O que este conteúdo fez por você?
- O pix foi lançado pelo Banco Central em outubro de 2020. Além de cair na conta destino no mesmo segundo em que a transação é finalizada, tudo pode ser feito pelo celular e as pessoas físicas não precisam pagar taxas para transferir o dinheiro
- As vantagens fizeram o novato pix ultrapassar rapidamente a popularidade do sexagenário cartão de débito, que até o segundo semestre de 2021 era o meio de pagamento “queridinho” dos brasileiros
- No 4º trimestre do ano passado, dado mais recente, o Pix chegou a 7,8 bilhões de transações (33,4% do total), enquanto o débito teve 4,1 bilhões (17,5% do total). A concorrência inesperada fez os cartões acelerarem o passo no lançamento de novidades ao mercado. Mas elas serão suficientes?
No meio do labirinto de falésias da praia de Morro Branco (CE), uma multidão de turistas cerca um vendedor de sorvetes. Com um sorriso no rosto, o comerciante anuncia:
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“Não tenho maquininha, mas aceito pix”, afirma. A notícia agradou, já que a maior parte dos turistas, inclusive eu, voltava de um passeio na praia apenas com os celulares em mãos. Cartões de débito ou crédito eram uma peça rara – e até mesmo indesejada – entre os visitantes. Comprei, então, dois sorvetes usando apenas o smartphone.
Esta cena ocorreu em janeiro de 2022 e seria inimaginável de acontecer há dois. O pix, sistema instantâneo de transferência, foi lançado pelo Banco Central em outubro de 2020. Além de cair na conta destino no mesmo segundo em que a transação é realizada, tudo pode ser feito pelo celular e as pessoas físicas não precisam mais pagar taxas para transferir o dinheiro – diferentemente do que ocorria até então com a Transferência Eletrônica Disponível (TED) e o Documento de Ordem de Crédito (DOC), cujas cobranças médias são de R$ 14,16 e R$ 14,57 por transação, segundo dados do BC.
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Pelo lado dos lojistas e comerciantes, a ferramenta se mostrou um meio de pagamento muito eficiente e competitivo. Antes, o valor das vendas pelo cartão de débito poderia levar até dois dias para chegar à conta. Pelo pix, esse processo é instantâneo e menos custoso.
Até março do ano passado, de acordo com o BC, a tarifa média cobrada do comerciante por cada pix era de 0,22%, enquanto cartões de débito cobravam cerca de 1%. As vantagens fizeram o novato pix ultrapassar rapidamente a popularidade do sexagenário cartão de débito, que até o segundo semestre de 2021 era o meio de pagamento “queridinho” dos brasileiros.
No 4º trimestre do ano passado, dado mais recente, o Pix chegou a 7,8 bilhões de transações (33,4% do total), enquanto o débito teve 4,1 bilhões (17,5% do total). A concorrência inesperada fez os cartões acelerarem o passo no lançamento de novidades ao mercado.
“Com a chegada do Pix, o cartão de débito precisa inovar para continuar no jogo dos meios de pagamentos”, afirma Eduardo Reis Filho, educador financeiro e especialista em Investimentos da Ágora Academy.
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Veja algumas funcionalidades apontadas pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) para o cartão de débito, destacadas nesta reportagem do Estadão.
Atualizações do débito são suficientes?
Os esforços do cartão de débito para recuperar a preferência dos brasileiros são bem-vindos, mas ainda insuficientes para fazer frente às vantagens do pix. Pelo menos para os lojistas.
“Com a liquidação instantânea, o comerciante pode ser beneficiado. É um importante avanço, mas os custos continuam sendo o fator preponderante para a preferência”, afirma Filho, da Ágora Academy. A nova possibilidade de parcelamento com o débito também não seria vantajosa tanto pelo lado do lojista, quanto pelo lado do consumidor.
“O parcelamento no débito com juros gera um custo maior para quem vende. Para o consumidor não é tanta vantagem, pois ao escolher esta modalidade é como se estivesse utilizando o cartão de crédito. Para o vendedor haverá custos maiores”, aponta Filho.
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Carol Stange, educadora em finanças pessoais, também possui um pensamento parecido. “É difícil dizer se o cartão de débito pode voltar a vencer o Pix com as novidades de liquidação instantânea e parcelamento com juros, mas podemos fazer uma analogia. O Pix é como uma corrida de Fórmula 1: rápido, eficiente e moderno. Já o cartão de débito é como um carro de passeio: prático, mas com limitações”, afirma.
Na visão de Bruno Mori, planejador financeiro CFP e sócio fundador da consultoria Sarfin, o pix tirou os demais meios de pagamento da zona de conforto que estavam há décadas. Já era previsto que TEDs e débito começariam a se movimentar para segurarem seus respectivos market shares. Ainda assim, o pix continuará fazendo mais sentido para os comerciantes enquanto as taxas forem muito menores.
“A vantagem do pix em relação ao cartão de débito é o desconto, afinal, o comerciante paga taxa para a operadora do cartão”, afirma Mori.
Fernanda Melo, economista e planejadora financeira CFP, ressalta a função de democratização financeira e inclusão digital promovida pelo pix – um sistema que dispensou a necessidade de intermediadores, que agora precisam provar sua importância.
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“No cartão de débito temos intermediadores, a empresa de meios de pagamento (maquininhas) e o banco. Para fazer sentido existir intermediários, é necessário que o serviço deles ofereça alguma vantagem frente ao Pix. Por isso, é natural observar este tipo de atualização no cartão de débito”, diz.
Segurança faz a diferença
Apesar dos benefícios notórios do pix para os lojistas, no caso dos consumidores a diferença é mínima. Nas duas modalidades, a saída de dinheiro da conta é feita de forma imediata e não há taxas cobradas nesta operação. As vantagens e desvantagens ficam por conta de hábitos de utilização, que variam de pessoa para pessoa.
“No pix, as pessoas talvez tenham uma dificuldade operacional maior. Você precisa do celular, uma conexão de internet, entrar no aplicativo do banco e fazer a transação. Enquanto no débito é só puxar o cartão do bolso e resolve de forma mais rápida”, afirma Henrique Castro, professor de finanças da FGV EESP.
O aspecto de segurança também tem sido levado em conta. Em 2022, o número de roubos e furtos de celulares em São Paulo cresceu 34,81% na comparação com 2021, segundo levantamento do Departamento de Economia do Crime da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP). No total, 116,8 mil celulares foram furtados ou roubados no estado ano passado.
A sensação de insegurança tem levado muitos brasileiros a evitarem aplicativos financeiros nos celulares, já que o temor não é só da perda do bem, mas de uma eventual invasão das contas bancárias no smartphone. “Muitas pessoas têm adotado essa prática por conta da violência urbana, e isso é ruim para o pix, porque o consumidor não terá o app do banco para acessar e fazer o pagamento”, afirma Castro.
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Mori, da Sarfin, também vê a falta de segurança pública como um fator limitador para o crescimento do pix. “A desvantagem do sistema é que o consumidor está sujeito a ter o telefone roubado e a pessoa conseguir transferir dinheiro do aplicativo do banco. Para quem opta por pagar por pix, o ideal é ter um limite de cheque especial mais baixo e não andar sempre com muito dinheiro na conta”, diz.
Filho, especialista da Ágora, ressalta que entre semelhanças e diferenças, os dois métodos de pagamento demandam atenção e planejamento financeiro. Como é necessário ter dinheiro em conta para debitar, há o risco de o consumidor cair em ciladas.
“Importante lembrar que os limites de crédito, como cheque especial também são debitados com o uso do Pix e cartão de débito, por isso a disciplina e a utilização com parcimônia são fundamentais para a saúde financeira”, diz o especialista.