Com forte exposição ao agronegócio e pagamento recorrente de dividendos, Banco do Brasil segue no radar de investidores de longo prazo. (Foto: Adobe Stock)
Projetar quanto um investimento em ações pode render em um horizonte de cinco anos envolve inúmeras variáveis (macroeconômicas, políticas e setoriais) que tornam qualquer estimativa necessariamente imprecisa. Ainda assim, analistas veem nas ações do Banco do Brasil (BBAS3) um ponto de partida atrativo para quem pensa no médio e longo prazo, combinando potencial de valorização com pagamento recorrente de dividendos.
No curto prazo, a leitura é de que o papel segue descontado. Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank, afirma que o preço-alvo para BBAS3 em 12 meses é de R$ 24,31, o que representa um upside de cerca de 12% em relação às cotações atuais. Segundo ele, somando a valorização esperada ao fluxo de dividendos, o retorno total pode ser relevante.
“Nesse preço, pagando um payout de 30%, a expectativa é de um retorno via dividendos de cerca de 5%. Ou seja, dividendos mais valorização da ação poderiam gerar algo próximo de 17%”, afirma.
Esse desempenho, no entanto, não deve ser linear ao longo do ano. Bresciani explica que a dinâmica operacional do banco tende a melhorar de forma mais consistente a partir do segundo trimestre, com avanços graduais na margem ao longo do ano seguinte.
Parte dessa cautela está ligada ao histórico recente do setor agrícola, que teve impacto direto sobre os resultados do banco.
O analista lembra que, desde 2021, o agronegócio brasileiro atravessa uma sequência de choques adversos. Houve seca e quebra de safra, aumento expressivo no custo dos insumos, preços menos favoráveis das commoditiese, mais recentemente, eventos climáticos extremos, como as enchentes no Rio Grande do Sul no primeiro semestre de 2024 e a seca no segundo semestre. “Tudo isso elevou muito o custo para o produtor e acabou pressionando a inadimplência“, observa.
Esse cenário levou o Banco do Brasil a reforçar provisões e ajustar seus critérios de risco. Ainda assim, Bresciani avalia que o pior ficou para trás. De forma indireta, ele aponta que os indicadores de inadimplência já mostram leve melhora no quarto trimestre e a expectativa é de recuperação gradual, trimestre após trimestre, ao longo dos próximos 12 meses.
Para ele, os problemas recentes não refletem falhas estruturais de gestão. “O que pegou no banco não foi má gestão, mas o setor agrícola e a inflação como um todo. A gente pode continuar acreditando na qualidade dos ativos e na gestão”, afirma.
Quando o horizonte se estende para cinco anos, o grau de incerteza aumenta, especialmente por causa do ambiente político. Milton Rabelo, analista de ações da VG Research, destaca que qualquer projeção nesse prazo carrega elevado risco de erro, mas ressalta que, aos preços atuais, o Banco do Brasil oferece uma relação risco-retorno interessante.
“É possível afirmar que as ações estão baratas e têm bom potencial de valorização e pagamento de dividendos para o médio e longo prazo”, diz.
Hoje, a casa mantém recomendação de compra, com preço-teto de R$ 23,80.
BBAS3 e o desempenho do agro
Rabelo aponta dois grandes vetores que devem determinar o desempenho de BBAS3 nos próximos anos.
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O primeiro é a conjuntura política. Por ser uma empresa controlada pelo Estado, o Banco do Brasil é particularmente sensível aos ciclos eleitorais e às expectativas em relação à política econômica. Uma eventual alternância de poder para um governo mais alinhado ao mercado, segundo ele, reduziria a percepção de risco e os temores de ingerência governamental, o que poderia destravar uma valorização mais expressiva das ações.
Além disso, um cenário de maior responsabilidade fiscal tenderia a abrir espaço para a queda da taxa Selic, estimulando o apetite por ativos de renda variável. Em um ambiente de juros mais baixos, haveria maior fluxo de capital para a Bolsa brasileira como um todo, movimento que também beneficiaria os papéis do Banco do Brasil.
O segundo fator-chave é o desempenho do agronegócio. O BB é líder absoluto no crédito rural, respondendo por cerca de 50% do financiamento agrícola no País, com aproximadamente um terço de sua carteira de crédito ligada ao setor.
Isso faz com que as cotações internacionais das commodities agrícolas tenham impacto direto sobre a saúde financeira dos produtores e, por consequência, sobre os resultados do banco.
“O nível de aquecimento do agronegócio faz muito preço nas ações da instituição”, resume Rabelo.
Embora não seja possível cravar um valor exato para um investimento em BBAS3 daqui a cinco anos, o consenso entre os analistas é de que o papel reúne fundamentos sólidos, valuation atrativo e capacidade de geração de dividendos. Para o investidor que aceita conviver com volatilidade e riscos políticos e climáticos, o Banco do Brasil segue no radar como uma aposta relevante para o longo prazo.