- "Um dos erros mais comuns dos investidores é não ter consciência do que não sabe", diz Bea Aguillar
- "Aqui no Brasil temos poucas ações listadas e destas 400, são poucas as empresas realmente boas"
- 'Vejo que o mercado anda animado demais com a renda variável, mas esquece que dentro da renda fixa americana pode existir oportunidades de proteção e ganhos com a marcação a mercado", afirma
A Bea Aguillar, do canal Papo de Bolsa, além de ser uma das pioneiras da educação financeira no Brasil, quando pensamos em influenciadores, também é uma das mais estudiosas e competentes especialistas que conheci nesse mercado.
Leia também
Apesar de falar sobre algumas ações que ela gosta muito, a importância da diversificação no exterior e outras dicas de como investir, eu tinha curiosidade de saber exatamente como ela investe e como construiu seu patrimônio milionário.
Agora, o segredo acabou. Nessa entrevista exclusiva para a minha coluna, Bea Aguillar revela o que todo mundo quer saber. Confira o bate-papo.
1-Quais são os erros mais comuns cometidos pelos investidores?
Um dos erros mais comuns dos investidores é não ter consciência do que não sabe. Pois é, a maioria dos investidores ficam sabendo sobre o mercado financeiro pelas mídias, colegas, amigos, etc. e acabam caindo de paraquedas aqui. Leem meia dúzia de conteúdos, assistem alguns vídeos no YouTube e acham que estão prontos para fazer excelentes escolhas. Estes, costumam fugir de opiniões contrárias às deles e buscam apenas aquelas que confirmem seu viés. E aí, quando amargam algum prejuízo no mercado ou culpam o mercado ou começam a entender tardiamente que grandes nomes dos investimentos não se fizeram em poucos meses ou anos, mas sim décadas e ainda assim correm o risco de cometer erros.
Publicidade
Um dos maiores erros dos investidores é a falta de humildade e visão de que o mercado é como o mar… não temos controle sobre ele, apenas sobre o nosso barco (carteira de investimentos). Portanto, admitir que se tem um certo nível de ignorância e procurar boas estratégias para proteger seu barco pode ser o mais prudente.
2-Quais foram os maiores erros que você cometeu em sua trajetória financeira?
Exatamente o primeiro erro que mencionei anteriormente. Apesar de sempre ter tido educação financeira em casa e ter sido estimulada pelos meus pais a investir desde cedo, quando eu comecei criava teses e queria discutir com quem estava ao meu lado com mais de 30 anos de experiência na área. O resultado? Meu pai nem teimava mais comigo, apenas deixava eu aprender com a minha própria teimosia. Infelizmente, aprendi sentindo no bolso.
Além desse erro, outra besteira que fiz por um tempo foi querer investir em renda variável sem reserva de emergência. Murphy resolveu atuar e no pior momento, quando a Bolsa estava em baixa, eu precisei de dinheiro e tive de liquidar algumas posições. Óbvio que alguns anos depois se eu tivesse mantido aquelas ações, facilmente eu teria triplicado o valor investido, mas “se” não ganha jogo e por falta de planejamento perdi boas oportunidades.
3-A maior parte do seu patrimônio foi adquirida por meio de investimentos ou empreendendo? O investidor muitas vezes se ilude achando que ficará rico somente por que investe?
Trabalhando e empreendendo. São raros os casos em que alguém enriquece apenas com os investimentos. Tenho para mim que investimentos é apenas um mecanismo para potencializar aquilo que você ganhou gerando valor para outras pessoas. Eventualmente você pode até acertar um bom investimento e ganhar bastante dinheiro, mas isso não deve ser tratado como regra para não criar a falsa ilusão de que Bolsa de valores é um caminho para ficar rico fácil e rápido.
4-Como é a carteira de investimentos da Bea Aguillar? Quais tipos de ativos compõem a carteira e qual a distribuição percentual entre eles?
Ao longo destes 12 anos minha carteira mudou bastante. Já experimentei diversas estratégias em diversos mercados e hoje a grosso modo eu tenho minha carteira 50% no Brasil e 50% no exterior. Essa inclusive é uma mudança recente, que começou apenas em 2019 depois que acessar o mercado lá fora ficou muito mais fácil com corretoras especializadas em brasileiros.
Lá fora minha alocação é majoritariamente em ETFs, fundos de índices negociados em bolsa, que replicam algum mercado ou setor específico. Tenho bem poucas ações lá. Para quem decide investir lá fora, ao meu ver esse é o caminho mais simples e comprovadamente efetivo.
Passei a dar valor para os ETFs na gringa após ouvir mais de uma vez de um dos maiores gurus do mercado, Warren Buffett, que a maioria dos investidores teria se dado melhor se tivessem apenas comprado um ETF que replica a bolsa americana ao invés de fazer o tão desejado stock picking. Isso porque, a maioria dos investidores acham que sabem escolher boas ações, mas no fundo não fazem o dever de casa. Apesar de eu ser analista, meu foco acaba sendo em estudar as empresas aqui no Brasil e economizar tempo no mercado dos EUA que é muito mais eficiente.
Publicidade
Aqui no Brasil temos poucas ações listadas e destas 400, são poucas as empresas realmente boas. Sabendo disso e considerando a composição do IBOV ruim por ser concentrado demais, optei por gastar meu tempo analisando ações aqui. Também tenho FIIs, mas é uma parcela pequena no meu portfólio, menos de 6%.
A renda fixa praticamente inexiste na minha carteira, o que mantenho hoje é um ETF lá fora que investe em títulos do tesouro americano. Vejo que o mercado anda animado demais com a renda variável, mas esquece que dentro da renda fixa americana pode existir oportunidades de proteção e ganhos com a marcação a mercado.
5-Existem tipos específicos de empresas listadas na B3 das quais você evitaria investir? Qual seria o motivo por trás desse cuidado?
Num geral não invisto em empresas que eu não entenda o que faz para ganhar dinheiro, mas falando de um setor específico, eu fico de fora das aéreas. É um setor que depende de muitas variáveis que fogem do controle das empresas, como dólar, juros e preço dos combustíveis. São variáveis negociadas diariamente no mercado e oscilam bastante conforme acontecimentos de qualquer lugar do mundo. Cabe ressaltar que aéreas como Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4), são diferentes da Embraer (EMBR3), que trabalha com a fabricação das aeronaves e tem uma dinâmica diferente.
6-Atualmente, qual porcentagem da sua renda é destinada a investimentos?
Hoje, 40% do que ganho vai para investimentos, mas isso é uma consequência de eu ter buscado ganhar mais com o meu trabalho, sem subir absurdamente meu custo de vida. Quando ganhava 10x menos do que ganho hoje, eu sempre tentava guardar entre 10% e 20%.
7-Se você recebesse seus primeiros R$ 100 mil hoje, como você investiria?
Meu perfil é agressivo, então seguiria a estratégia de alocar 50% aqui no Brasil e 50% lá fora. Aqui eu focaria parte em ações de boas e grandes empresas, outra parte em small caps que ainda tem algum desconto na nossa bolsa e outra parte em FIIs.
Lá fora eu dividiria o valor em ETFs segmentados, buscando o índice geral da bolsa americana, um pouco de bonds americanos e se for do perfil do investidor, o segmento de urânio, emergentes e financeiro.
8- Muito tem se falado de investir no exterior. Qual o grau de importância para o investidor e como começar?
Precisamos primeiramente quebrar o viés do país natal. Muitos acham que por estarem no Brasil, investir no mercado brasileiro será mais seguro, mas a verdade é que apenas achamos que entendemos melhor nosso mercado, quando na verdade estamos falando de um mercado emergente. Sendo assim, é muito mais seguro você investir em uma grande economia, com moeda forte do que estar 100% alocado aqui. Claro que é perfeitamente possível encontrar oportunidades em ambos os mercados, mas pensando racionalmente em segurança, proteção e maior leque de oportunidades o mercado americano acaba sendo uma excelente pedida.
Começar hoje não é difícil, o primeiro passo é buscar uma corretora que tenha baixo custo e atenda suas necessidades. Existem várias corretoras especializadas em brasileiros que ajudam tanto ao oferecer atendimento em português, como relatórios auxiliares para o Imposto de Renda.
Publicidade
O segundo passo é estudar! Não tem jeito, apesar de podermos adotar estratégias simples via ETFs, é importante saber escolher bons ativos e as regras do mercado lá fora. Hoje, existem diversos conteúdos gratuitos no YouTube ou via cursos que podem ajudar. O mais importante de tudo isso é ter paciência e foco no longo prazo.