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Comportamento

Por que a inflação nos Estados Unidos é a maior em 41 anos?

A inflação nos Estados Unidos saltou 8,6% nos últimos 12 meses

Por que a inflação nos Estados Unidos é a maior em 41 anos?
O Fed pretende continuar aumentando os juros nos EUA em 2022, porém em um ritmo menor. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)
  • A inflação nos Estados Unidos acelerou em 2022, impulsionada pelo avanço de preços no aluguel, no combustível e na alimentação.
  • Os desequilíbrios entre a oferta e a demanda, além do crescimento de custos de produção e transporte, foram os principais fatores que contribuíram para a alta inflacionária.
  • Para conter a inflação, o Fed elevou a taxa de juros. No entanto, a medida pode provocar uma recessão econômica.

inflação nos Estados Unidos, mensurada pelo Consumer Price Index (CPI), registrou em maio um avanço de 8,6% no acumulado de 12 meses. Essa é a maior alta inflacionária no País desde dezembro de 1981, quando o índice cresceu 8,9%.

O aumento de preços foi geral, mas o aluguel, combustível e alimentação tiveram maior peso no resultado, de acordo com o Bureau of Labor Statistics (BLS). Entre os itens individuais, a cotação do diesel teve o maior crescimento, com uma alta de 106,7% no último ano.

O movimento não é exclusivo dos Estados Unidos, atingindo também a Europa e o Brasil. “A consequência é uma provável recessão, a depender da política monetária e dos ajustes de preços”, diz a professora Giovanna Mendes, da Universidade Positivo (UP).

Por que a inflação nos Estados Unidos acelerou?

Alta da inflação nos Estados Unidos está relacionada aos movimentos econômicos durante a pandemia de covid-19. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

A inflação nos Estados Unidos oscilou entre 2% e 4% anuais nas últimas três décadas. No início da pandemia de covid-19, em março de 2020, o índice inflacionário se aproximou de zero. A distribuição das vacinas proporcionou uma retomada econômica. Os preços começaram a avançar em abril de 2021, com uma aceleração maior a partir de outubro do mesmo ano.

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Entenda quais foram os fatores que contribuíram para a alta de preços nos EUA.

1. Redução da oferta

A paralisação das atividades por conta da pandemia derrubou a demanda. Para se adaptar, as cadeias produtivas reduziram o fornecimento de matérias-primas. “O resultado foi o aumento generalizado dos preços por conta de uma escassez”, afirma Graziela Fortunato, coordenadora da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Em abril de 2020, por exemplo, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) diminuiu a produção de barris de petróleo para dar suporte ao preço das commodities. Com as sanções contra a Rússia devido à guerra na Ucrânia, a oferta no mercado global do produto caiu mais uma vez.

2. Estímulos financeiros

O governo dos Estados Unidos buscou evitar a recessão econômica em função da crise sanitária com a distribuição de benefícios a negócios e consumidores. Em abril de 2020, o Federal Reserve (Fed) injetou US$ 500 bilhões para conter problemas de financiamentos das empresas, um dos maiores estímulos financeiros da história do país.

As medidas também incluíram auxílio emergencial e corte de impostos para atenuar a queda de renda das famílias. “Essas iniciativas tinham o objetivo de manter o dinheiro em circulação, porém, quanto maior a quantidade de moeda circulando, maior é a pressão sobre os preços”, diz Mendes.

3. Retomada da demanda

Oscilações na oferta e na demanda de petróleo contribuem para aumento de preços. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

Durante a quarentena, os gastos dos consumidores ficaram represados. Com a retomada das atividades, a demanda por produtos explodiu, mas o nível de oferta não conseguiu acompanhar o movimento. “O tempo de adequação da cadeia produtiva é mais lento do que o aumento do consumo”, diz Mendes.

No início de 2022, o consumo mundial de petróleo superou o nível pré-pandêmico, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA). No entanto, o volume refinado ainda está ligeiramente abaixo do patamar de 2019. Os EUA respondem por cerca de um quinto da demanda global e são os principais afetados por esse desequilíbrio.

4. Elevação dos custos

Além do aumento de preço por conta da demanda, a inflação nos Estados Unidos é afetada pela elevação dos custos de produção. A escassez de matéria-prima provoca um aumento de gastos em efeito cascata na cadeia produtiva. Os alimentos, por exemplo, sentiram o impacto da alta dos fertilizantes e de outros insumos.

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“Com o lockdown da China mais amplo em 2022, houve um atraso nas entregas das mercadorias com navios atracados nos portos chineses”, afirma Mendes. O número de contêineres não supriu a demanda, o que gerou cancelamentos e adiamento de entregas, elevando os preços dos fretes.

O que está sendo feito para diminuir a inflação?

O Fed está elevando os juros para tentar conter a inflação, uma receita tradicional nas economias liberais. No primeiro semestre de 2022, a taxa saltou de entre 0% e 0,25% ao ano (a.a.) para 1,5% e 1,75% a.a. Somente em junho, houve um avanço de 0,75 pontos percentuais, o maior aumento desde 1994.

“A taxa de juros está subindo e não está contendo o efeito inflacionário com tanta eficiência”, analisa Fortunato. Essa política monetária tem um impacto de curto prazo, mas o país não deve suportar um nível tão alto durante muito tempo, pois pode acabar tendo um resultado de recessão na economia, como admitiu o presidente do Fed, Jerome Powell.

Impacto na economia global

A alta da taxa de juros nos Estados Unidos provoca o encarecimento dos financiamentos, o que leva à redução dos investimentos. Além disso, induz uma queda do consumo. Esses dois fatores puxam o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para baixo, gerando mais dificuldade para a saída da crise financeira.

Os recursos investidos de países emergentes podem migrar para os EUA. “Os investidores preferem aplicar no mercado financeiro que tenha retorno alto com riscos mais baixos”, considera Fortunato. Contudo, por aqui, a taxa do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) foi aumentada para 13,25% ao ano antes dos juros americanos, o que ajuda a conter a fuga de capitais.

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