- Os números de 2022 mostram que, até fevereiro, o País recebia uma enxurrada de recursos externos, considerando o canal financeiro, que mostra a movimentação em renda fixa e ações
- Em março, houve saídas líquidas de US$ 4 bilhões pelo canal financeiro, coincidindo com a invasão da Ucrânia pela Rússia e o início da elevação dos juros nos Estados Unidos
- Dois fatores vão contra os emergentes neste momento: o dólar mais forte e os temores de uma desaceleração no crescimento global
Altamiro Silva Júnior e Aline Bronzati, correspondente – A aceleração da alta dos juros pelos bancos centrais dos países desenvolvidos está intensificando a saída de capital do mercado financeiro dos países emergentes, incluindo o Brasil.
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Julho caminha para ser o quinto mês consecutivo de fuga de recursos da região, nas bolsas e na renda fixa, o que se confirmado deve ser o maior número de meses consecutivos de retiradas de dinheiro já registrado por estes mercados, segundo o Instituto Internacional de Finanças (IIF), que reúne os 500 maiores bancos do mundo, com sede em Washington.
No Brasil, a greve dos funcionários do Banco Central atrasou a divulgação dos dados semanais do fluxo cambial, um dos melhores termômetros do apetite do investidor estrangeiro para ativos brasileiros. Os números de 2022 mostram que até fevereiro o País recebia uma enxurrada de recursos externos, considerando o canal financeiro, que mostra a movimentação em renda fixa e ações.
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Em março, este movimento mudou, e houve saídas líquidas de US$ 4 bilhões pelo canal financeiro, coincidindo com a invasão da Ucrânia pela Rússia e o início da elevação dos juros nos Estados Unidos. Em abril, nova retirada de US$ 3,7 bilhões. O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, disse na segunda-feira (25) que a forte saída de recursos em renda fixa em março deve estar relacionada ao ciclo de alta de juros nos Estados Unidos.
Na B3, o fluxo de estrangeiros está negativo este mês em R$ 822 milhões até o dia 21. Em junho houve um respiro, com fluxo positivo de R$ 427 milhões, que ocorreu após a enorme retirada de R$ 14 bilhões em abril e maio.
“O mundo está passando por um dos maiores choques de taxas de juros da memória recente”, ressalta um relatório recente do IIF. Nas primeiras duas semanas de julho, a estimativa é que mais US$ 5,6 bilhões tenham deixado os emergentes. Desde março, estes países estão perdendo bilhões de dólares por mês, tanto na renda fixa como nas bolsas, revertendo o movimento de fevereiro, quando haviam recebido US$ 17,6 bilhões.
De acordo com o economista-chefe do Bank of America para os Estados Unidos, Michael Gapen, dois fatores advogam contra os países emergentes, incluindo o Brasil, neste momento: o dólar mais forte e os temores de uma desaceleração no ritmo de crescimento global, com temores de recessão nos EUA e mais fortes ainda na Europa.
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“O dólar forte em um ambiente de risco e em que o Fed está elevando sua taxa básica de juros tende a prejudicar os mercados emergentes, principalmente os países que tomaram empréstimos em dólares”, explica o especialista. “Tem de se levar em conta o risco de uma recessão global. O crescimento nos EUA está diminuindo, fora, também. Obviamente, os mercados emergentes tendem a depender do crescimento global para as exportações, o Brasil menos do que outros, é claro”, acrescenta o economista do Bank of America.
Com os bancos centrais em pleno processo de aperto monetário para controlar a disparada da inflação, a pressão para a saída de recursos dos países emergentes deve permanecer nos próximos meses, de acordo com especialistas. Nesta semana, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) deve anunciar outro aumento de juros de 75 pontos-base, mantendo uma postura ‘hawkish’, ou seja, de subida nas taxas, até o fim deste ano. Além dele, o Banco Central Europeu (BCE) elevou o juro da região pela primeira vez em 11 anos, seguindo outras autoridades como no Canadá e até na Suíça.
Para a consultoria britânica Capital Economics, ativos financeiros dos mercados emergentes seguirão sob pressão ao longo de 2022, mas não prevê, contudo, que o cenário se agrave tanto quanto em 2013, quando houve uma saída forte de recursos dos mercados emergentes. O período que ficou conhecido como “taper tantrum”, quando o Fed começou a retirar os estímulos monetários adotados após a crise financeira de 2008.
“O resultado é que esperamos que os ativos dos mercados emergentes permaneçam sob pressão à medida que os retornos nos EUA continuem subindo, o crescimento global fique abaixo do esperado e o apetite dos investidores por risco permaneça frágil”, diz o economista da Capital Economics, James Reilly.
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A também britânica Oxford Economics afirma que suas previsões para as economias da América Latina continuam a se deteriorar devido às condições financeiras globais cada vez mais apertadas. “Com os investidores não mais precificando totalmente uma alta de 1 ponto porcentual pelo Fed, as pressões de venda sobre os preços dos ativos da América Latina diminuíram em relação aos picos vistos na semana passada, mas os riscos de recessão para a região permanecem consideráveis”, conclui a consultoria.