- Para quem vê de fora e superficialmente, a imagem das integrantes do clã é de socialites e patricinhas “desocupadas”. Mas a verdade é que elas são empreendedoras seriais
- A “momager” Kris Jenner, além de ser a matriarca da família, é a verdadeira cabeça dos negócios das filhas
- Farejar possibilidades de negócio e aproveitar as oportunidades são apenas algumas lições que o clã Kardashian-Jenner pode ensinar
(Murilo Basso, Especial para o E-Investidor) – Em maio de 2020, (mais) uma controvérsia sobre o clã Kardashian-Jenner estourou: a revista Forbes retirou o “título” de bilionária da integrante mais jovem da família, Kylie Jenner.
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A justificativa foi de que a jovem de 22 anos teria superdimensionado os ganhos de sua empresa de cosméticos. A verdadeira fortuna seria menor: pouco menos de US$ 900 milhões, segundo a publicação. A empresária, é claro, negou.
Apesar de não chegar a US$ 1 bilhão, o número real dos ganhos da caçula da família continua sendo impressionante.
Negócios da família Kardashian
Para quem vê de fora e superficialmente, a imagem das integrantes do clã é de socialites e patricinhas “desocupadas”, mas elas são empreendedoras seriais e investem pesado em negócios e na própria imagem, sob o olhar apurado de Kris Jenner, a matriarca da família.
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Chamada de “momager” (brincadeira com as palavras “mom” e “manager”, “mãe” e “gerente” em inglês, respectivamente), Kris conduz os negócios da família com mão de ferro.
Com o advogado Robert Kardashian, morto em 2003, ela teve quatro filhos: Kourtney, Kim, Khloé e Rob – sim, apesar de a ala feminina do clã ser mais conhecida, há um filho homem. Já da união com o decatleta e medalhista olímpico Bruce Jenner, que depois de assumir identidade feminina em 2015 passou a atender por Caitlyn, nasceram Kendall e Kylie.
O primeiro “empreendimento” de Kris foi Caitlyn, então Bruce Jenner, com quem ela se casou em 1991 após se divorciar do primeiro marido. Apesar de ser uma figura conhecida nos EUA, medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos de Montreal (1976), Kris percebeu que ele não aproveitava todo o seu “potencial econômico”.
Ela não perdeu tempo e logo se assumiu como empresária do marido, montou um press kit e usou todo o seu networking para promovê-lo. Em pouco tempo, ele estava com a agenda lotada para palestras motivacionais e também estava fazendo publicidade, conforme ela relata na biografia “Kris Jenner… And All Things Kardashian” (2011). Esse foi o primeiro ponto de virada na vida da família.
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O segundo ocorreu em 2007, quando um vídeo íntimo gravado por Kim Kardashian e um ex-namorado em 2002 vazou. Ela procurou reparação judicial a respeito, mas também soube fazer “do limão uma limonada”.
Até então conhecida apenas como uma das melhores amigas da também socialite Paris Hilton, Kim agarrou todas as oportunidades comerciais que apareceram: estrela de seu próprio reality show, garota-propaganda, DVD de ginástica, participação em filmes e seriados… De grão em grão, conseguiu se consolidar como uma celebridade e, posteriormente, como uma mulher de negócios.
5 lições aprendidas com os negócios das Kardashian
Farejar possibilidades de negócio e aproveitar as oportunidades são apenas algumas lições que o clã Kardashian-Jenner pode ensinar. Confira a lista preparada pelo E-Investidor:
1. Sem medo de abraçar novas plataformas
O modelo de negócios da família é bem peculiar: é difícil identificar onde termina a vida pública e começa a vida privada das Kardashian.
A presença delas nas redes sociais, em especial no Instagram, é gigantesca, sendo que cada passo parece ser registrado. A vida pessoal e a carreira delas se misturam de tal forma que talvez não seja possível identificar o mesmo comportamento em outras celebridades.
Essa forte presença online, que garante a elas um alcance de público gigantesco, é uma das bases para o sucesso dos negócios da família.
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As irmãs Kardashian-Jenner – vamos nos referir à família no feminino pois apesar de haver um homem, Rob, nesse clã as mulheres são muito mais proeminentes nos negócios – também não têm medo de abraçar novas plataformas. Jogaram-se de cabeça no Instagram e foram umas das primeiras celebridades a abraçar o Snapchat quando o aplicativo surgiu.
Na sensação do momento, o TikTok, elas também marcam presença. Além disso, Kim já teve sua própria linha de emojis – os Kimojis – e conta com um joguinho de celular que pode ser baixado na App Store e na Google Play, o “Kim Kardashian: Hollywood”.
“O termômetro das redes sociais responde de imediato à exposição dos produtos. Cenas habituais que parecem ser absolutamente cotidianas são, na verdade, exaustivamente roteirizadas e ensaiadas para parecerem o mais naturais possíveis. Somos gregários, gostamos de viver em grupo, e a estratégia da ‘momager’ é fazer do público parte integrante dessa família”, afirma Paula Sauer, economista e professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) no Rio de Janeiro.
O que as Kardashian fazem é crucial para qualquer empresa que deseja sobreviver atualmente: estar presente no meio digital. Professora da Escola de Gestão de Negócios da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Simoni Rohden diz que esse ponto foi acelerado pela pandemia do coronavírus, mas que não se trata de uma necessidade que surgiu apenas nos últimos meses.
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“O que as empresas brasileiras têm que levar em consideração é que elas têm de estar no canal em que o cliente também está. Se seu consumidor está no Facebook, sua empresa deve estar lá também, o que não significa que a companhia não possa estar em outras plataformas. A empresa precisa conhecer seu público-alvo, saber qual é a plataforma na qual ele está e que tipo de conteúdo é o ideal para essa plataforma”, orienta Simoni.
2. De olho nas lacunas do mercado
Outro diferencial para os negócios das Kardashians é que elas também têm ótimo faro para reconhecer lacunas do mercado e empreender a partir das necessidades do consumidor.
Um exemplo é a Good American, marca de roupas fundada por Khloe Kardashian em 2016 e que tem como carro-chefe as calças jeans. Não se tratam, porém, de meras calças jeans: elas são vendidas em tamanhos que vão do PPP ao GGG, o que não é comum para a maioria das marcas. A criação da grife foi uma ótima jogada, em especial numa época em que tanto se fala sobre autoaceitação.
“As empresas devem colocar o consumidor no centro do processo. Não dá mais para ficar naquela de ‘eu vendo aquilo que eu sei fabricar’. Tem que vender aquilo que o mercado quer consumir, com características com as quais o consumidor se identifica. A Khloe faz isso”, aponta Simoni.
A professora da Unisinos diz que antes de lançar um produto ou serviço, é importante que o empreendedor faça pesquisas de mercado, interaja com o consumidor e converse com o público-alvo em potencial para compreender o que eles querem e do que precisam. Segundo ela, as empresas que estabelecem uma estratégia estão à frente de seus concorrentes.
3. Timing afiado para negócios
Não é exagero dizer que a “momager” Kris Jenner, além de ser a matriarca da família, é a verdadeira cabeça dos negócios das filhas. Ela tem um ótimo faro e timing para os negócios, assim como fez com Bruce Jenner no início do relacionamento deles.
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A própria Kris já admitiu que é uma controladora – “Eu gosto que tudo ocorra de uma certa maneira. Eu não sou alguém que simplesmente relaxa e deixa as coisas acontecerem”, afirmou em 2015 – e que gosta de se envolver em todas as etapas do processo. Isso não significa, porém, que todo empreendedor de sucesso precise ter esse perfil.
“Você não precisa aprender a administrar investimentos, imagem, marca, redes sociais, etc, mas você tem que saber que isso pode ser feito. Se você não se sente à vontade com esse tipo de atribuição, não tem tempo ou não curte mesmo, existem pessoas especialistas, profissionais que cuidam disso”, explica Paula Sauer, da ESPM-Rio.
“Saber disso, por si só, já vale muito. Você pode até não saber fazer, mas saber que tem quem faça e que tem quem faça bem feito já vale muito. Muitas vezes, montanhas de dinheiro e de tempo são perdidas quando se precisa refazer um trabalho mal feito”, continua a especialista.
Simoni Rohden acrescenta que quem quer empreender não pode ter medo de errar – as próprias Kardashian já erraram várias vezes. Não existe, afinal, empreendimento sem riscos. O que se pode fazer é tentar minimizar tais riscos e também aprender com os próprios erros e ajustar a rota.
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“O primeiro ponto de atenção é: quem quer empreender, tem que estar atento às tendências do mercado. Tomar a decisão baseado em fatos em fundamental, então temos que nos cercar de dados para decidir. Mas não dá para pensar ‘eu não vou empreender, porque eu vou errar’. A confiança é fundamental. O medo de errar é natural. O empreendedor vai errar, pois está num processo de aprendizado constante”, afirma.
4. Apostar em diversos segmentos
Reality shows, roupas, maquiagem, cintas modeladoras… As Kardashian sabem diversificar como ninguém e não têm medo de apostar em diversos segmentos do mercado.
Num primeiro momento, os negócios das Kardashian podem passar a impressão de que elas estão “atirando para todos os lados”, mas quando se analisa a fundo, percebe-se que os empreendimentos estão conectados – e todos os produtos são absolutamente vendáveis pelas redes sociais, principal canal de marketing da família.
“Cada investimento está intrinsecamente correlacionado aos demais. E correlacionados até negativamente, o que visa dar segurança a todo o patrimônio. Quando um ativo perde valor, o outro tende a ganhar, e assim se faz o que chamamos em finanças de ‘hedge’ [estratégia de proteção de riscos de um investimento]. Diversificar investimentos não se trata só de ‘colocar um pouquinho em cada coisa’, mas exatamente o quê, quando e quanto investir, ou mesmo sair”, esclarece Paula.
É sempre importante lembrar que não há “receita de bolo” quando o assunto são negócios. Há empresas que se saem melhor atuando em apenas em um ramo, enquanto outras conseguem investir em diversos setores.
Simoni explica que focar em apenas um segmento ou produto é comum quando o negócio está no início, seja por insegurança do empresário ou porque há restrições financeiras. Nesses casos, o melhor mesmo é começar pequeno e expandir aos poucos.
“O clã Kardashian tem uma profusão de marcas e produtos, mas se a gente for olhar, há um fio condutor, uma ‘costura’ entre eles. Praticamente todas as marcas são relacionadas a lifestyle. Nessas áreas, elas podem lançar roupas, cosméticos, produtos para mães… Esse guarda-chuva da moda e beleza foi onde elas se posicionaram. Isso facilita também a memória do consumidor. E, claro, elas têm uma estratégia constante de presença das marcas, o que faz com que o consumir sempre fique sabendo delas. Cada marca tem um viés, um nicho, mas elas estão relacionadas”, diz.
5. Apoio a causas sociais
Nem só de glamour vivem as Kardashian. Elas também são conhecidas por usar a sua influência para causas sociais, arrecadando fundos para organizações como Charity: Water, Teen Cancer America e o Hospital Infantil de Los Angeles, só para citar algumas.
Em 2018, Kim Kardashian pediu ao presidente dos EUA, Donald Trump, que concedesse clemência à Alice Johnson, de 63 anos, que cumpria pena perpétua por associação ao tráfico de drogas.
Alice tinha sido presa em 1996, no Tennessee, quando atuava como “mula telefônica”, transmitindo mensagens entre traficantes. Mesmo sendo ré primária, a mulher foi condenada a passar a vida na prisão.
Quando soube de sua história, Kim acionou seu próprio advogado, assumiu as despesas legais da prisioneira e passou a apoiar campanhas pela reforma do sistema penitenciário. Alice, que já é bisavó, foi libertada em 6 de junho de 2018.
O importante, obviamente, é que todas essas ações sejam genuínas. Não se pode ser ingênuo, porém, e não admitir que apoiar causas beneficentes é benéfico também para uma empresa no tocante aos negócios.
“Os consumidores tendem a ter uma atitude mais positiva com a marca, desde que entenda que a marca faz isso realmente com a intenção de ajudar o coletivo e o próximo. O consumidor está muito atento, informado, crítico, inteligente. Quando uma empresa se posiciona em favor do ‘marketing do bem’, mas na prática não é isso que ela entrega para o mercado, o consumidor questiona. E as redes sociais têm papel importante nesse sentido. A marca tem que fazer o que ela diz que faz. Caso contrário, o consumidor se sente traído e o efeito pode ser muito ruim”, afirma Simoni Rohden.
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