- O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu a taxa básica de juros da economia em 0,5 ponto percentual na última quarta-feira (20)
- Com a diminuição dos rendimentos dos ativos conservadores, as atenções começam a se voltar para a renda variável
- Para Nicholas Kawasaki, estrategista-chefe da Nova Futura Private, é um momento favorável para aumentar a exposição a ações ou iniciar uma posição. Entretanto, o investidor deve preferir setores historicamente resilientes
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 0,5 ponto percentual nesta quarta-feira (20). Ela saiu de 13,25% ao ano para 12,75% ao ano.
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A expectativa dos analistas do mercado financeiro é de que o BC faça outros dois cortes de mesma magnitude nas reuniões de outubro e dezembro, o que deve fazer com que a Selic termine 2023 em 11,75% ao ano.
Com a diminuição da taxa de juros, a rentabilidade dos ativos de renda fixa é impactada negativamente. Um Certificado de Depósito Bancário (CDB) que rende 104% do CDI, por exemplo, deve ter seu rendimento líquido, descontados os impostos, reduzido de 9,65% para 9,29% ao ano.
Assim, as atenções começam a se voltar para a renda variável. Para Nicholas Kawasaki, estrategista-chefe da Nova Futura Private, é um momento favorável para aumentar a exposição na Bolsa. Entretanto, os setores mais indicados são aqueles historicamente resilientes aos diversos ciclos econômicos, como energia e saneamento, e o segmento financeiro, com bancos e seguradoras. Isto porque ainda há incertezas no radar que podem impactar a economia, como as preocupações em relação à situação fiscal do Brasil.
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Na outra ponta, persistem os alertas diante de eventuais pressões inflacionárias. “A forte alta do petróleo nos últimos dias traz apreensão, já que a alta da commodity influencia toda a cadeia e pode trazer reflexos para a inflação no mundo”, ressalta Kawasaki.
Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, também enxerga o momento como positivo para montar posições em ações. Ele vê a Bolsa brasileira bastante descontada, com o indicador preço/lucro em um patamar historicamente baixo.
Contudo, assim como Kawasaki, Fernandes está cauteloso e vê oportunidades em setores mais resilientes, como commodities, construção e educação, que são bem sensíveis a mudanças na taxa de juros e também apresentam bom apetite comprador. Ele também aponta que setor bancário é favorecido em um ciclo de queda da Selic. “A diminuição dos juros acaba reduzindo o custo do passivo do banco, além de aumentar a demanda por crédito com taxas de juros mais baixas”, explica Fernandes.
Ele ressalta que o investidor que pretende montar posições em ações deve estar atento à alavancagem das empresas. As mais endividadas devem começar a sentir o efeito positivo da queda da Selic somente no primeiro trimestre de 2024, com um alívio das despesas financeiras (com o pagamento de juros da dívida). “Até lá, essas companhias podem ter dificuldades em rolar duas dívidas e manter sua saúde financeira”, diz o especialista da A7 Capital.
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No exterior, a indicação de alocação segue a mesma linha: o investidor deve dar preferência a empresas robustas financeiramente, especialmente aquelas que são conhecidas como “the magnificent seven” (as sete magnifícas, na tradução para o português): Apple, Microsoft, Alphabet (dona do Google), Amazon, Nvidia, Tesla e Meta. Para Alex Silva, sócio da gestora de patrimônio Aware Investments, elas não podem ficar de fora dos portfólios.
Renda fixa ainda forte no jogo
Nem todos os analistas acreditam que este seja o momento de focar na Bolsa. Para Marcel Andrade, head de fundo de fundos da SulAmérica Investimentos, a conjuntura segue desfavorável para os ativos de risco.
Ele pontua que, mesmo com a queda da taxa Selic, o juro real (taxa de juros com desconto da inflação) continuará atrativo, em torno de 6% ao ano até dezembro. Isso significa que os rendimentos dos ativos conservadores permanecerão vantajosos, apesar de menores.
De acordo com Andrade, os títulos de renda fixa indexados à inflação de prazos intermediários se apresentam como uma boa oportunidade de alocação. Atualmente, o Tesouro IPCA+, por exemplo, está pagando mais de 5% de juro prefixado mais a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). “Apesar do processo recente de desinflação da economia, acreditamos que os maiores gastos públicos, no médio prazo, podem acarretar mais inflação, o que beneficiará também o carrego dessas posições”, diz o especialista da SulAmérica Investimentos.
Contudo, é preciso ressaltar que os títulos indexados à inflação possuem volatilidade e podem sofrer com prejuízos em caso de resgates feitos antes do vencimento do ativo. Caso o investidor precise de liquidez (resgatar o dinheiro a qualquer momento), o mais indicado é apostar em títulos de renda fixa pós-fixados e atrelados à Selic. “Os títulos pós-fixados ainda apresentam um nível de taxa interessante, especialmente quando comparados à inflação, e possuem volatilidade menor”, diz Andrade.