- A China apresentou uma queda de 90% na quantidade de novos casos nos últimos 40 dias
- Essa notícia pode beneficiar as ações negociadas na B3, já que muitas companhias de capital aberto tem relações econômicas diretas com a gigante asiática
- Mas os entrevistados alertam que alocar capital nas companhias nacionais com relações comerciais com a China, pensando apenas na retomada econômica da região, pode não ser tão interessante
A China, um dos países que permaneceu com políticas severas contra o coronavírus até pouco tempo atrás, apresentou uma queda de 90% na quantidade de novos casos nos últimos 40 dias, apontou o levantamento da Our World In Data, plataforma especializada em produzir dados sobre mudanças nas condições de qualidade de vida e usada pelo Google para informar os números de infectados na pandemia.
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E essa notícia pode beneficiar as ações negociadas na B3, já que muitas companhias de capital aberto têm relações econômicas diretas com a região asiática. A Vale (VALE3), por exemplo, por produzir o melhor minério de ferro do mundo, deve se favorecer com a retomada de consumo chinês.
Porém, é importante ressaltar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que a China não está notificando o verdadeiro e atual impacto da covid-19 no país. Isso se dá pelo fato do governo chinês não exigir mais os testes em massa – que eram anteriormente feitos – e não divulgar todos os dias os números de infectados, “o que traz uma distorção na contagem de pessoas [com coronavírus]”, diz Jennie Li, estrategista de ações da XP.
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Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, explicou que, por conta do fim da política de covid-zero na região, deve haver um aumento no número de casos no curto prazo, já que pessoas vão começar a circular mais nas ruas. “A meu ver, ao longo de 2023, a situação deve arrefecer e possivelmente teremos uma redução do número de casos. Isso possibilitará uma melhor retomada da atividade econômica [na China]”.
Assim, caso exista uma real redução nos números no longo prazo, especialistas entrevistados pelo E-Investidor apontaram que o setor brasileiro de commodities deve ser beneficiado ao longo deste ano, assim como, as ações na Bolsa.
Gustavo Campanhã, gestor da WHG, afirmou que as exportações brasileiras para a China cresceram 27% em relação ao ano anterior, com destaque para a expansão das exportações de soja, carne bovina e celulose. A China é o principal parceiro comercial do Brasil.
“Caso a China consiga estabilizar e recuperar seu setor de construção civil, podemos ver uma recuperação nas exportações de minério de ferro em 2023 [principalmente], que ficaram para trás no ano passado”, afirmou Campanhã. “A reabertura da economia [também] deve ser positiva para as exportações de soja e carnes, dado que o consumo deve ganhar força”.
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A estrategista de ações da XP realizou um levantamento que apontou as cinco empresas brasileiras de capital aberto que possuem relação comercial com a China que podem se favorecer no arrefecimento dos casos:
- Vale – 51,20% da receita é oriunda de consumo chines;
- Suzano – 34,30%;
- Minerva – 12,10%;
- CSN Mineração – 11,90%;
- SLC Agrícola – 11,30%
É interessante aproveitar o momento?
Os entrevistados afirmaram que investir no curto prazo em companhias que tenham relações comerciais com a China, pensando apenas na retomada econômica do país, não é tão interessante. Na avaliação dos analistas, nas próximas semanas deve haver um período de volatilidade até que a grande maioria dos chineses esteja imunizada.
Vale ressaltar que, a taxa oficial de vacinação contra o coronavírus da China é de 90%, o que inclui duas doses de suas vacinas produzidas internamente. Mas essas vacinas, que usam tecnologia mais antiga, têm taxas de eficácia mais baixas do que as vacinas de RNA mensageiro e oferecem proteção mais fraca contra novas variantes, segundo especialistas. Outro problema na China ainda é a hesitação em vacinar, principalmente entre os idosos. Até o final de 2022, apenas 40% dos chineses com mais de 80 anos receberam uma dose de reforço.
Além disso, no final de novembro, por exemplo, os surtos estavam se espalhando por mais de 200 cidades chinesas. Em 7 de novembro, as autoridades nacionais confirmaram 5.496 casos de covid; em 27 de novembro, eram quase 40 mil – um recorde para casos diários no país.
Dessa forma, Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos, e Milena Araújo, especialista em renda variável na Nexgen Capital, declaram que somente é interessante investir no longo prazo. Segundo eles, a expectativa do mercado é uma diminuição nos casos e uma melhoria na relação econômica entre o Brasil e a China, já que o região asiática deve consumir mais.
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Arbetman e Araújo indicaram também dois ativos que podem apresentar altas neste ano, quando considerada as questões chinesas: Vale e CSN Mineração – ambas as companhias operam com minério de ferro, que valorizou 3,78% neste ano.
O gestor da WHG, por sua vez, destacou que é possível aproveitar a reabertura da economia chinesa via BDRs (Brazilian Depositary Receipts, ou certificados que representam ações emitidas por empresas em outros países).
Considerando um cenário de retomada no consumo chines, ele disse que a “forma tradicional para tentar se posicionar” é via:
- Turismo em geral: Trip.com (CRIP34), Las Vegas Sands (L1VS34) e Wynn Resorts (W1YN34), “que tem hotéis em Macau, um destino popular para turistas chineses”;
- Empresas com cadeia de suprimentos na China, “que deixam de ser afetadas pelas constantes interrupções de produção trazidas pela pandemia”: Apple (AAPL34) e Nike (NIKE34);
- Empresas com exposição a tráfego de consumidores chineses localmente: Starbucks (SBUB34) “que tem uma grande presença na China”;
- Empresas estrangeiras que consumidores chineses consomem produtos: Este Lauder (ELCI34).
De todo modo, Campanhã diz que não acredita que esses papéis sejam uma boa escolha para este momento, “mas são clássicas empresas [interessantes] e expostas a uma reabertura econômica completa da China [que pode acontecer ao longo de 2023]”, afirma.