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Fed eleva juros em 0,5%. O que vem agora e quais os impactos na Bolsa?

Ajuste acelera ciclo de alta nos juros nos EUA, que pode influenciar os mercados globais e o Ibovespa

Fed eleva juros em 0,5%. O que vem agora e quais os impactos na Bolsa?
'Superquarta': dia de alta de juros no Brasil e nos Estados Unidos. (Foto: Envato)
  • Enquanto no Brasil espera-se que a decisão do Copom eleve a Selic em um ponto percentual, para 12,75% ao ano, nos Estados Unidos o ciclo de alta nos juros parece estar apenas começando
  • Nesta quarta-feira (4), o Federal Reserve elevou a taxa básica de juros do país em 0,5%, seguindo o consenso de mercado

Este 4 de maio é mais uma “superquarta”, apelido dado pelo mercado financeiro às quartas-feiras em que coincidem as reuniões de política monetária do Brasil e dos Estados Unidos.

Enquanto, no Brasil, espera-se que a decisão do Copom eleve a Selic em um ponto percentual, para 12,75% ao ano, nos Estados Unidos o ciclo de alta nos juros parece estar apenas começando.

O Federal Reserve elevou a taxa básica de juros do país em 0,5 ponto percentual, seguindo o consenso de mercado, para o intervalo entre 0,75% e 1%. A decisão acelera a trajetória de aperto monetário nos EUA, iniciada na última reunião quando o FOMC (Federal Open Market Committee) elevou a taxa em 0,25 pontos percentuais – o primeiro reajuste nos juros no país desde 2018.

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Assim como no Brasil, o aperto monetário por lá é uma tentativa de conter o avanço da inflação, que já chega a 8,5% ao ano, o maior valor no país em 40 anos.

Além dos juros, a decisão desta quarta-feira marca uma interrupção de parte dos estímulos impostos pelo governo americano durante a pandemia para manter a economia aquecida durante o período. A ideia é retirar liquidez dos mercados e, assim, reduzir o ritmo da atividade econômica nos Estados Unidos.

Após a reunião, os integrantes do comitê de política monetária dos EUA destacaram que a inflação “permanece elevada, refletindo desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia”, mas garantem que “o Comitê busca alcançar o máximo de emprego e inflação à taxa de 2% no longo prazo”.

O anúncio do novo patamar dos juros foi bem recebido pelo mercado. Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, explica que o FOMC não costuma ser muito severo ou explícito no anúncio da decisão monetária, mas, como o mercado esperava alguma sinalização já no comunicado, pode parecer que o tom foi menos severo do que se imaginava. Logo após a reunião, porém, o tom adotado pelo presidente do Fed Jerome Powell chamou a atenção.

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“A coletiva do Powell está deixando claro que o viés é de mais juros, com aumento de 0,5% nas próximas duas reuniões. Ele foi bastante taxativo ao dizer que o compromisso é trazer a inflação para baixo”, destaca Olivares.

A expectativa, agora, é que o ciclo de alta de juros se estenda por, ao menos, 18 meses até que o Fed atinja seu objetivo de trazer a inflação de volta para o patamar de 2% ao ano. “Os argumentos gerais sinalizam um rigor maior com a inflação por parte do Banco Central, mas a pergunta que os mercados estão fazendo agora é se o FED terá coragem para subir com os juros para um nível contracionista e esfriar a economia”, questiona João Beck, economista e sócio da BRA.

Impactos no Ibovespa

Por se tratar da maior economia e mercado financeiro do mundo, o que acontece nos Estados Unidos costuma reverberar em todos os mercado globais. Com os juros, não vai ser diferente.

Embora, no Brasil, a expectativa geral do mercado seja de que o BC realize apenas mais um reajuste antes de encerrar o ciclo de altas nos juros, um tom mais contracionista nos Estados Unidos poderia atrapalhar os planos.

Fabio Louzada, economista, analista CNPI e fundador da escola Eu Me Banco, explica que existe uma possibilidade de o Fed adotar um discurso mais hawkish, acelerando o aperto monetário em 0,75% já na próxima reunião. Nesse caso, ficaria mais difícil para o Brasil encerrar o ciclo de altas. “Não tem como o Brasil decidir pelo fim do aperto monetário se os EUA continuarem subindo forte a taxa de juros. Tudo vai depender muito da próxima ata do FED. Se a inflação está alta e os juros nos EUA subindo, acredito que no Brasil devemos fechar o ciclo de alta em 13,50%”, afirma Louzada.

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Existe ainda uma discussão quanto à forma como o mercado americano reagirá ao aumento de juros e fim dos incentivos monetários. Se a inflação não corresponder à movimentação ou a economia desacelerar muito rápido, os EUA poderiam entrar em recessão. “Se o Fed demorar a combater a inflação poderia ter uma recessão mais aguda. E isso teria um impacto mais danoso para os mercados, inclusive o brasileiro”, pontua Ricardo França, analista da Ágora Investimentos.

Para além dos aspectos macroeconômicos, o desempenho das bolsas de valores também pode ser afetado a depender do cenário. A entrada de fluxo de capital estrangeiro foi determinante para os bons resultados do Ibovespa no primeiro trimestre. Em abril, porém, essa tendência se reverteu, com a saída de R$ 5,3 bilhões de investimentos gringos da B3 – e o resultado do mês foi o pior desde março de 2020, com queda acumulada de 10,1%.

Felipe Reymond Simões, diretor de Investimentos da WIT Asset, lembra que, historicamente, os países emergentes se beneficiam do aumento da taxa de juros nos Estados Unidos. “Muito provavelmente, em algum momento vamos ter um fluxo de saída mais forte da bolsa americana. Boa parte desse fluxo estrangeiro é de investidores grandes e institucionais, que precisam entregar uma taxa mínima de rentabilidade para os seus cotistas”, diz. E o Brasil, além de já estar avançado no ciclo de juros, tem ativos de bolsa muito descontados, o que pode ser um cenário atrativo para investidores estrangeiros.

Por outro lado, a elevação dos juros nos EUA aumenta a rentabilidade da renda fixa por lá. Se os Estados Unidos já são conhecidos como um porto seguro para os investimentos, agora podem parecer ainda mais interessantes. E isso pode levar a uma migração de recursos ainda maior para as bolsas americanas.

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“Aumentando juros, acaba se tornando mais atraente comprar títulos americanos, ativos de menos risco que vão pagar um prêmio maior. O Brasil já vai sofrer provavelmente no segundo semestre por causas internas com a eleição, e o investidor não gosta de incerteza”, alerta Vinicius Telló, sócio e head de offshore da gestora 051 Capital.

E quem tem ativos no exterior?

O início do ciclo de alta nos juros nos Estados Unidos também pode estar preocupando os investidores que têm parte da carteira de investimentos alocada no exterior. O aumento dos juros costuma prejudicar alguns ativos de risco e empresas de crescimento, mas, dada a volatilidade do mercado, este momento pode ser ideal para manter as posições.

“Minha sugestão é ficar como está. Não aproveitar as quedas de preço para comprar mais, nem sair liquidando os ativos. O mais conveniente nesse momento é manter as posições, porque vai ter muita volatilidade e esse estresse nos mercados vai continuar”, orienta Gino Olivares, da Azimut Brasil.

Com foco na diversificação dos investimentos a longo prazo, o investidor pode aproveitar o momento para avaliar a composição da carteira e, quem sabe, planejar movimentos futuros. Passada a volatilidade, vão surgir oportunidades para quem souber esperar, diz Vinicius Telló, da 051 Capital. “Se desfazer de ativos que provavelmente vão sofrer muito com os juros, como aquelas empresas pequenas de tecnologia que não geram caixa. O resto é olhar caso a caso e esperar que, depois dessa tormenta, vão surgir boas oportunidades de compra”, afirma.

Carlos Vaz, CEO e fundador da Conti Capital, gestora de investimentos em real estate, especializada no mercado multifamily nos EUA, orienta que o investidor tenha em mente um ensinamento de Warren Buffett: “nunca perca dinheiro”. Nesse sentido, a diversificação internacional faz sentido mesmo com o aperto monetário nos Estados Unidos.

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“É preciso concentrar-se em estratégias que minimizem perdas e tirem o risco da mesa. Em momentos de volatilidade econômica, ter uma diversificação de investimentos é fundamental e prudente. Se for em dólar é ainda mais relevante”, diz.

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