- A alta dos preços começou com choques específicos de determinados itens, como alimentos, combustíveis e energia, fazendo com que o Banco Central ficasse em dúvida sobre a transitoriedade ou não do movimento
- Houve uma reação do Banco Central, que se viu no papel de ter que desaquecer a economia para controlar a inflação. Com isso, a taxa Selic foi de 2% em 2020 para 11,75%
- O aumento da Selic, por sua vez, trouxe outras duas grandes consequências para o investidor
Passamos cinco longos anos com estabilidade nos preços e ancoragem das expectativas que possibilitaram reduções da meta de inflação pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Eis que a pandemia mudou o curso das coisas. A meta para 2021 era de 3,5%, mas o IPCA fechou em 10,06%, o mais alto dos últimos 10 anos, perdendo apenas para 2015, quando a inflação ficou em 10,67%.
A meta para 2022 será ainda menor, de 3,25%, mas estamos bem longe de alcançá-la, com uma inflação acumulada em 12 meses de 11,30%.
A alta dos preços começou com choques específicos de determinados itens, como alimentos, combustíveis e energia, fazendo com que o Banco Central ficasse em dúvida sobre a transitoriedade ou não do movimento.
Mas, como é de costume no Brasil, o que era circunscrito a determinados itens rapidamente se espalhou para toda a economia. O índice de difusão, que mostra o percentual de itens do IPCA em alta, já chega a 76%.
Esse acontecimento isolado é surpreendente, mas para mim o mais interessante de estudar economia é perceber como uma coisa impacta a outra e como vários acontecimentos diferentes estão umbilicalmente conectados.
Houve uma reação do Banco Central, que se viu no papel de ter que desaquecer a economia para controlar a inflação. Com isso, a taxa Selic foi de 2% em 2020 para 11,75% atualmente.
O aumento da Selic, por sua vez, trouxe outras duas grandes consequências para o investidor.
A primeira foi a valorização do real. Com as nossas taxas de juros voltando a ser as maiores do mundo, nós recebemos um fluxo enorme de recursos e passamos a atrair capital especulativo, valorizando nossa moeda.
A segunda foi o fluxo de investimentos. Com uma taxa “livre de risco” rendendo quase 1% ao mês, os investidores resgataram seus investimentos de risco como bolsa, fundos imobiliários e até criptomoedas, para alocar na segurança da renda fixa.
Não por outro motivo vemos o Ibovespa oscilando no mesmo patamar que estava em dezembro de 2019. Os juros altos e os resgates atrapalham a boa performance da Bolsa. A performance fraca das ações acaba deixando o comparativo com a renda fixa ruim, estimulando ainda mais saques.
Percebe como tudo está interligado e começou com um choque de oferta em produtos específicos?
Entender economia e seus impactos e consequências é crucial para o pequeno investidor. Principalmente porque a economia e os ciclos econômicos ditam se aquele ativo específico será bom ou ruim no momento atual.
Há ativos que se beneficiam de um cenário de crescimento econômico, como ações. Outros vão bem em cenários de crise, como o dólar. Há ainda aqueles que se beneficiam de cenários inflacionários, como a renda fixa.
Mas não há nenhum ativo que se beneficia em todos os cenários.
Estar no ativo certo, no momento econômico correto, é a melhor coisa que você pode fazer pelo seu patrimônio.
Os investidores gastam muito tempo tentando prever qual a ação ou cripto que mais vai subir, mas desconsideram completamente o efeito de uma boa alocação.
Frequentemente vejo investidores alocando em ativos que performaram bem no passado, como se isso fosse um selo de potencial para o futuro. Mas na prática não funciona assim. A economia acontece em ciclos, e o que performou bem em um ciclo passado provavelmente não irá performar bem no futuro.
O ativo que mais subiu por conta de um ciclo de crescimento pode ser o ativo com maior potencial de queda no ciclo posterior. Foi o que vimos, por exemplo, com Magazine Luiza. A ação acelerou muito em uma época de crescimento do consumo, e depois andou de ré com o aumento de juros.
A carteira dos investidores acaba sendo uma grande sequência de aceleração e ré, ao invés de ser uma tendência de alta.
Estar atento aos ciclos não significa fazer daytrade ou swing trade. Os ciclos duram alguns anos. As vezes uma década.
É como um piloto de Fórmula 1. Ele não para em todas as voltas da corrida para abastecer e trocar os pneus. Mas se chove, é preciso parar, pois as coisas mudaram, e isso atrapalha a performance.
A sua carteira não precisa ser revisitada todo ano. Mas é importante de vez em quando parar e se readequar ao cenário.
Você faz isso? Vamos começar a fazer? Porque como eu mostrei acima, a inflação muda tudo. E o cenário mudou! Não só aqui no Brasil, mas em todo o resto do mundo estamos no ano da inflação.
Você tem que estar preparado.