”, explica Germer. Ele destaca ainda a facilidade de cancelamento, que dispensa contato com a empresa recebedora — ao contrário do que ocorre nas cobranças por cartão de crédito ou débito em conta.
O novo serviço se mostra como uma ferramenta robusta, segura e conveniente, que não apenas amplia o acesso aos pagamentos recorrentes, mas também promove uma mudança estrutural na forma como consumidores e empresas se relacionam com os meios de pagamento. A adesão do mercado dependerá, em grande parte, da educação financeira e digital da população, mas as bases para uma adoção em larga escala já estão bem consolidadas.
Pix Automático terá até 3 tentativas de cobrança
O Banco Central explica que o Pix Automático terá duas janelas de liquidação obrigatórias na data prevista para o pagamento: a primeira entre 0h e 8h, e a segunda entre 18h e 21h. Se não houver saldo suficiente na conta do pagador na primeira tentativa, ele será notificado e informado sobre a nova tentativa no mesmo dia. Persistindo a insuficiência, novas tentativas podem ocorrer nos dias seguintes. Juros e multas por atraso, se previstos em contrato, podem ser cobrados posteriormente. O BC reforça que o Pix Automático é apenas um meio de pagamento — como os já existentes — e que não amplia o poder de empresas sobre os hábitos de consumo, já que o usuário pode cancelar autorizações a qualquer momento pelo aplicativo do banco.
A Febraban lembra que o Pix Automático é regulamentado pelo BC e obrigatório para todos os participantes do sistema. As tarifas são aplicáveis apenas a pessoas jurídicas, e variam conforme negociação entre recebedor e pagador. “O cancelamento pode ser feito a qualquer momento pelo app da instituição. Acreditamos que o produto trará avanços em preço e transparência”, afirma a federação.
Para o BB, a adesão tem sido positiva. “Estamos animados com os convênios em contratação e investindo na comunicação clara com clientes e funcionários. A confiança vem do histórico de soluções robustas e do nosso compromisso com a educação financeira”, afirma a instituição. O BB destaca que cancelamentos podem ser feitos até 23h59 do dia anterior à cobrança, e que as notificações são enviadas com antecedência.
Pix Automático deve ampliar concorrência e reduzir custos
Barletta, reforça que a funcionalidade amplia a concorrência e pode reduzir custos para empresas. “Hoje, muitos débitos automáticos só são possíveis com alguns bancos. Com o Pix Automático, todos os participantes do sistema deverão ofertar o serviço. Isso deve promover competição e melhores condições comerciais”, diz. Ele ressalta ainda que, embora o Pix funcione todos os dias, pagamentos agendados para finais de semana podem ser debitados antes de o salário cair, o que pode gerar preocupações pontuais.
Já Fairbanks, da Iugu, pondera os dois lados do debate. “Há o risco de o consumidor esquecer que autorizou a cobrança, mas isso já acontece com débitos automáticos e cartões. O Pix é até mais transparente: o valor sai direto da conta e aparece no extrato”, diz. Ele acredita que o sistema pode reduzir a inadimplência, o que, a médio prazo, pode beneficiar os próprios consumidores com preços mais equilibrados.
“O sistema realiza até três tentativas de cobrança em sete dias, sempre com base nos parâmetros autorizados pelo usuário. Este pode definir se quer ou não usar crédito rotativo, e é notificado previamente sobre o débito”, afirma Germer, da PagBrasil. Ele destaca que a padronização do Pix Automático tende a democratizar o acesso, beneficiando inclusive pequenos negócios. “Empresas poderão oferecer cobranças recorrentes com menor custo e maior eficiência, sem necessidade de intermediários.” Para o CEO, a funcionalidade favorece a inovação e a pluralidade, desde que usada com foco na transparência e no empoderamento do consumidor.
Pix Automático dá mais controle ao consumidor e reduz custos para empresas
A grande inovação está na padronização e autonomia oferecidas ao consumidor e às empresas. “Para as empresas recebedoras, o principal diferencial é que não são necessários convênios com diversas instituições”, explicou o BC. Basta que a empresa tenha conta em uma instituição participante para receber de qualquer outra. Do lado do consumidor, a experiência é igualmente simplificada: “Todos os bancos participantes do Pix devem oferecer ao usuário pagador as mesmas funcionalidades mínimas”, como gestão de agendamentos, definição de valor máximo por autorização e notificações automáticas sobre o sucesso — ou não — de cada cobrança.
Germer aprofunda essa ideia ao destacar que o Pix Automático se estrutura em quatro modalidades de recorrência:
- Valor fixo;
- Valor variável;
- Períodos variáveis; e
- Cobranças sem periodicidade definida.
Ele enfatiza que “esse nível de autonomia e controle simplesmente não existe no débito em conta tradicional ou na recorrência com cartão de crédito”. No Pix Automático, o consumidor tem domínio total sobre seus consentimentos — pode cancelar, ajustar, consultar limites e frequência de cobrança, tudo diretamente no aplicativo do banco. A lógica é impedir problemas antes que aconteçam, em vez de depender de medidas corretivas como estornos ou disputas com lojistas.
Exige atenção, mas amplia controle e segurança
No entanto, o caminho até essa solução foi longo. A complexidade técnica do produto exigiu um planejamento minucioso e uma infraestrutura amadurecida. Renato Fairbanks, CEO da Iugu, explica: “O ‘só agora’ está ligado ao roadmap do Banco Central. Desde o lançamento do Pix em 2020, já estavam previstas várias novas modalidades”. Segundo ele, cada nova função do Pix — como o Automático — envolve desafios técnicos e jurídicos, além de negociações entre bancos, fintechs e reguladores. Ele elogia o Brasil por estar à frente globalmente nesse tipo de inovação, afirmando que “políticas à parte, parabéns ao Banco Central pelo que tem feito por nós.”
A Febraban também vê com bons olhos a chegada do Pix Automático, mas chama atenção para o uso consciente de crédito. “No processo de aprovação, o cliente poderá consentir com a utilização do limite de crédito disponível. Caso este limite seja utilizado, podem ser aplicadas cobranças de juros e multas conforme as condições estabelecidas no contrato firmado com a instituição financeira”, explicou a entidade. Isso significa que, mesmo com o Pix Automático oferecendo uma opção de débito direto, a possibilidade de uso de crédito ainda carrega as responsabilidades tradicionais — algo que o consumidor deve observar com atenção.
Essa flexibilidade, por outro lado, é valorizada por instituições como o Banco do Brasil. Segundo a entidade, “a tentativa de débito ocorre duas vezes no dia: pela manhã e à noite. Se não houver saldo, a cobrança não é realizada — e o cliente é notificado”. Não há aplicação de multas ou juros automáticos. Para o BB, o Pix Automático representa uma “solução flexível e respeitosa com o consumidor” e uma oportunidade de liderar o mercado com foco em inclusão financeira e concorrência mais saudável.
Ainda assim, nem todos veem a novidade como uma substituição direta do cartão de crédito. Fairbanks pondera que o Pix Automático não resolve todos os problemas de fluxo de caixa do consumidor: “Hoje eu não tenho dinheiro na conta e o streaming vai cair amanhã, mas eu só recebo meu salário daqui a 15 dias”, explica. Nesse cenário, o cartão de crédito continua sendo útil. Para o CEO, a decisão sobre qual meio de pagamento usar ainda será do consumidor: “Somos agnósticos em relação aos meios. O importante é dar opções”. Ele acredita que haverá espaço tanto para o Pix Automático quanto para os métodos tradicionais — a chave está em oferecer alternativas e deixar que o usuário escolha conforme sua realidade financeira.
É seguro?
No que diz respeito à segurança, os riscos são comparáveis aos já existentes no ecossistema digital. Fairbanks, da Iugu, acredita que “o fato de ser automático não traz risco adicional ao Pix”. As barreiras técnicas e camadas de proteção atuais tornam golpes menos prováveis do que nos Pix esporádicos. Ainda assim, ele alerta para a importância de atenção do consumidor: “o risco está em esquecer uma cobrança ativa, por exemplo”. Mas reforça que o modelo oferece um ambiente mais controlado do que o de transferências manuais ou cobranças ocultas em cartões.
O Banco Central reforça que “o contrato firmado entre empresa e cliente contém os deveres e direitos de cada parte e é regido pelo Direito do Consumidor”. A instituição não interfere em disputas comerciais, mas estabelece as bases para que o Pix Automático seja seguro, padronizado e funcional. No centro da proposta está a transparência, o controle nas mãos do usuário e a ampliação da competitividade entre bancos e prestadores de serviços.
Em um cenário financeiro cada vez mais digitalizado, o Pix Automático representa um passo significativo rumo a pagamentos mais ágeis, acessíveis e sob o controle real do consumidor.
Com Pix Automático, consumidor pode gerenciar autorizações no app
O BC destaca que o usuário pagador terá, no aplicativo do banco, uma área dedicada ao Pix Automático com funcionalidades para consultar autorizações ativas e pagamentos futuros agendados. Também será possível desativar o uso de limite de crédito caso não haja saldo suficiente para determinadas cobranças.
Para o Banco do Brasil, a inovação está na simplicidade e abrangência do novo sistema. Diferente do débito automático tradicional, o Pix Automático dispensa convênios entre empresas e bancos: a empresa precisa se vincular a apenas uma instituição, enquanto o cliente pode autorizar ou cancelar cobranças diretamente pelo app. “O cliente pode gerenciar limites, recusar autorizações e acompanhar tudo em tempo real. O Pix Automático é uma ferramenta de liberdade, não de surpresa”, afirma a instituição.
Os débitos via Pix Automático só ocorrem com autorização do cliente, reforça a Febraban. O maior benefício está na dupla formada por empresas e consumidores. “Pagamentos ativos de boletos geram fricção. Eu, por exemplo, preferiria colocar contas como a da escola dos meus filhos em débito automático, mas muitas vezes não consigo. O Pix Automático traz produtividade para quem paga e previsibilidade para quem recebe”, avalia Renato Fairbanks. A solução pode ser interessante para empresas que ainda não utilizam o Pix.
O CEO ainda alerta, no entanto, para a importância do acompanhamento dos pagamentos: “Assim como fazemos com o cartão de crédito, é preciso monitorar o que está sendo pago. O consumidor deve verificar as autorizações e garantir que está pagando por algo realmente consumido.”
Já o CEO da PagBrasil, Ralf Germer, afirma que o Pix Automático permite novos modelos de cobrança recorrente — como assinaturas dinâmicas ou tarifas por uso — desde que autorizadas previamente pelo cliente. “O diferencial está no consentimento: é possível definir valor máximo, frequência, validade da autorização e quem pode receber. A cobrança só acontece se tudo estiver dentro dos parâmetros. E o consumidor pode cancelar com poucos cliques. O controle está no desenho da tecnologia, que já nasce com proteção embutida”, destaca.