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Adeus aos dividendos do IRB Brasil (IRBR3) em 2025? Veja o que esperar

Tragédia no Rio Grande do Sul pode adiar retomada de pagamentos, apontam analistas

Adeus aos dividendos do IRB Brasil (IRBR3) em 2025? Veja o que esperar
IRB Brasil. Foto: Aline Bronzati/Estadão

O mercado está em dúvida sobre o futuro do IRB Brasil (IRBR3). Entre as recomendações dos analistas para a companhia, a maioria se posiciona como “neutra”, mas uma coisa é consenso: a metamorfose do ressegurador, de patinho feio para empresa pagadora de dividendos, pode não ocorrer mais em 2025, como era esperado pela gestão.

Diante da tragédia no Rio Grande do Sul e de possível impacto projetado entre R$ 80 milhões e R$ 160 milhões, analistas acreditam que se estes números se concretizarem o IRB terá redução no seu lucro e, em consequência, verá seu plano de pagar dividendos ser adiado.

Embora o mercado espere que a companhia tenha lucro em 2024 de R$ 330 milhões a R$ 350 milhões – sem considerar as consequências das enchentes – Marco Saravalle, analista CNPI-P e sócio-fundador da MSX Invest, lembra que, olhando para o passado, a empresa entregou bem menos do que isso.

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Segundo dados da companhia, o lucro líquido acumulado nos últimos 12 meses, até março, era de R$ 184,8 milhões. Ou seja, as enchentes poderiam representar um impacto de 43% do lucro, no mínimo, ou no pior cenário, de 86%. “Principalmente para o investidor de dividendos não vejo nenhum grande atrativo. Pelo contrário, existe um risco gigante de não receber nada e zerar qualquer projeção de proventos em 2025”, avalia Saravalle.

A seguir, veja o que esperar das ações e se vale a pena aproveitar o desconto em IRBR3 de olho em dividendos no futuro.

Como funciona uma resseguradora, como o IRB

Por se tratar de um ressegurador, o IRB acaba assumindo parte dos riscos e dos prêmios de alguns seguros. Renato Reis, analista da Blue3 Research, exemplifica: imagine que a Porto (PSSA3) faz um seguro de R$ 1 milhão para automóveis, mas a seguradora decide que não quer carregar todo esse passivo, pois o tamanho da indenização em caso de sinistro pode colocar a saúde financeira da empresa em risco. Assim, ela divide a responsabilidade por meio de um resseguro com o IRB de R$ 300 mil.

Desta forma, a Porto Seguro vai pagar um prêmio ao IRB pela precaução, mas se ocorrer algum problema quem ficaria com a responsabilidade de pagar o sinistro de R$ 300 mil seria o ressegurador, no caso o IRB. Já a Porto Seguro ficaria responsável por reintegrar os R$ 700 mil ao segurado.

“O ressegurador está exposto aos prêmios recebidos e também aos riscos dos seguros”, destaca Milton Rabelo, analista da VG Research. Segundo ele, quanto maior for a oferta de resseguros, mais as seguradoras poderão assumir riscos de contratos de seguros diretos, porque tem a possibilidade de repassar para uma ou mais resseguradoras parte dos riscos e possíveis indenizações dos sinistros.

Mas elas não são as únicas que podem se garantir. Existe ainda uma modalidade chamada retrocessão, que nada mais é do que as resseguradoras repassando parte das responsabilidades assumidas para outro ressegurador ou até mesmo para seguradoras locais, com o objetivo de proteger o patrimônio, explica Rabelo. No exemplo acima, dos R$ 300 mil ressegurados, o IRB poderia ter optado em repassar R$ 150 mil para outra resseguradora para mitigar seu risco.

E por que esses conceitos são importantes? Porque depende do nível de contratos ressegurados e de retrocessão é que o impacto da tragédia no Sul no IRB será mensurado. Mesmo sendo cedo para calcular esses efeitos, a gestão do IRB já manifestou esperar um impacto inicial de entre R$ 80 milhões e R$ 160 milhões e que muitos dos contratos contam com retrocessão – embora não tenha esclarecido o tamanho dos contratos neste último formato.

O impacto no IRB

Entre as linhas com as quais o IRB trabalha, as que podem vir a ser afetadas pela tragédia no Sul do País são residencial, patrimonial e, parcialmente, a rural, aponta José Daronco, analista da Suno Research. No segmento residencial, Daronco cita que muitos moradores perderam suas casas, enquanto que na esfera patrimonial há danos e perdas com automóveis. Já em relação a seguros de área rural, os contratos mais pressionados devem vir da exposição a lavouras de arroz, na visão do analista.

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Renato Reis, da Blue3 Research, acredita que o principal impacto deve ocorrer na linha residencial. No entanto, a maioria dos analistas consultados pela reportagem destaca que existe uma dificuldade para calcular os impactos dos sinistros no IRB, que devem ficar mais notórios no balanço do segundo trimestre. Por este motivo boa parte adere à estimativa da empresa de R$ 80 milhões a R$ 160 milhões.

Reis lembra, contudo, que desastres naturais nem sempre são cobertos pelos seguros, o que pode fazer com que o resseguro não seja ativado, mas isso levaria a um processo de judicialização dos afetados contra a  empresa. Para o analista, apesar de existirem impactos, não são tão relevantes ao ponto de quebrar o IRB. Ele leva em conta a projeção de um lucro de R$ 350 milhões para 2024, dos quais o impacto da tragédia poderia representar entre 23% e 46% do resultado do ressegurador.

Sobre o número de trimestres que podem ser comprometidos, Reis acredita que o IRB precisará fazer uma provisão já no período que compreende os meses de abril a junho, mas o efeito caixa pode vir a ser sentido um pouco mais na frente. “Acredito que o segundo trimestre deva vir ruim e a partir do terceiro trimestre a situação começa a se normalizar”, aponta. Se houver processos de judicialização para ativar os seguros, os custos seriam sentidos provavelmente em dezembro, avalia Reis.

João Lucas Tonello, analista da Benndorf Research, se mostra mais pessimista e espera que o impacto financeiro no IRB seja equivalente a 11 meses de lucro da empresa, porém inferior a R$ 180 milhões. Milton Rabelo, da VG Research, acredita que as informações ainda são muito preliminares, mas se levando em conta o lucro da empresa no primeiro trimestre, de R$ 79,1 milhões, existem evidências sólidas de que os impactos da tragédia devem ser fortes.

Rendimento de dividendos entre 0% e 5%

Para o ano de 2025, boa parte das projeções para o retorno em dividendos (dividend yield) do IRB ainda está muito pessimista. Entre os analistas consultados pelo E-Investidor, a MSX Invest, a VG Research e a Benndorf Research manifestaram que as projeções de dividend yield estariam em 0% para o próximo ano. “Quanto maiores são as consequências da tragédia, menor tende a ser o lucro corrente, o que pode vir a atrasar o pagamento de proventos programado para 2025”, avalia Rabelo.

Tonello, da Benndorf, destacou que o dividend yield leva em conta os proventos que poderão ser pagos e o preço da ação. E diante da incerteza com a tragédia e a da queda dos papéis IRBR3, fica inviável ter um panorama concreto para fazer as projeções. Segundo dados do TradeMap, no ano de 2024 as ações IRBR3 recuaram 28,06%. Só nos últimos 30 dias, a queda foi de 15,35 %, até fechamento desta quinta-feira (13).

Na contramão do mercado, Reis, da Blue3 Research, tem uma visão mais otimista para os dividendos do IRB e espera que estes cheguem a 5% em 2025, com crescimento de até 7% ou 8% no dividend yield para 2026.

Vale a pena comprar IRBR3?

Olhando para a perspectiva de dividendos, os analistas ainda se mostram um pouco céticos sobre recomendar a compra de IRBR3. Rabelo, da VG, tem uma recomendação neutra ou de manter a ação na carteira e cita que, apesar de impactantes, as enchentes no Sul não mudam a visão da casa sobre a companhia. A VG considera que os principais riscos ainda são de natureza executória do processo de reestruturação do IRB.

Enquanto IRB ainda está engatinhando para voltar a pagar proventos, Rabelo destaca que no setor de seguros há companhias com dividend yields elevados e mais previsibilidade de pagamento de proventos em 2025. São eles BB Seguridade (BBSE3), Caixa Seguridade (CXSE3) e até Porto Seguro (PSSA3), com dividend yields projetados de 11%, 7,5% e 6%, respectivamente, para 2025.

Rabelo cita ainda que, caso os resultados da empresa sigam promissores, a vantagem de investir no IRB estaria em aplicar dinheiro em uma empresa cujas ações ainda são consideradas baratas, negociada a 0,59 vezes preço sobre valor patrimonial (P/VP) em 2024.

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Na Suno, a preferência fica com ativos mais resilientes como o Banco do Brasil (BBAS3), que tem capacidade de entregar um dividend yield de 10%, segundo Daronco. Para o analista, o IRB pode se recuperar, mas não terá a rentabilidade nem crescimento que tinha no passado. “Somos cautelosos e não temos recomendação de compra”, diz.

Na Benndorf Research, a recomendação é de venda das ações e troca por outros ativos mais perenes, como Copasa (CSMG3). Tonello cita que no IRB os principais riscos ficam com a não geração de lucro e a continuidade da desvalorização das ações.

Já na Blue3 Research, a recomendação é temporariamente neutra, mas com possibilidade de ser trocada para compra. O analista está aguardando mais informações sobre as enchentes e seus impactos no balanço do segundo trimestre, mas reforça que, mesmo se houver efeitos, serão temporários e a companhia deve seguir com seu ciclo de recuperação nos próximos anos. “É um efeito não recorrente, depois a companhia estará barata e pagando dividendo, então pode fazer sentido ter o papel”, pontua.

Levantamento de consenso de mercado do TradeMap para o E-Investidor revela que entre outros seis bancos e corretoras que possuem cobertura do IRB, cinco recomendam manter o ativo. O preço-alvo médio do mercado chega a R$ 39,13 para 2024, o que sinaliza um expectativa de recuperação no preço das ações. Apenas duas instituições projetavam dividend yield para IRB neste ano, de 0%. Veja abaixo outras recomendações:

Instituição Recomendação Preço-alvo (R$) Dividend Yield Projetado 2024 (%)
BTG Manter R$ 40,00 0,00%
Santander Manter R$ 31,56 0,00%
Guide Manter R$ 31,00
Terra Manter R$ 40,00
Genial Manter R$ 44,10
BB R$ 48,10

Fontes: TradeMap, bancos, corretoras e researches