- Danielle Lopes, sócia e analista de ações da Nord Research, não acredita que uma única empresa tenha sido destaque na temporada, mas o setor de petróleo como um todo
- A equipe de análise da Terra indicou que o Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) teve o pior desempenho da temporada
- Especialistas afirmam que o Brasil ainda se mostra como um dos melhores lugares para se investir
A temporada de balanços financeiros do terceiro trimestre terminou na última segunda-feira (14), com os dados do Nubank, Localiza, Dasa e Orizon. Um levantamento realizado pela Economatica a pedido do E-Investidor apontou que a Suzano Hold (NEMO5) e a Suzano (SUZB3) tiveram os maiores lucros líquidos.
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A primeira teve uma alta de 3.471% no trimestre se comparado com o acumulado dos três meses anteriores, enquanto a segunda apresentou valorização de 3.000%.
A holding viu seu lucro subir de R$ 42 milhões no 2º trimestre de 2022 para R$ 1,51 bilhão, enquanto a companhia saiu de R$ 175 milhões para R$ 5,4 bilhões. A empresa afirmou que o resultado está atrelado ao menor impacto negativo da desvalorização cambial sobre a dívida da companhia e o resultado positivo das operações com derivativos.
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Renato Chanes, analista da Ágora Investimentos, disse também que o desempenho é resultado do ciclo da celulose que continua forte, além da expansão que a companhia teve no mercado – nesse trimestre, expediu quase 2,8 milhões de toneladas para países como EUA e China (crescendo quase 5% acima das expectativas de mercado).
O bom resultado das duas empresas foi responsável por colocar o mercado de papel e celulose como destaque trimestral. As companhias do setor tiveram uma alta de 765% no lucro. “Vale ressaltar que a Suzano Hold é um papel utilizado apenas pelos controladores da companhia para não perderem o poder [de sócio-proprietários]. Dessa forma, o NEMO5 não tem quase negociação no mercado. O ativo apenas reflete o balanço financeiro da empresa”, declarou o especialista da Ágora.
Na visão dos analistas da Terra Investimentos e do especialista da Empiricus João Piccioni, porém, o melhor resultado da temporada foi o da Weg (WEGE3), visto que a companhia conseguiu expandir suas receitas com suas linhas de negócio, em especial o segmento de Geração, Transmissão e distribuição de energia (GTD).
“A situação adversa da economia internacional baseava as baixas expectativas sobre os resultados da Weg para esse trimestre. Entretanto, o trimestre da empresa foi muito melhor do que os investidores imaginavam”, declarou Régis Chinchila, analista da Terra. O mercado esperava que houvesse uma queda na demanda por equipamentos industriais, o que não aconteceu, e a escalada nos preços de energia em decorrência do conflito na Ucrânia impulsionam os ganhos de óleo e gás, beneficiando as empresas que fornecem equipamentos ao setor.
A companhia apresentou um lucro de R$ 1,15 bilhão no terceiro trimestre desse ano. Uma alta de 27% se comparado com o valor apresentado no acumulado de abril a junho, de R$ 912 milhões.
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Chinchila e Piccioni afirmaram que a Gerdau (GGBR4) e o Banco do Brasil (BBAS3) tiveram um bom desempenho. A siderúrgica teve uma queda de 30% no lucro no comparativo trimestral, de R$ 4,2 bilhões para R$ 3 bilhões. Enquanto o banco subiu 6% no mesmo período, de R$ 7,6 bilhões para R$ 8 bilhões.
Eles afirmaram o resultado da produtora de aço está pressionado pela baixa demanda por metais, mas aponta para uma recuperação da empresa assim que o governo da China abandonar sua política de Covid-zero e a economia do país asiático voltar a expandir.
Quando ao BB, os analistas da Terra explicaram que a companhia teve seus ganhos impulsionados pelo seu posicionamento no agronegócio. “Dessa forma, a empresa superou a dificuldade que o setor passou, de um aumento sistêmico da inadimplência”. O Banco do Brasil possui políticas de crédito rual aos produtores famíliares, por exemplo, e oferece soluções digitais para o mercado.
Danielle Lopes, sócia e analista de ações da Nord Research, não acredita que uma única empresa tenha sido destaque na temporada, mas o setor de petróleo como um todo. Ela apontou que assim como a Petrobras, as “júniors” (3R Petroleum, Petro e PetroReconcavo – que ocupam menos espaço no mercado que a Petrobras) também tiveram bons resultados.
A especialista justificou que a escolha está atrelada à alta do preço do petróleo e pela eficiência operacional das companhias, que adquiriram novos campos de extração enquanto reduziram custos. O levantamento da Economatica demonstrou que o setor que opera com a matéria-prima subiu 59% como um todo.
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Por outro lado, os especialistas consultados apontaram que os piores desempenhos estão atrelados ao setor varejista, que sofreu com a alta dos juros. A Selic acima dos dois dígitos tende a deixar o crédito mais caro, o que reduz o nível de consumo das pessoas, destacou a analista da Nord.
Como um todo, o lucro do setor caiu 218% no comparativo entre o segundo e o terceiro trimestre.
A equipe de análise da Terra indicou que o Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) teve o pior desempenho da temporada. A companhia saiu de um prejuízo no trimestre anterior de R$ 173 milhões e passou a R$ 296 milhões, um aumento de 71%. Os analistas explicaram que a companhia protagonizou a lista de maiores quedas porque os resultados foram mais uma vez divulgados abaixo do esperado, agravando a situação do conglomerado que não demonstra capacidade para que esses prejuízos sejam revertidos no futuro próximo.
Já Piccioni, analista da Empiricus, avalia que a Alpargatas (ALPA4) teve um dos piores balanços. “A companhia mostrou bastante dificuldade em expandir suas operações nos mercados internacionais. A Rothy’s (empresa de moda norte-americana adquirida no ano passado) reportou resultado negativo e consumiu recursos para continuar a crescer”. A companhia reportou um luco de R$ 45 milhões no terceiro trimestre, uma queda de 30% se analisado os R$ 64,2 milhões do 2º trimestre.
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Expectativas para o futuro
Lopes, a analista de ações da Nord Research, afirma que o investidor deverá esperar que as despesas financeiras impactem os balanços, principalmente do quarto trimestre. Isso porque os juros estão altos: com isso, as dívidas continuarão caras, retraindo os investimentos e a tração de novos negócios.
Especialistas entrevistados pelo E-Investidor esperam que a taxa básica de juros, a Selic, permaneça no mesmo patamar de 13,75% ao ano até o meio de 2023. “Dessa forma, as empresas usarão o caixa para quitar suas dívidas [o que também pode impactar o dividendo das empresas - a remuneração é uma parcela do lucro apurado de uma companhia]”, diz Lopes.
A equipe de analistas da Terra afirma também que mesmo com a possibilidade de uma temporada de balanços mais comprimida - a próxima série de divulgações deve ocorrer entre fevereiro e março de 2023 - o Brasil ainda se mostra como um dos melhores lugares para se investir.
“Pode ser preferível ao investidor escolher ativos que estejam expostos apenas ao mercado brasileiro, principalmente o setor de serviços, que demonstra ser o mais sólido nos últimos meses”, declara Chinchila, da Terra.
Já Piccioni indicou os papéis da Vale, Itaú, Gerdau, Weg e Suzano. “A ideia do ‘Xi Jinping pivot’ [nome dado ao movimento do líder chinês de encerrar a política de isolamento social e retomar o crescimento econômico no País] pode empurrar as empresas ligadas as commodities mais para cima”, pontua o analista da Empiricus.
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