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- Com a alta da Selic jogando a rentabilidade dos títulos públicos para o maior nível dos últimos cinco anos, muita gente decidiu investir neles
- Esse reajuste nos juros veio para conter a inflação, que acumula 11,89% de alta em 12 meses. Com isso, o conservador Tesouro Selic, que acompanha justamente a variação dos juros, está entregando mais de 1% ao mês e sem risco
Em maio de 2022, o número de investidores ativos no Tesouro Direto era de 1,9 milhão – uma alta de 54,8% em dois anos (desde maio de 2020) e de 90,8% nos últimos três anos (desde maio de 2019). Apesar de os números oficiais não terem sido divulgados, a expectativa é que o número de participantes tenha ultrapassado 2 milhões em junho.
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Essa escalada de investidores no programa de compra e venda de títulos públicos de Secretaria do Tesouro Nacional do Brasil ocorre por dois fatores. Na visão de Christopher Galvão, analista da Nord Research, o primeiro deles diz respeito ao maior interesse da população brasileira por investimentos de modo geral.
Mesmo em um ambiente econômico incerto e com o Ibovespa caindo 6% em 2022, o número de investidores da B3 também não parou de aumentar mês a mês.
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Hoje, são mais de 5,2 milhões de CPFs cadastrados na bolsa, ante 1,7 milhões no final de 2019. “Ainda tem muito a ser feito para democratizarmos os investimentos no Brasil, mas esse maior interesse vem sendo criado principalmente por parte dos jovens”, afirma Galvão.
Novo cenário para investidores
Com a alta da Selic jogando a rentabilidade dos títulos públicos para o maior nível dos últimos cinco anos, muita gente decidiu investir neles. A taxa básica da economia saiu do patamar de 2% ao ano, em março de 2021, para os atuais 13,25% ao ano.
Esse reajuste nos juros veio para conter a inflação, que acumula 11,89% de alta em 12 meses. Com isso, o conservador Tesouro Selic, que acompanha justamente a variação dos juros, está entregando mais de 1% ao mês e sem risco.
Os prefixados (taxa fixa ao ano) e IPCA+ (que paga a variação da inflação mais uma taxa prefixada) também estão com prêmios bastante elevados.
“Os títulos ficaram mais atrativos e com a volatilidade nas bolsas há uma saída de ativos voláteis para ativos menos voláteis”, ressalta Yuri Cavalcante, sócio e assessor da Aplix Investimentos.
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Essa também é a visão de Orlando Bachesque, assessor de investimentos da Alta Vista Investimentos. Ele explica que entre 2016 e o início de 2020, as taxas de juros no Brasil caíram bastante, o que fez com que as pessoas buscassem mais ativos de renda variável.
“Porém, pós-covid-19, os investidores sofreram demais com a volatilidade, muitos passaram a voltar para a renda fixa. E depois que a inflação veio, as taxas de juros dispararam e isso começou a dar notoriedade para esses a renda fixa, principalmente para o Tesouro, que é o melhor pagador. O melhor pagador de um país é o próprio país”, salienta Bachesque.
Como investir no Tesouro Selic?
Para Galvão, da Nord, a melhor opção para o momento é o Tesouro Selic, o mais conservador entre as três categorias de títulos disponibilizadas pelo Tesouro Direto. Isto porque tanto o prefixado quanto o IPCA+ podem dar prejuízo ao investidor se forem vendidos antes do vencimento.
Esses ativos sofrem a chamada ‘marcação a mercado’, ou seja, podem apreciar ou desvalorizar conforme as expectativas macroeconômicas. Em termos gerais, quando é esperado que os juros subam, os títulos prefixados e IPCA+ tendem a desvalorizar. Quando o inverso acontece, o esperado é que os preços se elevem.
Os papéis com vencimentos mais longos são os que apresentam as maiores oscilações e podem imputar as maiores perdas em caso de vendas antecipadas. O Tesouro IPCA+ 2045, por exemplo, já acumula uma desvalorização de 29% em 12 meses.
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Isso significa que se o investidor que comprou o IPCA+2045 em julho de 2021 precisar vender esse título hoje, em vez de resgatar no ano acordado, amargará prejuízos de quase 30%.
“Em um cenário de incertezas, eleições e risco fiscal, pode acontecer movimentação nas taxas de mercado. Então é melhor o Tesouro Selic, que tem liquidez e estará pagando quase 14% ao ano”, afirma Galvão.
Esses cuidados são ressaltados por Caio Tonet, head de renda variável da W1 Capital. “Os pós-fixados acabam sendo os mais seguros de todos. Para prefixados e IPCA+, o investidor deve cuidar em relação ao prazo, porque existem prazos muito longos, especialmente nos indexados à inflação. E se o investidor precisar desse dinheiro antes do vencimento, deve considerar a marcação a mercado.”
A carteira recomendada de títulos públicos da Ágora Investimentos para julho traz uma distribuição de 65% para títulos indexados à inflação com vencimento em 2026 (o mais curto disponível para compra) e 35% em Tesouro Selic. Novamente, os cuidados quanto ao vencimento dos papéis IPCA+ são ressaltados.
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“Reiteramos que a nossa sugestão é manter o título até o vencimento, sendo que se não for essa a estratégia de investimento, a alocação somente em Tesouro Selic deve ser analisada”, diz a Ágora em relatório.