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Após ataques em Brasília, o risco Brasil aumentou? Analistas opinam

Investidores não consideram que os atos antidemocráticos desembocarão em uma ruptura institucional

Após ataques em Brasília, o risco Brasil aumentou? Analistas opinam
Partidários de Jair Bolsonaro (PL) invadem o Palácio do Planalto no domingo (8). Foto: AP Foto/Eraldo Peres
  • Mesmo confiante nas instituições, o mercado não está subestimando o risco à democracia e continua acompanhando de perto o desenrolar das tensões políticas no País
  • Para os analistas, o pior cenário a partir de agora é de que os atos, como os de domingo, voltem a acontecer e incluam novos segmentos da sociedade como os caminhoneiros
  • Especialista diz que atos bolsonaristas são péssimos para a imagem do Brasil no exterior e para todos que estão no mercado

No domingo (8), manifestantes bolsonaristas invadiram o Congresso Nacional, depredaram as instalações e ameaçaram jornalistas. A ação violenta tinha como objetivo reivindicar uma “intervenção militar” para depor o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O episódio se torna um dos mais graves ataques à democracia brasileira, em um espelho do que foi a invasão ao Capitólio, nos Estados Unidos.

Com isso, acendeu-se o alerta de que o risco Brasil em relação à bolsa brasileira e ao ambiente de negócios nacional seja elevado após os atos de vandalismo.

Para Mário Lima, analista sênior de política e macroeconomia da Medley Advisors, a percepção de risco em relação ao Brasil aumentou. Agora, é preciso acompanhar se essa elevação das incertezas será de curto ou longo prazo. Tudo depende, segundo o analista, de como essa situação será encaminhada daqui para frente.

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“O mercado está precificando um risco maior. Não dá para falar que houve pânico, mas houve um aumento das incertezas”, explica Lima. “Eu acredito que se as pessoas continuarem sendo presas, os mandantes e financiadores forem pegos e não tivermos mais nenhuma situação de caos social, esse risco deve baixar e responder a outros fatores. E fatores econômicos, não políticos.”

Leandro Siqueira, sócio da casa de análise Varos, ressalta que a “falta de reação” do Ibovespa não significa que o mercado concorde com os atos antidemocráticos. Na verdade, os investidores não consideram que os ataques desembocarão em uma ruptura, por isso não houve sangria nas negociações.

“Se os investidores acreditassem que há um risco concreto de a democracia ruir, isso seria precificado, impactaria a bolsa e várias coisas. Os investidores estrangeiros ficariam receosos de deixar o dinheiro aqui, sabendo que o sistema que rege a nação inteira rem risco de mudar”, afirma Siqueira. “Não há essa crença de que existe a possibilidade de golpe, apesar de todos considerarem o que aconteceu uma infâmia tremenda.”

Siqueira concorda, entretanto, que os atos bolsonaristas são péssimos para a imagem do Brasil no exterior e para todos que estão no mercado. “O investidor lá fora olha para cá como se fosse uma república de bananas, com um risco tremendo, mas não acham que existe alguma chance do sistema político mudar. E como não há essa chance, ninguém quer tomar uma atitude isolada de vender todos os títulos públicos brasileiros e comprar dólar”, afirma.

Outro fator ressaltado pelo sócio da Varos é de que o Ibovespa reflete mudanças nas perspectivas econômicas e não é um termômetro moral da sociedade. Essa também é a visão de Ariane Benedito, economista especialista em mercado de capitais. “Manifestações de rua tem pouco impacto direto no mercado”, afirma. “A não ser, claro, que sejam paralisações dos caminhoneiros, que impactam rapidamente a economia.”

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Benedito afirma também que os ativos já estão bastante descontados pelo aumento do risco fiscal, devido às sinalizações do novo governo em direção a aumentar gasto público. “Não há espaço para precificar uma instabilidade política de impacto indireto”, diz.

Tudo pode mudar (e para pior)

Mesmo confiante nas instituições, o mercado não está subestimando o risco à democracia e continua acompanhando de perto o desenrolar das tensões políticas no País.

Para os analistas, o pior cenário a partir de agora é de que os atos, como os de domingo, voltem a acontecer e incluam novos segmentos da sociedade como os caminhoneiros. “Seria economicamente muito ruim. Se entrar caminhoneiros no meio e as vias ficarem paradas por uma semana ou duas, a bolsa vai cair porque isso precisará ser precificado no resultado das empresas”, explica Flávio Conde, analista de ações da Levante Ideias de Investimentos.

Na visão de Lima, da Medley Advisor, o impacto na Bolsa viria se os ataques escalassem para uma verdadeira ameaça institucional.

Siqueira, da Varos, reafirma um efeito indireto da invasão ao Congresso: tornar Lula ainda mais forte politicamente para aprovar medidas que ele teria dificuldade, antes dos ataques. “O que eu percebi é que quem estava no meio termo, agora escolheu seu lado. Antes havia a premissa de que um golpe estava longe de ser possível. Pelo que vimos, não está tão longe assim. E ninguém quer estar perto dessas pessoas”, diz Siqueira. “É um poder extra ao Lula.”

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