- O circuit breaker faz com que as operações na Bolsa sejam paralisadas por um tempo determinado após atingirem um patamar de queda
- Em quedas de 10% no Ibovespa, o primeiro circuit breaker congela as operações por 30 minutos. Em caso de queda de 15%, pausa nas operações por 1 hora. E quando a bolsa cai 20%, um terceiro circuit breaker é acionado, paralisando as operações por tempo indeterminado
- Diante da atual aversão ao risco, investidores temem que fortes quedas façam com que as negociações na Bolsa sejam paralisadas novamente
Em 1997, quando o mercado temia o colapso das economias do mundo diante da Crise Asiática, a Bolsa de Valores brasileira, que ainda chamava Bovespa, utilizou um mecanismo para acalmar os ânimos do mercado em momentos de pânico: o circuit breaker.
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A ferramenta faz com que as operações na bolsa sejam paralisadas por um tempo determinado após atingirem um patamar de queda. Na época, o paulista Fábio Pilon era operador de pregão e foi responsável por apertar o botão da impressora que imprimia os últimos negócios, congelando as negociações por 30 minutos.
Ele conta que apesar do tombo do mercado, que fez a Bovespa parar de negociar ações durante o resto do pregão, o clima era de entusiasmo.
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“O surreal é que, quando deu tudo certo, nós pulamos de alegria porque o sistema funcionou. Estavam filmando a queda da Bolsa e nós estávamos pulando de alegria”, conta Pilon.
Quase 25 anos depois, o mecanismo já foi acionado 24 vezes em seis momentos históricos. Pilon esteve presente nos quatro primeiros: na Crise Asiática, em 1997; Crise da Rússia, em 1998; Câmbio Flutuante, em 1999; e na Crise do Subprime nos Estados Unidos, em 2008.
O quinto circuit braker ocorreu em 2017, quando foi divulgada uma conversa do então presidente Michel Temer (MDB) com o empresário Joesley Batista, e ficou conhecido como “Joesley Day”. A lista inclui ainda o período que marca o início da pandemia de covid-19, no Brasil, quando o sistema foi acionado seis vezes, em março de 2020.
A ferramenta funciona da seguinte forma: em quedas de 10% no Ibovespa, o primeiro circuit breaker congela as operações por 30 minutos. Em caso de queda de 15%, pausa nas operações por 1 hora. E quando a Bolsa cai 20%, um terceiro circuit breaker é acionado, paralisando as operações por tempo indeterminado.
Agora, diante da aversão ao risco que vem contaminando o Ibovespa, o medo de que fortes quedas façam com que as negociações na Bolsa sejam paralisadas novamente começa a ser observado como uma possibilidade por parte dos investidores.
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A inflação tem pressionado os países a adotarem políticas monetárias mais duras, aumentando a taxa de juros, o que penaliza as bolsas do mundo.
Na segunda-feira (13) as bolsas do exterior sofreram quedas acentuadas. Em Nova York, o Nasdaq chegou a cair 4,68%. Dow Jones e S&P 500 registraram baixas de 2,79% e 3,87%, respectivamente. Já na última terça-feira (14), o Ibovespa registrou queda de 0,52%, a oitava baixa seguida do índice, o que não ocorria desde agosto de 2015.
“É sempre possível ter Circuit Breaker. Teve em 2008 e estamos em um cenário um pouco parecido, com muita gente achando que pode ter uma recessão nos Estados Unidos, o que obviamente poderia gerar uma nova crise no mercado financeiro”, avalia Fernando Siqueira, head da research da Guide Investimentos.
Ele salienta que, apesar do aumento na volatilidade, ainda estamos longe de alcançarmos o patamar necessário para que a ferramenta seja acionada.
Apesar do péssimo desempenho recente, Pilon, que atualmente trabalha como assessor de investimentos da Aplix Investimentos, entende que um congelamento das negociações não deve ocorrer em breve.
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Segundo ele, o Banco Central brasileiro conseguiu antecipar a resposta à inflação, utilizando a Selic como freio, o que evitou uma pior situação no atual momento.
“O que vemos hoje são os Estados Unidos e a Europa com mais dificuldade de lidar com a inflação do que o Brasil. Eles tiveram dificuldade de admitir que a inflação estaria alta”, diz Pilon.
Nesta quarta-feira (15), tanto o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, quanto o Comitê de Política Monetária (Copom), no Brasil, se reunirão para discutir a política monetária dos países.
Eduardo Plastino, sócio da Alta Vista Investimentos, afirma que, apesar da possível recessão dos Estados Unidos, cenários de piora gradativa no cenário macroeconômico não tendem a levar ao circuit breaker, por não possuir o fator surpresa, e sim a quedas mais longas e menos abruptas, como as observadas no Brasil e no exterior.
Segundo ele, um circuit breaker poderia ocorrer em caso de outras invasões por parte da Rússia, na guerra contra a Ucrânia; outras guerras que ainda não estão no radar; ou algo “grave” vindo do Federal Reserve (Fed), como alguma sinalização de que serão diversas altas da taxa de juros de 0,75%, 1%, o que está longe de ser precificado pelo mercado.
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“Isso com certeza se vier de um dia para o outro pode causar uma queda muito forte no mercado internacional. No cenário nacional, apenas algo que mude drasticamente os rumos das eleições de forma negativa ou que comprometa totalmente a questão fiscal do País pode gerar tal movimento”, observa Plastino.
“Pode ser precipitado imaginar que o atual cenário imponha mudanças bruscas a ponto de despertar movimentos extremos e inesperados, como foi no “Joesley Day”, em 2017, quando ocorreu a delação do dona da JBS (Joesley Batista), e dos eventos correlacionados ao coronavírus, em 2020”, explica Alexsandro Nishimura, economista e head de conteúdo da BRA.
O Circuit Breaker é eficaz?
De acordo com Matheus Jaconeli, analista de investimentos da Nova Futura Investimentos, o circuit breaker evita que negócios sejam feitos de forma enviesada por conta do receio em ver a Bolsa caindo de forma muito intensa. “A medida tem sua eficácia, pois com a paralisação, os investidores podem fazer sua realocação”, diz Jaconeli.
Os especialistas consultados pelo E-Investidor foram unânimes em afirmar que o mecanismo é importante em momentos de forte queda. Naor Coelho, trader de renda variável da Infinity Asset, afirma que, diante de um cenário de estresse de mercado, o mecanismo ajuda os investidores a respirarem e entenderem melhor o que está acontecendo.
“Dá o tempo necessário para o investidor rever suas posições e fazer ajustes necessários, evitando que o mercado continue numa tendência de queda desnecessária por conta de um movimento de euforia”, afirma Coelho./Colaborou Abel Serafim