- Em fevereiro, os Fiagros registraram saída líquida de R$ 490 mil, segundo mês negativo após o resgate líquido de R$ 12,3 milhões em janeiro
- Guilherme Grahl, sócio da Valora Investimentos, avalia que esse “reposicionamento” de início de ano se deu devido ao nervosismo em relação ao mercado de crédito privado
- Desde que foram criados, os Fiagros operam com uma regulamentação temporária aos moldes dos Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs)
Os Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais (Fiagros) estavam “no embalo” desde o início da regulamentação e listagem na B3, em 2021, mas não escaparam da cautela com as incertezas locais e com o crédito privado. No entanto, enquanto a captação líquida emenda dois meses negativos, o patrimônio líquido cresce a passos lentos, o que especialistas dizem refletir os fundamentos positivos do setor.
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Em fevereiro, os Fiagros registraram saída líquida de R$ 490 mil, segundo mês negativo após o resgate líquido de R$ 12,3 milhões em janeiro, conforme dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O patrimônio líquido é de R$ 10,5 bilhões, com 46 fundos e 255 mil contas nesse tipo de investimento.
Guilherme Grahl, sócio da Valora Investimentos, avalia que esse “reposicionamento” de início de ano se deu devido ao nervosismo em relação ao mercado de crédito privado, com crises em empresas como Americanas e Light.
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“Esses eventos grandes e pontuais que aconteceram podem afetar num primeiro momento a confiança do investidor, mas quando a ‘poeira baixar’ ele vai ver que o agro é um porto seguro. É mais um retardamento do crescimento que uma reversão de tendência”, afirma Grahl, acrescentando que a mudança de governo também pode deixar investidores em compasso de espera.
O executivo tem otimismo com o setor agro devido aos fundamentos, e traz como exemplos a “demanda global aquecida”, com a reabertura da China, “grande importadora dos produtos agro do Brasil”, e a “resiliência do agro em relação à margem”, com lucro de produtores nos últimos anos. Grahl também avalia que a saída de R$ 490 mil dos Fiagros em fevereiro é um valor “ínfimo” ao se considerar o PL da indústria, que segue expandindo conforme investidores estão “aprendendo, vendo e gostando” dos produtos.
Esse interesse do investidor pode ser observado nos dados divulgados esta semana pela B3: em 2022, o número de investidores em produtos ligados ao agronegócio – que englobam, além dos Fiagros, as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) – chegou a 1,6 milhão, ante 834 mil em 2021 (+95%). Embora a maior parcela desses investidores (73%) esteja aplicado apenas em LCAs, o estudo da B3 destaca o avanço das alocações em Fiagro, com mais de 100 mil novos investidores entre dezembro de 2021 e dezembro de 2022.
“Um dos grandes méritos do Fiagro é democratizar o acesso do investidor. A gente tinha o cenário do agro se tornando mais desejado pelo investidor, mas no passado era mais difícil acessá-lo. Para uma pessoa física entrar na emissão primária de um CRA precisaria ser no mínimo um investidor qualificado. Mas agora com R$ 10 mil ele compra uma cota e corre o risco pulverizado de vários CRAs”, diz Grahl. Ele também aponta o benefício para os emissores: novos clientes chegando, um investidor “menor” que deixa a base menos “concentrada” em poucos grandes bolsos.
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Octaciano Neto, diretor de agro do Grupo Suno, também observa que o investidor está procurando alternativas para diversificar sua carteira com o agronegócio. “Apesar de o agro representar quase 30% do PIB [Produto Interno Bruto] nacional, as pessoas têm de 5% a 7% da carteira em agro, e querem aumentar. Isso é uma oportunidade”, afirma. Mas além da dificuldade de acesso aos CRAs, ele cita as poucas opções de empresas na Bolsa brasileira. “A alternativa boa é no mercado de capitais e é o Fiagro”, afirma.
Para o diretor, a queda na captação da indústria foi um “movimento normal de mercado” – dado que o PL e o número de cotistas seguem em alta -, não uma consequência da recente turbulência no mercado de crédito. “É um cenário de crescimento contratado, não tenho dúvida de que o Fiagro se torne em poucos anos a maior fonte de financiamento do agronegócio brasileiro”, diz Neto, acrescentando que muito disso se deve à “avenida pavimentada pelos FIIs”, os fundos de investimento imobiliário. “O papel educacional dos FIIs foi fundamental”, destaca, brincando que agora o investidor vê que tem renda mensal – o dividendo – e o ticker terminando em “11” e já se interessa.
No aguardo da CVM
Desde que foram criados, os Fiagros operam com uma regulamentação temporária aos moldes dos Fundos de Investimento Imobiliário (FII). Mas a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) deve concluir a regulamentação específica do setor ainda este ano, disse na semana passada o superintendente de Securitização, Investimentos Estruturados e Agronegócio da autarquia, Bruno de Freitas Gomes.
Neto, da Suno, celebra a decisão da CVM de regulamentar os Fiagros “agilmente”. A expectativa, agora, é por uma eventual permissão para todos os ativos e lastros num único veículo, o que “vai aumentar as possibilidades de atuação das gestoras”. Já Grahl, da Valora, não espera grandes surpresas, mas sim uma “adaptação prática depois de dois anos do produto ‘rodando’, algo que seja mais customizado em relação ao perfil das garantias e ciclos de produção do agro”.
*Com informações de Isadora Duarte
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