- Para especialistas, a queda de 10% nos juros rotativos do cartão não tem grande impacto em relação à dívida
- Ter uma dívida com juros de 300% ao ano, significa quadruplicar o valor dela ao final dos 12 meses
- Consignado e empréstimo pessoal são alternativas mais baratas em comparação ao rotativo
Em maio, a taxa total dos juros rotativos do cartão de crédito variou de 313,7% ao ano para 303,4%, de acordo com o Banco Central. Essa linha é destinada a pessoas que pagam apenas uma parte, ou o mínimo, da fatura do cartão de crédito. À primeira vista, a queda de 10,3 pontos percentuais parece grande, mas especialistas explicam que o impacto final para o consumidor é quase imperceptível.
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“Essa redução de 10% é muito pequena quando falamos de juros tão altos, isso não muda a vida das pessoas”, explica William Eid, coordenador do Centro de Estudos de Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “O Brasil continua tendo uma das taxas de juros mais altas do planeta.”
O que o especialista diz tem fundamento. Tomar uma linha de crédito em que os juros são de ordem de 300% ao ano significa pelo menos quadruplicar a dívida ao final dos 12 meses. “Se você começa devendo R$3.000, no final do período você estará devendo R$10.000. É o caminho natural para a morte financeira”, resume Eid.
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Para a educadora financeira Carol Stange, é necessária muita organização no orçamento para encarar uma dívida dessas. “Caso a pessoa não tenha controle das finanças não vai ser essa redução no rotativo que vai fazer diferença, pelo contrário, pode contribuir para que ela se enrole ainda mais”, afirma.
Crédito pessoal e consignado são alternativas ao rotativo
De acordo com os especialistas, o empréstimo pessoal e o crédito consignado são opções que carregam taxas de juros mais vantajosas para o consumidor. “As instituições entendem que os riscos de inadimplência dessas linhas são mais baixos, por isso têm taxas mais atrativas”, afirma Stange.
O crédito consignado é uma modalidade voltada para aposentados, pensionistas, trabalhadores da iniciativa privada e funcionários públicos. O desconto dessa linha é feito diretamente na folha de pagamento do devedor, o que justifica o risco mais baixo, e o valor das parcelas não pode exceder 35% do salário.
Já o crédito pessoal é destinado a pessoas físicas que possuem vínculo com instituições financeiras. Os juros dessa linha são, no geral, maiores que os do consignado, mas ainda assim podem ser mais baixos em relação às taxas do cartão de crédito.
“Eu sempre aconselho trocar uma dívida muito cara, como a do cartão, por uma dívida mais barata”, aponta a educadora. Isso significa que, no geral, compensaria fazer um empréstimo pessoal ou consignado para quitar a dívida do cartão de crédito à vista. “Assim, ela pode pagar essas outras linhas de crédito com mais tranquilidade.”
Precisa realmente usar o cartão de crédito? Conheça as boas práticas
Na visão dos especialistas, se você realmente precisa usar o cartão de crédito, o indicado é entender a modalidade para não cair em algumas armadilhas comuns. Abaixo, algumas delas.
- Entenda as diferenças entre limite rotativo com limite parcelado
O primeiro ponto, segundo Stange, é saber as diferenças entre o limite rotativo e o limite parcelado. “As vezes a pessoa estoura o cartão porque não entende essas diferenças, e alguns bancos fazem questão de deixar complicado de entender”, pontua Stange.
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No limite rotativo, o valor total da compra vai ser debitado do limite, que vai se restabelecendo conforme os pagamentos das parcelas são feitos. “Vamos supor que seu limite é R$3.500 e você parcelou em uma compra de R$500, então o seu limite é R$3.000”, afirma a educadora. No parcelado, apenas o valor de cada parcela é debitada do limite a cada mês.
- Não espere o cartão ‘parar de passar’ para ‘parar de gastar’
Segundo Stange, quando o cartão de crédito para de passar, normalmente a pessoa já estourou o limite e está pagando juros altos sem saber. “Por isso é importante colocar no papel o quanto você está gastando e não ficar nos achismos ou esperando não conseguir mais comprar”, disse.
- Acompanhe o uso do cartão de crédito com frequência
O consumidor pode acompanhar o uso do cartão de crédito de forma diária, semanalmente ou quinzenalmente, dependendo da rotina de cada pessoa. “Para quem gasta sem perceber, tem muitos compromissos e rotina mais flexível, o acompanhamento diário é indicado”, explica Stange. “Agora, quem tem mais previsibilidade, pode acompanhar semanalmente, e quem já dominou todos esses controles anteriores, quinzenalmente”, disse.
Para a especialista, um dos grandes erros no uso do cartão de crédito é justamente olhar a fatura apenas no final do mês, quando o consumidor já não tem recursos para mudar a situação financeira.
- Estabeleça metas de gastos
O melhor caminho para saúde financeira, principalmente quando se fala do uso do cartão de crédito, é ter controle sobre o quanto e quando se gasta. “Coloque metas de gastos e estipule um limite para cada semana”, conclui a educadora.