- Apesar do Copom ter decidido manter a Selic a 13,75% ao ano, o mercado espera o primeiro corte nos juros em agosto
- Na avaliação de Figueiredo, a recuperação efetiva das ações só deve acontecer com a consolidação do cenário fiscal
Nesta quarta-feira (21), o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano. A decisão seguiu o consenso do mercado que prevê o primeiro corte da taxa básica de juros apenas em agosto, quando haverá a primeira reunião do segundo semestre.
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Até lá, a tendência é que as ações sustentem o movimento de alta nos próximos meses. O Ibovespa, principal índice da B3, acumula valorização de 9,62% em 2023. O bom desempenho acontece com a melhora do cenário fiscal diante da aprovação do novo arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados e dados positivos para a inflação do País, que atingiu 3,94% no acumulado dos últimos 12 meses e está mais próxima do centro da meta para 2023, de 3,25% ao ano.
Na avaliação de Luiz Fernando Figueiredo, presidente do Conselho de Administração da Jive Investments e ex-diretor de política monetária do do Banco Central (BC), a recuperação das ações não deve cessar no primeiro corte da Selic. Os preços dos ativos devem continuar abaixo do valor considerado justo pelo mercado até o fim deste ano com a aprovação do novo arcabouço fiscal no Senado, boas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) do País e com o avanço da reforma tributária.
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Em paralelo, Figueiredo reforça que a renda fixa não está com os dias contados. Ainda que os juros altos tenham rendido retornos robustos aos investidores desde o ano passado, ele diz que o processo de corte na Selic será gradual e longo. “Os ativos prefixados de longo prazo tendem a ter uma maior valorização porque hoje eles embutem muitos juros. Conforme o Banco Central corte a taxa de juros, os títulos vão reduzindo esse juro embutido na rentabilidade”, diz.
Ao E-Investidor, o ex-BC falou sobre os setores da bolsa que devem estar no radar dos investidores, o desempenho do novo governo e como ficarão os ativos de renda fixa com o início da queda da Selic. Confira os principais trechos da entrevista:
E-Investidor – Por que o Copom ainda não cortou os juros?
Luiz Fernando Figueiredo – Há um mês, as expectativas de inflação estavam subindo e seria uma atitude condescendente se o Banco Central reduzisse os juros. Agora as expectativas voltaram a cair gradualmente. A inflação no curto prazo tem tido resultados positivos e isso bom. Tivemos também o arcabouço fiscal que trouxe mais segurança para o cenário fiscal do País. Em paralelo, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) tem sido maior, tanto que as projeções cresceram também. Antes as estimativas estavam abaixo de 1%, agora estão acima de 2%. Tivemos um conjunto de fatores caminhando para uma direção, na qual o Banco Central terá segurança para a queda de juros. Por que não agora? Ainda está muito cedo este processo se consolidar.
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A bolsa tem reagido às expectativas do início do corte da Selic em agosto. Ainda dá tempo para o investidor aproveitar as oportunidades?
Há dois ou três meses havia um pessimismo muito grande com o cenário econômico brasileiro porque a narrativa do governo era muito ruim. Mas o governo conseguiu fazer várias coisas positivas na área macroeconômica, como o arcabouço fiscal e evoluiu nas discussões sobre reforma tributária. O crescimento econômico está maior, assim como a perspectiva de queda da taxa de juros. Tudo isso amplia a confiança do investidor e traz impacto na performance dos ativos financeiros. A tendência é que as ações continuem performando bem ao longo do segundo semestre. Por isso, há um caminho bem razoável de recuperação pela frente porque as ações estavam negociadas a preços abaixo do seu valor justo.
E quando as ações brasileiras vão atingir o seu preço justo na bolsa?
Isso vai acontecer quando reduzirmos ainda mais o risco fiscal. Ou seja, quando o arcabouço fiscal passar definitivamente no Senado, a reforma tributária estiver avançada e quando o Banco Central tiver efetivamente reduzindo as taxas de juros. Então, teremos um caminho mais favorável para os ativos financeiros até o fim deste ano.
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Quais são os setores que os investidores deveriam priorizar neste momento?
Tem que ser aqueles setores mais associados à economia doméstica porque o processo de queda de juros e a aceleração da atividade econômica devem acontecer nos próximos seis meses a um ano. Com esse cenário, os setores do varejo, bancário e o de infraestrutura, especialmente o de energia, devem ir muito bem. O setor de construção civil também deve ir bem porque deve se beneficiar com o cenário de juros mais baixo.
Como ficam os investimentos em renda fixa com o início da redução da taxa de juros?
Não acho que vão perder a atratividade porque será um processo de corte de juros gradual e longo. Mas os ativos prefixados de longo prazo tendem a ter uma maior valorização porque hoje eles embutem muitos juros. Conforme o Banco Central corte a taxa de juros, os títulos vão reduzindo esse juro embutido na rentabilidade. Por isso, os ativos que mais gosto são os prefixados mais longos ou os pós-fixados à inflação com prazos mais longos.
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Qual avaliação do Sr. sobre os reflexos do primeiro semestre do novo governo no mercado financeiro?
Esse é um governo difícil de ler. Do lado da narrativa, a gestão tem sido ruim. No entanto, o há uma direção oposta. O Ministério da Fazenda apresentou um arcabouço fiscal bem razoável e busca trazer mais receitas para que o orçamento fique menos instável. Ou seja, da perspectiva macroeconômica, os riscos que vinham dessa narrativa negativa foram reduzidos. O investidor precisa focar mais no que o governo está fazendo e não no que está sendo dito.