- Há dois caminhos possíveis. Um é ser um investidor-anjo, aplicando dinheiro diretamente no projeto escolhido, ainda em fase inicial. Outro, destinado ao investidor qualificado, é entrar em um fundo de venture capital e deixar para o gestor a escolha das startups
- A maturação de uma startup até o período de desinvestimento, quando as participações são vendidas e o investidor recupera o dinheiro, é de 6 anos, em média. Mas há janelas para os anjos saírem a partir de 3 anos
- Já o investidor dos fundos se compromete a 10 anos, sem liquidez até o final do prazo. Mas ele irá recebendo o dinheiro na medida em que as participações das empresas do portfólio forem vendidas, o que começa a ocorrer após pelo menos 5 anos
Ajudar a financiar um projeto inovador que pode se transformar em uma história de sucesso é o que move muitos investidores a aplicar dinheiro em startups.
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Esse investimento pode ser feito de duas maneiras. Uma delas é aplicar dinheiro em uma startup em estágio pré-operacional, quando a empresa ainda está formatando o produto e a tese de mercado.
Esses investidores, chamados de anjos, são pessoas físicas em geral interessadas em inovação e com afinidade com a área de interesse daquele projeto.
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O outro caminho é entrar em um fundo de venture capital. Nele, o gestor faz a curadoria dos projetos e compõe uma carteira com várias startups que serão financiadas pelo fundo até o momento do desinvestimento, quando a participação na empresa será vendida.
Para quem quiser embarcar nessa jornada, além de levar em conta que não são poucos os projetos que morrem pelo caminho, é preciso considerar que esse investimento tem horizonte de tempo bastante longo. E uma dinâmica de liquidez muito peculiar.
Retorno para o investidor-anjo leva pelo menos 3 anos
O investidor que aplica dinheiro diretamente em uma startup só será remunerado ao vender sua participação na empresa.
Mesmo que o projeto já tenha começado a dar frutos, com o lançamento da ideia, produto ou serviço no mercado, os lucros obtidos com as vendas são, via de regra, reinvestidos integralmente na startup. Nada disso vai para o bolso do investidor.
A startup atravessa um ciclo de três etapas. Na primeira, de prospecção, ela capta investidores e desenvolve sua tese, um processo que leva cerca de seis meses.
A seguir vem a fase de aceleração, que percorre boa parte de seu ciclo de vida, quando ela usa os recursos para desenvolver o produto ou serviço e construir seu valor como empresa. Isso pode levar de 4 a 6 anos, de acordo com diversos fatores – cada história é única.
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Bruno Profeta, head de fundos da gestora KPTL, explica que diversos fatores podem encurtar ou prolongar esse percurso.
“Se a tese for bem construída e executada com clareza, isso dará mais velocidade no ciclo de transformação da companhia, pois a ajudará a amadurecer mais rápido e entender o que precisa ser desenvolvido”, afirma.
Outro ponto que ele destaca é a capacidade de execução da empresa, que depende da organização e qualidade da equipe. Há, ainda, questões externas à companhia.
“Movimentos de mercado, ciclos positivos ou negativos, fatores conjunturais, tecnológicos, questões cambiais, mudanças de regulamentação: tudo isso pode ajudar ou atrapalhar a startup”, enumera.
Se tiver conseguido chegar à terceira etapa, de desinvestimento, a empresa já será sólida o suficiente para ser vendida a um comprador, que fará investimentos de maior volume para tocar o negócio adiante. É somente nesse momento, da venda de suas participações, que o investidor terá, enfim, o retorno do investimento.
Movimentação dos investidores-anjos
Existem, porém, alguns eventos de liquidez no meio do caminho. Nas diversas rodadas de investimentos que vão captando mais recursos para a continuidade do projeto, abrem-se janelas de oportunidade para que os investidores-anjo que desejarem se retirar vendam suas participações.
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Após a entrada dos primeiros anjos, a startup leva 17 meses para captar uma rodada “Seed”. Em seguida, são cerca de 18 meses para uma rodada “Série A”, mais 18 meses para uma “Série B” e outros 14 meses para uma “Série C”.
“Em alguns casos, os investidores-anjo acabam saindo na rodada Série A, mas, na maioria dos casos, isso acontece nas Séries B e C. Isso significa que é preciso esperar de 35 a 67 meses para um evento de liquidez”, explica Gustavo Gierun, um dos fundadores da Distrito.
Ele ressalva, porém, que esses números refletem o histórico de transações feitas no Brasil desde 2011, mas podem não ocorrer de forma idêntica no futuro.
Renato Valente, sócio da Iporanga Ventures, conta que é muito difícil os primeiros anjos permanecerem na startup até o final do ciclo. Eles vão saindo ao longo do caminho – e alguns são até convidados a se retirar, para dar espaço para investidores maiores.
“Em uma empresa que vai bem, quando chega a rodada Série B, aquele anjo que entrou lá no começo já tem algo entre 10 e 15 vezes o capital investido. Ele já se dá por satisfeito com isso, e sai”, diz.
Fundos têm horizonte de 10 anos, mas vão pagando aos poucos
No caso dos fundos de venture capital, o horizonte é mais longo. Nessa modalidade, o investidor adere ao fundo em sua abertura e nele deve permanecer por toda a sua duração, que costuma ser de 10 anos, com possibilidade de extensão por outros 2. Ele não pode sair do fundo antes do fim do prazo, ou seja, trata-se de um investimento sem liquidez.
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Na primeira fase do fundo, o investidor faz aportes de capital, e esse dinheiro será usado pelo gestor para comprar participações em startups. Mais adiante, quando as startups estiverem maduras, o fundo revenderá essas participações e repartirá os ganhos com os investidores.
Isso não quer dizer, porém, que o investidor receberá todo o dinheiro de uma vez no final de 10 anos. Durante o ciclo de investimentos do fundo, o gestor vai acrescentando novas startups à carteira aos poucos, e elas estão em diferentes estágios do processo de maturação.
O investidor será remunerado após a venda das participações em cada uma dessas empresas, mas nem todas essas vendas ocorrerão ao mesmo tempo.
“A estratégia do fundo é de 10 anos. Das empresas em que estamos investindo neste ano, nós queremos sair em 2030. Nesse momento, em condições ideais, teremos o retorno completo do investimento, quando elas serão vendidas para um grande comprador ou farão um IPO. Mas, no meio do caminho, pode fazer sentido para o fundo sair antes dessas empresas, por várias razões”, explica Valente.
No melhor cenário, em que a startup faz um IPO, o fundo pode ter um ganho de 100 a 200 vezes o capital que foi investido naquela empresa. No entanto, dentro do portfólio do fundo, há várias startups e apenas uma fração pequena delas terá um desfecho de êxito. Assim, o grande sucesso de uma ou de poucas acaba sendo diluído, e a rentabilidade da carteira como um todo é bem menor.
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“Um bom fundo de venture capital costuma entregar três vezes o capital investido em 10 anos, algo como 20% ao ano. Acima de 20%, já é um ótimo retorno. É difícil entregar mais de 25%”, diz o sócio da Iporanga.