Com capital aberto desde abril de 2017, a Azul (AZUL4) viu seu papel ter forte valorização em 2019, encerrando o ano com alta de mais de 50%. Porém, com a pandemia de covid-19, que impôs severas restrições sociais, a ação da empresa despencou, assim como a de todas as outras do setor ao redor do mundo.
Em 2020, o papel acumula queda de 62,99% até o fechamento do mercado desta quinta-feira (20). A desvalorização foi tanta que a alta superior a 160% desde seu IPO até o período pré-crise foi revertida. Atualmente a ação tem baixa histórica de 6,18%.
“A Azul vinha com um crescimento muito forte, mas o cenário de pandemia fez o setor ser um dos mais afetados no mundo, com a demanda por passagens aéreas caindo drasticamente”, diz Flávia Meireles, analista de research da Ágora Investimentos.
Pelo fato do setor aéreo ter sido um dos mais impactados pela crise, o E-Investidor questionou os leitores sobre qual empresa merecia uma análise, e a Azul venceu a enquete com 44,2% dos votos.
Na próxima semana, o E-Investidor fará uma matéria sobre uma empresa do setor aéreo, um dos mais impactos pela crise. Sobre qual você gostaria ler?
A grande preocupação em relação às empresas do setor aéreo no momento da pandemia é o quão bem elas administram seu caixa. Com altos custos para manter a companhia viva e sem sua fonte de renda que são as viagens, a situação do caixa é fundamental para saber se a Azul tem condições de sobreviver ao momento.
“Há uma grande imprevisibilidade sobre a volta da demanda no setor e um bom caixa é fundamental para conseguir atravessar a pandemia, pois se as pessoas não podem sair de casa, quem dirá viajar”, afirma Ricardo Campos, sócio e CIO da Reach Capital.
Neste cenário, os especialistas ressaltam que a Azul fez um bom trabalho de redução de custos para preservar seu caixa e ao que tudo indica a empresa tem capacidade para aguentar a crise até a demanda voltar.
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Entre as medidas estão a negociação de cortes salariais, renegociação de dívidas, adiamento da renovação da sua frota e de investimentos não essenciais, entre outros. Ademais, ainda é esperado o pacote de socorro do governo às empresas do setor, que deve fornecer R$ 3 bilhões para a Azul em linha de crédito do BNDES.
“Essas medidas foram boas e o resultado positivo disso nós vemos no balanço trimestral da Azul”, diz Meireles, da Ágora. A empresa encerrou o 2T20 com caixa de R$ 2,3 bi, valor maior do que era projetado.
Segundo a companhia, é esperada a queima diária de caixa no valor de R$ 3 milhões até o final de 2020. “A Azul conseguiu uma boa economia de caixa com as medidas. Com esse equilíbrio, tem capacidade de aguentar mais tempo a pandemia para fazer o negócio voltar”, comenta Campos.
O que esperar da AZUL4?
Apesar de a Azul mostrar uma boa resiliência, a crise continua e a ação ainda deve ter muito volatilidade. “Ninguém sabe até quando a pandemia vai durar, ainda se tem muitas dúvidas em relação ao controle e a eficácia da vacina”, diz o sócio da Reach Capital.
Além disso, os especialistas salientam que a empresa tem grande parte da sua receita atrelada às viagens corporativas, o que pesa como um fator negativo para a companhia na retomada.
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“A demanda corporativa vai ser baixa quando tudo voltar, pois a tendência é que muitas reuniões continuem sendo por plataformas on-line e a Azul vai ter que se adaptar ao novo cenário”, afirma Meireles.
Porém, a companhia também tem pontos positivos que a diferencia de seus concorrentes, como a parceria exclusiva com o Mercado Livre para transporte de cargas. “A empresa gera uma receita muito grande disso e deve aumentar a estratégia”, comenta Campos.
Ao que tudo indica, portanto, a Azul deve conseguir superar a crise, mas ainda há riscos para de fato consolidar sua recuperação. “Nossa visão é positiva para o médio e longo prazo, mas lembrando que no curto a companhia ainda pode sofrer”, diz Meireles.
A Ágora Investimentos têm recomendação de compra para AZUL4 e preço-alvo de R$ 23. Atualmente o papel está cotado em R$ 21,57. “Se a empresa atingir o preço, mas continuar mostrando preservação de caixa e o número de voos começar a subir, a gente deve revisar o preço para cima”, ressalta Meireles.