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Alphatree Capital: É difícil trazer grandes investimentos ao Brasil

Rodrigo Jolig fala sobre medida da CVM que flexibilizará acesso a ativos estrangeiros e expectativas para 2022

Alphatree Capital: É difícil trazer grandes investimentos ao Brasil
Rodrigo Jolig, sócio-fundador da Alphatree Capital (Foto: Divulgação Alphatree)
  • Mirar ativos estrangeiros pode ser uma opção, especialmente porque se espera que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) publique ainda no primeiro semestre de 2022 norma que flexibilizará o acesso a esses fundos
  • O Co-CEO da Alphatree Capital traz a perspectiva sobre como investidores estrangeiros olham para o Brasil

(Murilo Basso, especial para o E-Investidor) –  Apesar da crescente alta da Selic, fixada em 9,25% ao ano na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que pode deixar os entusiastas da renda fixa empolgados, a principal dica de especialistas quando o assunto são investimentos costuma ser “diversifique”.

Neste cenário, mirar em ativos estrangeiros pode ser uma opção, especialmente porque se espera que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) publique ainda no primeiro semestre, a norma que flexibilizará o acesso a esses fundos, hoje autorizados apenas para os investidores qualificados.

Co-CEO da Alphatree Capital, gestora independente fundada em 2021, Rodrigo Jolig conversou com o E-Investidor sobre a medida da CVM. Ele compartilhou suas expectativas para 2022 em relação à economia mundial e, com base em sua vivência no exterior, traz a perspectiva sobre como investidores estrangeiros olham para o Brasil. 

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Jolig tem duas décadas de experiência na mesa de operações de grandes instituições financeiras internacionais, como HSBC e Morgan Stanley, e passou os últimos 14 anos entre Nova York e Londres. Antes de fundar a Alphatree, era responsável global pela área de opções de câmbio para mercados emergentes e da área de opções do banco Morgan Stanley na capital inglesa. Veja os principais trechos da entrevista:

E-Investidor – Há uma expectativa para que a CVM publique em breve a norma que vai permitir que investidores do varejo tenham acesso aos fundos com carteira 100% alocada no exterior – o que atualmente é possível somente para perfis classificados como qualificados. Como o Sr. encara essa mudança?

Jolig – Creio que é bastante positivo. Por que o investidor pode comprar um PDR, mas não pode investir no mercado internacional com o auxílio de gestores experientes, com 20, 30 anos de vivência na área? Não podemos, contudo, deixar de lado a questão da proteção ao investidor. É importante que ele saiba o que está comprando, os riscos que está correndo.

O fato de ter ou não R$ 1 milhão não o protegia em nada. Hoje, a indústria protege o investidor de uma forma que faz com que ele não possa investir em ativos nos EUA, por exemplo, mas possa comprar criptomoedas que em um dia podem não valer quase nada e no dia seguinte valem o dobro. Então é, sim, uma mudança positiva.

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E-Investidor – E qual é a importância do investidor brasileiro também ter um portfólio com exposição no exterior?

Rodrigo Jolig – O movimento de começar a olhar para fora mostra a sofisticação do investidor brasileiro, no sentido de buscar outras alternativas. 2021 foi, de forma geral, excelente para o mundo, mas se analisarmos tanto os ativos em renda fixa quanto em renda variável no Brasil, veremos que houve perdas.

Se ficarmos muito atrelados aos investimentos nacionais, não conseguiremos a diversificação necessária [para um melhor retorno]. É um processo cada vez mais natural e saudável. Se olharmos para o passado, veremos que em 2009, 2010 e 2011 houve um boom de petróleo, com o Brasil encontrando reservas. Atualmente, são os Estados Unidos que vivenciam bons ciclos de investimentos e por isso é preciso olhar para lá.

E-Investidor – O Sr. trabalhou durante muito tempo no exterior. Em alguma medida, os investidores estrangeiros enxergam o Brasil com potencial para a alocação de recursos ou é um movimento ainda muito restrito a “aventureiros”?

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Jolig – Se a perspectiva de crescimento para as economias mais desenvolvidas é de 4%, 5% para este ano, o crescimento previsto para a economia nacional é de 0,36% [segundo o primeiro boletim Focus de 2022]. Na última década, a performance do Brasil tem ficado bastante aquém dos demais mercados, então o país, naturalmente, fica um pouco fora do radar do investidor. É uma pena, porque se formos pensar em commodities metálicas, em petróleo, o Brasil e as empresas nacionais deveriam sair favorecidos. 

De qualquer forma, lá fora o investidor ainda tem aquele sentimento de que o Brasil está um pouco à margem – e como ações em tecnologia estão em alta, há histórias melhores para serem contadas no exterior do que em nosso país. Além disso, a crise da covid-19 teve um impacto muito negativo por aqui. Agora, entretanto, estamos entre os líderes mundiais em vacinação, mas isso ainda é pouco reportado, infelizmente.

E-Investidor – 2022 é um ano chave para o Brasil. Além da baixa expectativa de crescimento e da estimativa de inflação para o ano fixada em 5,03%, teremos eleições presidenciais que prometem alta polarização. Isso impacta na forma como o mercado externo nos enxerga?

Jolig – Por conta das incertezas políticas e econômicas e a baixa perspectiva de crescimento, é difícil trazer grandes investimentos para o Brasil. O mercado está muito atento à China, à Ásia, mas são momentos, são ciclos. Acredito, ao mesmo tempo, que temos feito a lição de casa na parte monetária e avalio que os investidores estrangeiros podem começar a olhar com um pouco mais e carinho para os títulos de renda fixa nacionais. Em termos de bolsa de valores, porém, seria um movimento um pouco mais complicado devido ao cenário macro.

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E-Investidor – O que esperar para 2022 no cenário econômico global?

Jolig – É um ano no qual vamos testar a hipótese da maioria dos bancos centrais mundiais de que grande parte das pressões inflacionárias são transitórias. Se olharmos para a quantidade de estímulos fiscais e monetários que o mundo vivenciou durante a pandemia do novo coronavírus, veremos que só houve algo similar em períodos de guerras, com a destruição de ativos e recursos. Recebemos um “super choque” de estímulos. Viemos também de um choque de oferta e demanda das cadeias produtivas.

Em 2022, observaremos se esse ambiente deflacionário que o mundo vivenciou nos últimos 20 anos continuará ou se essa inércia inflacionária será quebrada e veremos uma inflação mais persistente no mundo desenvolvido. 2022 trará um ambiente econômico mais cauteloso.

E-Investidor – As pessoas costumam confundir cautela com pessimismo, não?

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Jolig – Verdade. Mas as economias estão em pleno emprego, as pessoas estão sendo contratadas, enfim, há demanda. Não precisamos ser pessimistas. O que veremos, provavelmente, serão mais os ajustes de alguns “exageros” otimistas de 2021.

 

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