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Por que o Ibovespa tem o melhor desempenho para agosto desde 2003

Índice acumula retorno de 8,08% nos 20 primeiros dias do mês, o maior para o período em 19 anos

Por que o Ibovespa tem o melhor desempenho para agosto desde 2003
Nos últimos quatro anos, agosto foi sinônimo de má sorte em Bolsa. Foto: Envato Elements
O que este conteúdo fez por você?
  • Se a performance continuar na média observada nos últimos dias, o índice de ações caminhará para fechar o período no campo positivo pela primeira vez desde 2017
  • Não só a 'maldição de agosto' pode ser quebrada em 2022, como a valorização tem potencial para ser recorde. Somente entre os dias 1 e 20 de agosto, o indicador acumula uma alta de 8,08%
  • “Olhando para frente, o que vemos ainda é uma tendência positiva. Provavelmente os resultados bons (do 2° trimestre) começarão a ser incorporados nas projeções", afirma Fernando Siqueira, head de research da Guide Investimentos

A maldição de agosto, que assolou o Ibovespa nos últimos quatro anos, pode ser finalmente quebrada. Se a performance continuar na média observada nos últimos dias, o índice de ações caminhará para fechar o período no campo positivo pela primeira vez desde 2017.

Isto porque entre 2018 e 2021, o mês foi de prejuízo no mercado, com baixas de 3,21%, 0,67%, 3,44% e 2,48%, respectivamente.

E não somente a maldição pode ser quebrada em 2022, como a valorização tem potencial para ser recorde. Somente entre os dias 1 e 19 de agosto, o indicador acumula uma alta de 8,08% – consolidando o melhor desempenho registrado nas três primeiras semanas do mês desde 2003. Os dados foram levantados por Matheus Spina, da TC/Economatica.

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“Existe uma superstição na Bolsa de que ‘agosto é o mês do desgosto’. Não sei por qual razão, mas parece ser um mês mais difícil”, afirma Mario Goulart, analista de investimentos e criador do canal do YouTube ‘O Analisto’.

Ele ressalta que desde o final de julho uma onda de otimismo invadiu as bolsas do Brasil e dos EUA. O S&P 500, por exemplo, acumula alta de 2,39% nos últimos 20 dias, enquanto o Dow Jones sobe 2,57% e Nasdaq tem valorização de 2,54%. Muito desse novo fôlego aconteceu na esteira dos dados melhores que o esperado para inflação.

No Brasil, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou uma deflação (queda de preços) recorde em julho deste ano, de 0,68%. Já o CPI, indicador americano de inflação, acumulou 8,5% de alta em 12 meses até julho, quando a expectativa era de um percentual de 8,7%. Os indicadores foram divulgados entre os dias 9 e 10 de agosto e alimentaram o apetite a risco dos investidores nas sessões seguintes.

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A melhora reforçou ao mercado que o ciclo de alta dos juros no cenário doméstico estava chegando ao final. “Tiveram vários sinais do Banco Central na última ata do Copom (Comitê de Política Monetária) que a curva de juros parou de subir. Existe uma percepção de que a briga contra a inflação está dando certo”, ressalta Goulart.

Já em relação aos EUA, o sentimento foi de que talvez o Federal Reserve (Fed, banco central americano) precisasse subir menos os juros para conter a alta nos preços. Em tempo, quando os juros americanos estão mais altos, os treasuries (os títulos públicos dos EUA, considerados os mais seguros do mundo) ficam mais atrativos.

A alta nos rendimentos desses títulos diminui o custo de oportunidade do investimento na renda variável. Principalmente nas bolsas de países emergentes, como o Brasil, em que o risco é maior.

A perspectiva de que os juros não ficariam tão altos em função da inflação mais baixa resultou em um alívio nos setores mais sensíveis aos ciclos econômicos, tanto nos EUA quanto no Brasil. É o caso de tecnologia e varejo, que estavam há meses registrando quedas e registraram grande recuperação nas últimas semanas.

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Nos primeiros 20 dias de agosto, as ações das empresas de tecnologia Positivo (POSI3) e Locaweb (LWSA3) saltaram 50,15% e 47,85% no Ibovespa, respectivamente, as maiores altas do período. Os papéis do Magazine Luiza (MGLU3) está na terceira colocação entre as maiores valorizações do índice, com um salto de 43% no período.

Além de um horizonte melhor para a inflação, os resultados do 2° trimestre das companhias listadas também nutriram o otimismo do mercado, com números em média acima das expectativas. É o que aponta Fernando Siqueira, head de research da Guide Investimentos.

“São dois motivos: o primeiro essa sinalização do fim de aumento de juros no Brasil e dados melhores de inflação no exterior. Outro ponto foi a questão dos resultados, as empresas grandes, como Petrobras (PETR4), Banco do Brasil (BBAS3), entre outras, divulgaram números muito acima do esperado e favoreceram a alta da bolsa”, diz Siqueira.

Em agosto, os dois pregões de maiores altas do Ibovespa aconteceram justamente nos dias 4 (+2,04%) e 12 de agosto (+2,78%). A primeira data corresponde à sessão pós-decisão sobre juros do Comitê de Política Monetária do Banco Central. A segunda é após a divulgação dos dados de inflação e dos resultados do Banco do Brasil, que apresentou crescimento de 54,8% do lucro líquido ajustado.

Contagem regressiva

Na sexta-feira (19), o Ibovespa registrou seu terceiro dia de desvalorização em agosto, e também o mais expressivo deles: o índice desabou 2,04%. A queda zerou os ganhos da terceira semana do mês e pode representar uma inversão de sentimento do mercado. O motivo foi um comunicado mais duro do Fed em relação à inflação.

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A autoridade monetária sinalizou que não pararia de subir juros até que a inflação cedesse substancialmente, o que esfriou parte do otimismo dos investidores globais. Faltam apenas oito pregões para o fim de agosto - que serão essenciais para definir se 2022 marcará um fim para a maré de azar do Ibovespa no mês.

Siqueira, da Guide, vê boas perspectivas no médio prazo. “O que vemos ainda é uma tendência positiva. Provavelmente os resultados bons (do 2° trimestre) começarão a ser incorporados nas projeções e o mercado deve começar a revisar para cima os números esperados para os próximos meses e anos". Ele ressalta que a Bolsa está barata e, quando juros começarem a cair, o Ibovespa deve se beneficiar ainda mais.

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