- No Brasil, alguns índices de atividade econômica divulgados em outubro vieram mais fracos na margem
- A redução da taxa básica de juros se dá num momento de maior controle inflacionário
- Com a entrada de mais dólares no Brasil, o efeito do menor diferencial de taxa de juros Brasil-EUA é atenuado, impedindo uma maior desvalorização do real
A Bolsa finalmente rompeu o patamar dos 120 mil pontos por aqui, fechando a última sexta-feira (10) aos 120.568 pontos. Precisamos de um gatilho adicional para sustentar esta alta, como uma melhora no cenário externo ou uma sinalização por parte do governo brasileiro no ajuste fiscal pelo lado do gasto público. Infelizmente, nada disso aconteceu. Pelo contrário, as incertezas se intensificaram tanto no Brasil quanto no exterior.
No Brasil, alguns índices de atividade econômica divulgados em outubro vieram mais fracos na margem. Em setembro, o setor de serviços recuo 0,9%, e as vendas no varejo caíram 0,2% contra o mês anterior. Na indústria, a produção passou de 0,4% em agosto para 0,1% em setembro.
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Em sentido contrário, foram criadas 211,76 mil vagas de trabalho no mercado formal em setembro (acima do esperado), de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), e a taxa de desemprego ficou em 7,7% no mesmo mês, contra 7,8% em agosto, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em resumo, o mercado de trabalho melhorou em setembro, apesar do fraco desempenho da atividade econômica.
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No entanto, a maior preocupação do mercado não está relacionada à atividade econômica, mas ao lado fiscal. Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu uma declaração de que não atingiria a meta fiscal de 2024 (zeragem do déficit primário). A declaração foi mal digerida pelo mercado, ocasionado uma alta do dólar e dos juros futuros recentemente.
Apesar do Banco Central (BC) ter sinalizado que a taxa Selic, hoje em 12,25% ao ano, continuará caindo em 0,5 ponto porcentual (p.p.), a curva de juros abriu (elevação de juros futuros) por ponta da elevação do prêmio de risco fiscal.
A redução da taxa básica de juros ocorre num momento de maior controle inflacionário. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15, que funciona como uma prévia do IPCA) passou de 0,35% em setembro para 0,21% em outubro. Além da desaceleração do índice cheio, algumas medidas de núcleo apresentaram melhora.
O IPCA-EX3 – composto por serviços e produtos industriais, itens mais sensíveis à política monetária – recuou de 0,15% para 0,09% na comparação mensal. Já o IPCA de outubro, que vimos na semana passada, ficou em 0,24% levemente abaixo das expectativas – em 12 meses, índice recuou para 4,82%.
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Além do maior controle da inflação corrente, as expectativas inflacionárias estão mais ancoradas. De acordo com o último relatório Focus, a previsão de IPCA para 2023 é de 4,63%, dentro do teto superior da meta de inflação de 2023 (4,75%).
Inflação nos EUA
Se no Brasil o IPCA não traz grandes preocupações a curto prazo, não se pode dizer o mesmo em relação a inflação americana. O Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) de setembro ficou em 0,4%, acima da projeção de mercado de 0,3%. Nos últimos 12 meses, o indicador acumula alta de 3,7%, bem acima da meta do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) de 2%.
Além disso, a atividade econômica continua forte, trazendo preocupações inflacionárias na economia americana. A prévia do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre ficou acima do esperado (4,9% contra 4,3% em taxa anualizada), puxada principalmente pelo consumo elevado. O próprio comunicado do Fed, ao justificar a manutenção do Fed Fund Rate (os juros americanos) no intervalo de 5,25% a 5,5% ao ano, trouxe preocupações referentes à resiliência da atividade econômica e do mercado de trabalho.
De acordo com o documento, a atividade econômica se expandiu fortemente no terceiro trimestre, o mercado de trabalho continua forte e a inflação segue elevada. Além disso, o Fed deixou uma porta aberta para mais elevações da taxa de juros, caso necessário. Esses riscos se refletem na curva de juros americana, com elevação do yield (rendimento) de um título público (Treasury) com vencimento de dez anos.
Os juros mais elevados nos EUA colocam pressão no dólar no Brasil. A elevação da divisa norte-americana só não é maior devido ao efeito de nossa balança comercial que tem apresentado aumento das exportações e redução de importações. Com a entrada de mais dólares no País, o efeito do menor diferencial de taxa de juros Brasil-EUA é atenuado, impedindo uma maior desvalorização do real.
China e guerra
O superávit da balança comercial tende a continuar forte caso o pacote de estímulos anunciados recentemente pelo governo chinês seja bem sucedido para aquecer a economia do gigante asiático. Com a China crescendo mais, o Brasil exporta mais commodities para Pequim, impactando positivamente na valorização do real e no crescimento econômico
Porém, há dúvidas se as medidas anunciadas pelo governo de Pequim surtirão efeito e serão capazes de levar a um maior crescimento econômico da segunda maior economia do mundo.
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Outra fonte de preocupação está relacionada a problemas de crédito de empresas do setor imobiliário chinês. Inadimplências de grandes construtoras podem contaminar o sistema bancário do país, trazendo graves problemas econômicos para a China e, consequentemente, para o mundo e para o Brasil.
Além das taxas de juros elevadas nos EUA e os problemas no mercado imobiliário chinês, há também uma guerra em curso no Oriente Médio, travada entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Por ora, o conflito não trouxe grandes consequências para a economia real e para os mercados financeiros.
No entanto, uma escalada com entrada direta ou indiretamente do Irã, de países árabes e dos EUA poderá elevar substancialmente o preço do petróleo, potencializando a inflação global.
Em suma, há muito mais fatores de risco na mesa do que de otimismo, seja no Brasil (fiscal) ou no exterior (incertezas geopolíticas no Oriente Médio e econômicas sobre China e juros elevados nos EUA).
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Nesse caso, vale a pena correr para o porto seguro do mundo, ainda mais com taxas de juros tão atrativas. A hora da renda fixa nos EUA chegou!