Para quem acha que Selic vai cair, comprar prefixado agora é oportunidade. Foto: AdobeStock
A expectativa sobre o novo pacote fiscal que o governo federal deve anunciar nos próximos dias, como alternativa ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), gerou pressão sobre as taxas oferecidas pelos títulos do Tesouro Direto nesta quinta, principalmente nos papéis mais curtos.
O Tesouro Prefixado com vencimento em 2028 amanheceu o dia pagando 13,62%. Na atualização da tarde, às 13h01, esse mesmo título já estava a 13,73% e, às 15h40, 13,78%. Já a parte prefixada do papel indexado à inflação, o Tesouro IPCA + com vencimento em 2029, o pulo foi de 7,49% para 7,51% e 7,57% na sequência.
O mercado monitora com apreensão o “mix” de medidas em estudo pelo governo para compensar o IOF. “A gente tem a expectativa do que o governo vai anunciar no chamado mix que ele quer fazer por conta do fracasso do IOF. Então, a gente não sabe se, de fato, vai manter tudo e ainda colocar alguns outros pontos, como sobretaxar o setor de óleo e gás, as bets, criptoativos… Tudo isso está no radar do mercado”, afirma Felipe Sant’Anna, especialista em investimentos da Axia Investing.
Ambiente de indefinição doméstica
O temor se intensifica porque os últimos anúncios do governo na área fiscal não surtiram o efeito esperado – e até pioraram o humor do mercado. “Das últimas duas vezes que o Ministério da Fazenda fez uma coletiva para anunciar bons planos, foi um desastre no mercado. No primeiro deles, colocaram para fazer um corte de gastos e vieram com isenção de Imposto de Renda, que deixou o mercado bem preocupado. Agora, nessa última semana do IOF, também foi um desastre: tira casaco, bota casaco, coloca a medida, afasta a medida. Ninguém sabe o que vai acontecer”, comenta Sant’Anna.
Esse ambiente de indefinição provocou reação no mercado durante esta quinta-feira (5), com reflexo direto na curva de juros, especialmente nos vértices mais curtos, que embutem o risco fiscal no horizonte próximo, e também na Bolsa. “ O cenário de instabilidade é o que fere mais os investidores, faz com que o mercado venda ações. Olha o índice futuro caindo quase 0,8%, precificando o risco, realizando. Quem tinha papel na mão está soltando e a curva de juros não tem nem para trás. Vai bater 1% a qualquer instante”, disse o especialista da Axia Investing.
Embora o cenário externo também contribua para o nervosismo, o pano de fundo doméstico ganhou protagonismo nesta quinta.
Selic vai parar de cair?
Quem está investido nos títulos viu seu rendimento cair. O Tesouro Prefixado 2028 que na manhã desta quinta tinha um preço unitário (PU) de R$ 720,84 reduziu para R$ 718,24 no final da tarde. Já o PU do IPCA + 2029 caiu de R$ 3.406,36 para R$ 3.396,47.
Embora uma parte do mercado acredita que o ciclo de alta da Selic esteja próximo do fim, outro segmento não compartilha dessa visão. O Brasil ainda enfrenta problemas estruturais, como inflação persistente, numa conjuntura em que o governo estimula a economia que mantém o mercado de trabalho aquecido, fazendo com que o Banco Central sinalize com juros mais elevados por mais tempo.
“Se você acredita que a Selic vai cair, comprar agora um título público prefixado pagando 14% ou mais pode ser uma ótima oportunidade”, afirma Sant’Anna. Em um cenário de queda dos juros, esse título tende a se valorizar bastante pois seu PU tende a subir. “Mas se o cenário não mudar, ou piorar, essa aposta pode virar um erro caro.”
Publicidade
A economista Marisa Rossignoli, conselheira do Corecon-SP, acredita que o atual patamar pode ser reduzido, apesar de ainda continuar elevado. “Portanto, os títulos prefixados e os títulos indexados à Selic me parecem ainda uma boa opção, principalmente para aquela pessoa que quer ter uma garantia maior “, diz.
No mercado de ações, a situação também exige cautela. Papéis cíclicos, como varejo (linha branca, alimentos, consumo não essencial), serviços e até a construção civil, tendem a sofrer com juros altos por mais tempo. A inflação pressionada e o crédito caro batem direto nesses setores. “Tenho dito há algum tempo que a alta recente da Bolsa brasileira é artificial, e os últimos dias estão mostrando isso. Ainda há bastante espaço para queda”, afirma Sant’Anna.