- As incertezas no campo fiscal com o aumento dos gastos públicos para 2023 trouxeram dúvidas sobre o fim do ciclo de alta de juros no país
- A indefinição pode ter impacto na taxa de juros e na inflação, o que prejudica o cenário econômico para as empresas expostas ao mercado interno
- Segundo dados da Ágora Investimentos, as ações da Hapvida (HAPV3) e da Americanas (AMER3) apresentaram as maiores quedas no acumulado de novembro
As incertezas sobre os rumos das contas públicas a partir do próximo ano penalizaram as ações que dependem da dinâmica do mercado interno. A aversão dos investidores para esses papéis é um reflexo da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, que prevê um aumento das despesas na ordem de R$ 198 bilhões fora do teto de gastos e eleva às projeções da taxa de juros e inflação no país.
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O resultado das discussões sobre a proposta fez com que as ações do varejo, de tecnologia e do setor de educação ficassem entre as maiores baixas do Ibovespa.
Segundo o levantamento da Ágora Investimentos, a grande campeã no quesito desvalorização foi a Hapvida (HAPV3). No acumulado dos últimos 30 dias, as ações da companhia caíram 33,3%, cotado a R$ 5,19.
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“A Hapvida recentemente adquiriu a NotreDame que por sua vez possuía uma sinistralidade mais elevada, o que aumentou a sinistralidade consolidada de 73% no 3T22, um aumento de 5,1 pontos porcentuais em relação ao mesmo trimestre de 2021”, Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, gestora de fundos de investimento.
A piora na perspectiva do cenário econômico do Brasil contribuiu para a derrocada dos papéis. O mesmo motivo causou a queda das ações da Americanas (AMER3) que apresentaram a segunda maior desvalorização do Ibovespa em novembro. Durante o período, os papéis caíram 32% no acumulado dos últimos 30 dias.
Nesta reportagem, também mostramos as ações mais rentáveis de novembro.
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“Com a inflação alta, os itens básicos (comida, saúde e transporte) ficaram mais caros e o consumidor escolhe por deixar de comprar eletrodomésticos. Esses fatores influenciaram a queda em todo o setor, principalmente a Americanas, visto que a empresa tem grande exposição ao e-commerce e em vendas de eletrodomésticos”, afirma Gonçalvez. As vendas fracas durante o período de Black Friday também adicionaram ainda mais pessimismo para as ações.
Os resultados da companhia referentes ao terceiro trimestre também desanimaram os investidores. Segundo dados reportados pela companhia, entre julho e setembro, a Americanas registrou um prejuízo líquido de R$ 211 milhões, enquanto no mesmo período do ano anterior a empresa apresentou um lucro de R$ 241 milhões. Os papéis da Via (VIIA3) também entraram na lista. Ao contrário do mês de julho, quando a companhia desfrutou do topo do ranking das maiores altas do Ibovespa no acumulado do mês, a varejista sofreu um tombo de 30,3% em virtude também das incertezas dos rumos econômicos do Brasil.
Segundo Flávio Conde, analista da Levante, isso acontece porque a perspectiva do aumento dos gastos públicos, como se discute no Congresso com a PEC da Transição, eleva as projeções da taxa de juros e da inflação no mercado. Os efeitos afetam essas companhias em duas vertentes. A primeira no bolso do consumidor que perde o poder de compra devido à alta dos preços e do encarecimento do crédito para compras parceladas. A segunda se refere ao aumento das despesas da companhia.
“As empresas precisam de capital de giro e, com a elevação da taxa de juros, esse capital de giro fica mais caro. Então, serão obrigadas a pedir emprestado mais dinheiro e pagar mais pelo empréstimo desse dinheiro”, afirma Flávio Conde, analista da Levante. A mesma realidade também se estende para os papéis da Positivo (POSI3) que sofreram uma queda de 29,9% no acumulado mensal.
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As ações da Cogna Educação (COGN3) também entraram no grupo dos menos rentáveis do IBOV em novembro com uma queda de 31,9%. Embora haja uma boa perspectiva para o setor de educação com a mudança de governo diante da possibilidade do retorno de investimentos para a área, os papéis foram penalizados pela entrega dos resultados nos últimos três trimestre.
Segundo os dados reportados pela empresa, os prejuízos da Cogna aumentaram 258% no acumulado de janeiro a setembro em comparação ao mesmo período do ano passado. “O mercado vê esses prejuízos de forma negativa e penaliza as cotações da empresa”, diz Gonçalvez.