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- O Copom manteve a taxa Selic em 13,75% na reunião realizada nesta quarta-feira (22), mas novos fatores que podem pressionar a taxa de juros brasileira entraram no radar
- Além do risco fiscal e da pressão inflacionária, a falência de bancos nos EUA e possibilidade de crise de crédito por aqui também podem impactar
- Nesse contexto, a visão de corretoras sobre o patamar terminal da Selic em 2023 varia; confira 9 delas
O Comitê de Política Monetária (Copom) seguiu o consenso de mercado e optou por manter a taxa Selic em 13,75% na reunião realizada nesta quarta-feira (22). Apesar da decisão já ser esperada, nas últimas semanas a instituição ganhou novos fatores para colocar na conta na hora de fazer a sua projeção para o futuro da taxa básica de juros no País.
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Não bastasse o risco fiscal e a inflação que ainda persiste, fatores que mantém a Selic em 13,75% ao ano desde agosto de 2022, e a pressão política para o início dos cortes na taxa, outras questões entram no radar. E jogam a favor de um corte nos juros por parte do Banco Central.
A primeira delas é a falência do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank, os maiores bancos americanos a quebrarem desde a grande crise de 2008. O receio de que o caso se tornasse um problema sistêmico por lá fez o Federal Reserve, o banco central dos EUA, anunciar um pacote de medidas emergenciais, ao passo que agentes do mercado começaram a precificar a interrupção do ciclo de alta nos juros americanos.
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Leia também: Caso SVB acelera início da queda de juros nos EUA?
Afinal, neste momento de crise, subir a taxa poderia retirar ainda mais liquidez do mercado. Se confirmado, esse cenário ajudaria a abrir espaço para que o BC brasileiro comece a reduzir a Selic, como explicamos com detalhes nesta reportagem.
Por aqui, a possibilidade do início de uma crise de crédito no mercado brasileiro também assusta. O cenário ganhou força depois que foi apontado na carta mensal do gestor Luis Stuhlberger, da Verde. O “credit crunch” acontece quando as instituições financeiras restringem muito o acesso a crédito a empresas e pessoas físicas, resultando em uma “quebradeira” sistêmica.
Tudo isso entra na esteira ao lado da discussão de risco fiscal, enquanto analistas e economistas aguardam a apresentação do novo arcabouço que deve substituir o Teto de Gastos. Segundo fontes ouvidas pelo E-Investidor, se a regra agradar, sinalizando maior controle de gastos e da dívida pública, joga a favor do corte na Selic. Por outro lado, se o mercado entender que a proposta não é suficiente, a possibilidade dos juros se manterem em 13,75% ao ano por mais tempo ganha força.
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Com tantos fatores no horizonte, as perspectivas para o futuro da Selic variam muito. O boletim Focus mais recente, da última segunda-feira (20), mostra que, pela quinta semana seguida, parte do mercado projeta uma Selic de 12,75% ao final de 2023. O que significaria cortes de um ponto percentual na taxa.
Mas, entre as casas consultadas pelo E-Investidor, há até quem veja os juros brasileiros acima dos 14% no fim do ano.
Confira as projeções de 9 corretoras para a Selic no final de 2023 e as justificativas para os cenários traçados:
- Ativa Investimentos: 13,75% ao ano
A projeção da Ativa é que os cortes na taxa Selic comecem a ocorrer apenas a partir de abril de 2024. Étore Sanchez, economista-chefe da corretora, destaca que não há espaço para queda nos juros enquanto as expectativas de inflação estiverem desancoradas. Ou seja, fora das metas traçadas não só para 2023, mas para 2024 e 2025.
“A retomada da utilização de bancos públicos e empresas públicas e de expansão fiscal faz com que o nosso juro neutro se eleve, consumindo ‘por baixo’ a restrição de política monetária”, explica. “Diga-se de passagem, os 13,75% são muito menos restritivos do que já foram em outros momentos.”
- CM Capital: 12,5% ao ano
Na CM Capital, as expectativas são mais positivas: há previsão de cortes na Selic concentrados no último trimestre do ano, até que a taxa chegue a 12,5%.
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Matheus Pizzani, economista da CM, destaca que o cenário internacional é incerto e que o ambiente doméstico ainda precisa lidar com pressões inflacionárias, além das discussões de reformas e temas fiscais. Por isso, não enxerga espaço para redução da taxa de juros no curtíssimo prazo.
Mas a possibilidade de aprovação de um novo arcabouço fiscal pode ajudar. Nesse caso, a medida precisa ser discutida e aprovada no Legislativo, para depois ter seus impactos incorporados nas decisões do comitê monetário – aí, sim, abrem espaço para a queda do juros no fim do ano. “A partir daí deve haver alguma margem para corte na taxa de juros e, dentro da nossa perspectiva, esse corte deve ocorrer no último trimestre do ano”, diz Pizzani.
- Genial Investimentos: 14,5% ao ano
A Genial tem a maior projeção de Selic para o final de 2023 dentre as casas consultadas: 14,5%. A avaliação é que o ciclo de aperto monetário será “extremamente contracionista” ao longo do ano de 2023.
Yihao Lin, coordenador de economia da Genial, explica que o principal fator de risco fiscal no momento é a incerteza em relação ao arcabouço fiscal a ser anunciado. Se a regra for “frouxa”, a corretora não vê espaço para cortes nos juros ainda que o cenário externo corrobore para isso.
“Caso haja uma regra frouxa, que não vá trazer uma trajetória mais benigna da dívida pública, mantemos a nossa projeção de 14,5% ao ano. Cortes em 2023 não estão em nosso cenário, principalmente pelo risco fiscal e o risco político”, diz Lin.
- Guide Investimentos: 12,25% ao ano
A Guide projeta uma Selic de 12,25% no fim de 2023, com o início dos cortes começando em setembro. Victor Beyruti, economista da casa, explica que está sob avaliação a possibilidade dos cortes começarem no mês de agosto. “Esse é o raciocínio, mas a princípio o nosso call se mantém”, diz, em relação à projeção de início dos cortes em setembro.
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A possibilidade de cortes ainda em agosto vem da consequência de um cenário apoiado pela piora do cenário no exterior, que pode fazer o Fed abaixar os juros americanos mais rápido e abrir espaço para quedas por aqui também.
- Nord Research: 13,75% ao ano
A Nord Research não vê espaço para quedas dos juros ainda neste ano e mantém a projeção em 13,75% para 2023.
“Levando em consideração os fundamentos, não vemos justificativa suficiente para a Selic cair esse ano. Ainda temos um problema inflacionário e estamos distantes do cumprimento das metas”, explica o analista Christopher Galvão.
Galvão destaca, no entanto, as pressões que o governo tem feito ao defender que o patamar “justo” para a Selic no País deveria ser mais baixo – um cenário que pode fazer a taxa ser reduzida, ainda que os fundamentos estejam alinhados na direção da manutenção do atual patamar.
“Houve falas do governo que fizeram o mercado projetar uma Selic próxima de 12% esse ano. O que, ao nosso ver, seria uma taxa exageradamente baixa”, diz o analista. “O que de fato vai acontecer vai depender do quanto o Banco Central vai ceder a essas pressões (do governo).”
- RB Investimentos: 12% ao ano
A projeção da RB Investimentos é que a Selic encerre 2023 em 12%, com cortes nas reuniões do Copom a partir de agosto.
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“Isso pode ser antecipado para junho se a regra fiscal for muito bem recebida, se a reforma tributária caminhar de forma ágil, ou se houver uma pressão via sistema de crédito, além de uma pressão via Fed”, pontua Gustavo Cruz, estrategista-chefe da casa.
- Rico: 13,75% ao ano
Na Rico, a visão é de que a taxa Selic deve se manter no atual patamar de 13,75% até o fim do ano. Com o cenário ainda muito incerto, a chefe de economia da casa, Rachel de Sá, destaca que a reunião do Copom da próxima semana será fundamental para entender como a instituição está avaliando as pressões que vem do exterior.
“Há muita coisa em jogo, já que no cenário doméstico também tem incerteza com um cenário de inflação corrente que está indicando certa estabilidade. Está todo mundo no compasso de espera e, por conta disso, mantemos a nossa expectativa”, diz Sá.
- Western Asset: perto de 12% ao ano
A Western Asset vê a taxa de juros brasileira perto de 12% no fim de 2023, com os cortes acontecendo de forma gradual ao longo do segundo semestre do ano. “Dependendo, claro, de uma sinalização de melhora nas condições fiscais e também de uma percepção de uma desaceleração da inflação ao longo do ano”, destaca Adauto Lima, economista-chefe da casa.
- XP Investimentos: 13,75% ao ano
A XP atualizou seu cenário base de política monetária na virada de 2022 para 2023 e mantém desde então a projeção de uma Selic em 13,75% por todo o ano. Rodolfo Margato, economista da corretora, explica que a revisão aconteceu após a aprovação da PEC da Transição.
“É uma política fiscal expansionista que poderia colocar pressões adicionais nas políticas de inflação, aumentar as incertezas em torno do cenário macro – justamente o que observamos desde o início do ano”, diz.
No entanto, ainda que a projeção se mantenha, a corretora atribuiu um viés de baixa ao cenário com possibilidade de cortes na Selic ainda em 2023, por causa dos últimos acontecimentos do cenário internacional. “Considerando temores que são globais e não apenas locais, talvez o BC tenha que cortar juros de forma antecipada ao que projetamos anteriormente. Mas ainda é um cenário muito nublado.”
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