- Somente em 2022, três investidores pessoas físicas entraram com processo contra o ressegurador IRB (IRBR3) em câmara de arbitragem de mercado (CAM)
- Fora os procedimentos arbitrais individuais, o IRB enfrenta também desde novembro de 2020 um processo conjunto de mais de 400 investidores, representados pelo Instituto Ibero-Americano Empresa
- Caso os minoritários tenham sucesso, significará um desembolso significativo em indenizações. O valor total pode girar em torno de R$ 500 milhões, segundo a instituição
Somente em 2022, três investidores pessoas físicas entraram com processo contra o ressegurador IRB (IRBR3) em câmara de arbitragem de mercado (CAM) – um ambiente criado para tratar conflitos entre investidores e empresas, fora da justiça comum.
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Os acionistas Cicero Antonio Almeida Gonçalves (que desistiu do processo em julho), Everton George dos Santos e Luiz Felipe Rudge Leite buscavam indenizações de R$ 91,4 mil, R$ 807,4 mil e R$ 216,5 mil, respectivamente, pelos prejuízos que tiveram com a queda das ações a partir de fevereiro de 2020. Na época, a contabilidade da companhia começava a ser questionada pela gestora Squadra.
Logo em seguida, foram descobertas fraudes em balanços da empresa e a ação caiu de R$ 40,74, em 31 de janeiro de 2020, para R$ 1,03, no fechamento da última sexta-feira (14). A destruição de valor foi de 97,4%, o que impactou centenas de investidores, em especial os minoritários.
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Fora os procedimentos arbitrais individuais, o IRB enfrenta também desde novembro de 2020 um processo conjunto de mais de 400 investidores, representados pelo Instituto Ibero-Americano Empresa, que também se sentiram prejudicados com as fraudes constatadas. Caso os minoritários tenham sucesso, haverá um desembolso significativo em indenizações. O valor total pode girar em torno de R$ 500 milhões, segundo a instituição.
Mais recentemente, em setembro deste ano, o Instituto Brasileiro de Cidadania (Ibraci) ingressou com uma ação civil pública (ACP) contra o ressegurador na justiça comum.
Um edital será publicado em cerca de 20 dias pela Justiça para chamar investidores que detinham ações IRBR3 entre 31 de janeiro de 2020 e 20 de março de 2020, período de queda brusca dos ativos, e queiram buscar indenização.
Procurado, o IRB não se manifestou a respeito dos processos até a publicação desta reportagem.
Incertezas no radar
Todos esses casos são um balde de água fria para a companhia, que desde os escândalos contábeis tenta recuperar a lucratividade e a confiança do mercado. A empresa colocou antigos executivos sob investigação e renovou completamente sua diretoria.
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Em julho deste ano, a analista CNPI Louise Barsi, filha do respeitado megainvestidor Luiz Barsi, entrou para o comitê de auditoria da empresa. Os investidores reagiram positivamente à notícia e os papéis subiram 2,8% na data. Ainda assim, os riscos advindos das ações coletivas e processos em arbitragem não podem ser ignorados.
“Qualquer ação coletiva é muito danosa e prejudicial para qualquer companhia, em especial para o IRB. Isso porque afeta o preço do ativo, a imagem, a transparência e a questão de governança corporativa”, afirma Alexandre Milen, CEO da Harami Research. “A entrada de Louise Barsi, que é muito inteligente, competente e promissora, só pode assegurar que daqui pra frente a empresa será melhor auditada, acompanhada e investigada. Não é garantia que a empresa irá, de fato, melhorar.”
De acordo com Milen, casos como esses tendem a afastar os pequenos investidores da Bolsa de Valores. Outro ponto é que o valor final das ações e arbitragens coletivas é indefinido, o que gera incerteza sobre os aspectos financeiros do IRB.
“É um número indeterminado. Quantos investidores prejudicados ainda poderão entrar na ação coletiva? Quanto cada um vai pedir de indenização? R$ 100? R$ 300 milhões? Não tem como saber. É bem complicada a situação”, diz Milen. A recomendação do especialista é de venda. “E quem ainda não tem os papéis, a indicação é não entrar”, ressalta.
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O desconforto em relação à IRBR3 fica notório quando analisado o volume financeiro mensal do ativo, que saiu de uma média de R$ 343 milhões em 2020 para R$ 49 milhões em 2022 (até 11 de outubro), uma queda de 85%. Os dados foram levantados por Einar Rivero, head comercial do Trademap.
Mario Goulart, analista de investimentos e criador do canal ‘O Analisto’, também olha para os ativos com cautela. “Ela está a caminho de se tornar uma penny stock, ou seja, uma ação que vale menos que R$ 1”, diz. “A companhia já não está dando muito lucro e ainda ter que reembolsar investidores. Não vejo razão para ter na carteira.”