- A cotação do dólar varia de acordo com a oferta e demanda do mercado brasileiro sem uma intervenção direta do Estado
- saldo negativo na balança comercial do País e a taxa básica de juros são alguns fatores que influenciam o câmbio
- Alguns setores da economia se beneficiam com a alta do dólar. É o caso das empresas exportadoras
(Por Talita dos Santos de Souza, especial para o E-Investidor) – Ainda que seja sensível e possa demorar para ser percebida, a relação entre a taxa de câmbio do dólar (diferença da moeda para o real) e a inflação (aumento geral e contínuo dos preços do País) é real. Entender o impacto da moeda norte-americana na economia ajuda a planejar gastos e investimentos.
Como funciona o câmbio no Brasil?
O regime de câmbio flutuante determina o funcionamento do câmbio no Brasil. Isso quer dizer que a cotação do dólar varia livremente de acordo com oferta e demanda do mercado brasileiro, sem, necessariamente, uma intervenção direta do Estado nesse sentido.
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Por que o dólar está alto?
Existem diversos fatores que podem levar à alta do dólar e a desvalorização da moeda nacional. O saldo negativo na balança comercial do País é um deles. Isso acontece quando há mais importações do que exportações — a quantidade de moeda estrangeira que entra é menor que a que sai.
A taxa básica de juros (a Selic, no Brasil), que influencia os juros de todas as transações financeiras no País, também tem impacto no câmbio. Quando ela está baixa aqui ou alta nos Estados Unidos, aportar em investimentos brasileiros é menos rentável e eles acabam migrando para fora.
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Por fim, a ida e gasto de brasileiros nos EUA pode pressionar a alta, já que essa atividade consiste na venda de reais e compra de dólares.
Quando a alta do dólar pode ser positiva?
Embora a alta do dólar seja tratada quase sempre como uma ameaça à economia, o fenômeno é visto de uma perspectiva positiva em alguns setores.
É o caso das empresas exportadoras. Com o real mais baixo, as vendas para o estrangeiro tendem a aumentar e, nesses casos, o recebimento, quase sempre em dólar, tem valor superior ao ser cambiado no Brasil.
Turistas de outros países também podem considerar visitar o Brasil, pois o destino fica mais atrativo em termos de custo.
Impactos da alta do dólar na inflação
Produtos que necessitam de insumos importados para sua fabricação, como carros e grãos, tendem a ficar mais caros com o aumento do dólar. Para suprir esse gasto e aproveitar a maior competitividade no mercado exterior por conta da desvalorização do real, as indústrias e produtores tendem a focar em exportação nesse cenário.
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Isso faz com que os produtos vendidos no mercado nacional fiquem mais escassos, ou que seja necessário importá-los para suprir a demanda.
Nos dois casos, a lei da oferta e demanda faz com que as mercadorias fiquem inflacionadas no mercado interno, tornando tudo mais caro para os brasileiros.
Assim, com o mesmo montante de dinheiro anterior, consumidores comprarão menos produtos e isso é o que definimos como inflação.
Em resumo, quanto mais componentes do produto vierem de fora, mais seu valor tende a subir quando o dólar faz o mesmo. No caso daqueles que têm produção totalmente estrangeira, como os eletrônicos, o impacto é maior ainda.
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Quando a alta do dólar não impacta o consumidor?
Via de regra, o dólar elevado sempre vai causar um aumento de preços para o consumidor final, seja em mais ou menos tempo. No entanto, em algumas condições, essa implicação é menor ou nula.
É o que aconteceu em meados de 2020: mesmo com a alta exponencial do dólar na primeira metade do ano, a economia sofreu uma recessão causada pela pandemia de covid-19 (que, até o momento, afetava todo o mundo).
Com menos pessoas comprando e com poder aquisitivo menor, repassar o valor de custo aos clientes se tornou uma prática inviável para empresários — a oferta estava igual ou maior do que a procura.
Nesse caso, o prejuízo foi absorvido pelos fabricantes e/ou vendedores que preferiram reduzir o lucro do que lidar com um abismo ainda maior na demanda.
Impactos da alta do dólar nos investimentos
Com o real desvalorizado em relação ao dólar, investidores de outros países podem passar a enxergar o Brasil como um ponto de investimentos atrativo e seguro. Comprar em uma moeda mais barata que a sua permite ampliar e diversificar as aplicações sem correr muitos riscos.
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Já os brasileiros com investimentos no exterior também ganham quando o dólar sobe: significa que, ao ser resgatada, a aplicação feita na moeda terá um valor maior quando for revertida para real do que quando foi comprada.
Como garantir estabilidade econômica na alta do dólar?
Como o governo brasileiro não tem total controle sobre a alta do dólar, regulado pela economia externa e capital especulativo estrangeiro, é preciso combinar medidas econômicas para garantir o poder de compra dos cidadãos. A chamada “flutuação suja do câmbio” consiste em criar estratégias para evitar uma supervalorização ou depreciação. Isso permite o controle parcial da inflação.
Garantir um mercado interno sólido, principalmente em torno da produção e industrialização de produtos e matérias-primas consumidos em todo o mundo, também é uma tática que, a longo prazo, fortalece a moeda nacional e, consequentemente, reduz os riscos de inflação causada pela alta do dólar ou de qualquer outra moeda.