- A reserva de emergência é uma espécie de “colchão” financeiro para imprevistos
- Por conta da inflação atual, porém, as reservas tendem a ficar em segundo plano. Mas não é porque os custos estão altos que os imprevistos deixam de acontecer
- Por mais que pareça difícil, alguns conselhos podem ajudar a manter essa reserva em dia
Se alguma coisa acontecesse com você hoje, seja uma demissão ou até mesmo um acidente, por quanto tempo você conseguiria manter o mesmo padrão de vida atual? Se ao pensar nisso você ficou preocupado, é hora de planejar melhor a sua reserva de emergência.
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Trata-se de uma espécie de “colchão” financeiro para cobrir imprevistos, muito comum e recomendado por especialistas do mercado como um passo anterior aos investimentos em renda fixa ou variável. Em tempos de inflação alta, porém, esse valor fundamental para organizar as finanças pessoais pode estar sendo deixado de lado.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal medida de inflação do País, subiu 0,67% em junho e acumulou alta de 11,89% em 12 meses. O aumento nos preços é sentido nas idas ao supermercado, na hora de abastecer o carro ou de pagar as contas essenciais – e tem obrigado muita gente a remanejar o orçamento do mês, deixando de lado aquela parcela que antes era poupada para imprevistos.
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Mas essa não é a orientação dos especialistas. Em um cenário ideal, a alta dos preços é um momento em que manter a reserva de emergência se torna ainda mais importante, pois não é porque os custos estão altos que os imprevistos deixam de acontecer.
“Quando a gente está saudável, nos permitimos comer coisas não tão saudáveis assim. Mas quando estamos passando por alguma fragilidade nutricional, é preciso evitar durante um tempo o consumo de coisas que podem prejudicar esse quadro. O momento é um pouco disso, só que o enfraquecimento é financeiro”, compara Paula Bazzo, planejadora financeira CFP pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar).
A ideia portanto é revisar os gastos e se adequar ao novo contexto de inflação enquanto ele durar. E, de preferência, sem deixar de guardar a reserva de emergência. “A lógica da construção de reserva não é guardar o que sobra. Mas, dentro da sua estrutura de ganhos, destinar um percentual para a reserva”, diz a planejador
1. Calcule os custos mensais
A reserva de emergência é um objetivo financeiro que costuma ser dimensionado de acordo com o custo de vida de cada investidor por um determinado período de tempo, geralmente de seis a 12 meses. Uma vez atingido o valor estipulado, essa reserva não precisa ser abastecida mensalmente, apenas naquelas ocasiões em que parte do valor for gasto, explica Jaqueline Benevides, analista de renda fixa do TC Matrix.
Para estipular um valor para essa reserva, é importante mapear os gastos mensais. “Se meus custos são de R$ 2,5 mil por mês, minha reserva de emergência deve ser: R$ 2,5 mil X 6 meses. Um total de R$ 15 mil. Caso o trabalho seja informal ou a fonte de renda da pessoa não seja estável ou recorrente, esse cálculo muda e a reserva deve estar na casa de 12 meses de custos”, diz Benevides
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A especialista reforça que esse montante deve ser construído aos poucos, mês a mês, até que o valor estipulado seja alcançado.
2. Quite as dívidas
A reserva de emergência vai ser pouco eficaz se o investidor tiver dificuldade para fechar o orçamento todos os meses. Pagamento de dívidas, contas atrasadas, taxas exorbitantes; tudo isso pode atrapalhar. Por isso, uma das dicas é, na hora de mapear os custos mensais, rever e organizar o que se deve para planejar o pagamento o quanto antes.
“Dívidas de cartão de crédito, por exemplo, tiveram juros de até 350% em 2021, o que na prática pode ter um impacto catastrófico nas finanças pessoais. Nesses casos, vale a pena buscar empréstimos em outras instituições, com melhores taxas e condições, para cobrir esses débitos e, depois, conseguir quitar as pendências mais rapidamente”, aconselha Ollé Widén, CEO da Finanzero, fintech de busca de empréstimos on-line.
3. Corte alguns gastos
Com o custo de vida aumentando, pode ser a hora de repensar algumas decisões de consumo. Substituir uma marca por outra ou reduzir a frequência de consumo de determinados produtos, por exemplo. É o caminho preferido da maioria dos consumidores? Não, mas ajuda a aliviar o orçamento.
“Infelizmente a premissa de abdicar serve para períodos de juros e inflação altos. Temos que mudar alguns padrões, cortar alguns gastos supérfluos e migrar conforme os preços mudam”, diz Benevides, do TC Matrix.
Essa também é a dica de Paula Bazzo, da Planejar: “Eventualmente, substitua uma marca ou reduza a frequência de consumo de determinadas coisas. Avalie levar a própria marmita para o trabalho, por exemplo”, diz.
4. Guarde uma parte do dinheiro assim que receber o salário
Uma regrinha bastante utilizada por investidores é a 50-30-20. Na prática, funciona como uma meta para a alocação da renda mensal: 50% em gastos essenciais, 30% nos variáveis e 20% destinado aos investimentos, incluindo a reserva de emergência.
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Para conseguir colocar essa meta em prática, Widén, da Finanzero, orienta que os 20% destinados à reserva e investimentos sejam separados assim que a remuneração ou salário caia na conta. “Isso porque, quando se espera o dinheiro ‘sobrar’, é mais difícil conseguir aplicá-lo, pois outras demandas – e tentações – surgem”, diz.
5. Foque em investimentos atrelados à inflação
Com os custos mensais sob controle e parte da renda sendo separada para emergências, é preciso pensar onde guardar esse dinheiro. É possível encontrar boas opções, de baixo risco e com liquidez para que o valor possa ser retirado assim que necessário, além de oferecer um rendimento mensal.
O Tesouro Direto, por exemplo, é ainda mais seguro que a poupança e rende mais, destaca Ollé Widén, da Finanzero. Com a inflação em alta, o especialista destaca aquelas opções indexadas ao IPCA, como o Tesouro IPCA+, para guardar as reservas. “Esses investimentos garantem que o investidor mantenha seu poder de compra ao longo do tempo, justamente por acompanhar esse índice”, explica.