- Na véspera da reunião mais imprevisível do Comitê de Política Monetário (Copom) do Banco Central em pelo menos 36 meses, a Verde Asset realizou a 24ª apresentação do fundo Verde em São Paulo
- Durante o encontro desta terça-feira (7), que reuniu majoritariamente clientes da asset, a casa traduziu as perspectivas econômicas e de mercado das suas principais vozes
Na véspera da reunião mais imprevisível do Comitê de Política Monetário (Copom) do Banco Central em pelo menos 36 meses, a Verde Asset realizou a 24ª apresentação do fundo Verde em São Paulo.
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Durante o encontro desta terça-feira (7), que reuniu majoritariamente clientes da asset, a casa traduziu as perspectivas econômicas e de mercado das suas principais vozes: Daniel Leichsenring, economista-chefe; Luiz Parreiras, gestor da estratégia multimercado e previdência; Daniel Campion, gestor da estratégia de ações globais; e claro, Luis Stuhlberger, gestor do fundo Verde, além de CEO e CIO.
Leichsenring iniciou as análises no painel “Gastando a Sorte”, em que buscou explicar a resiliência da economia americana, mesmo com os juros no maior patamar em décadas, entre 5,25% e 5,5% ao ano, e a facilidade do Brasil em perder as oportunidades.”Os EUA seguem desafiando as leis da física”, brincou o economista, na abertura da discussão. Para a Verde, a “excepcionalidade” do comportamento econômico do país acontece na esteira de alguns fatores, como sucessivos “choques de oferta” positivos.
Um deles é o aumento populacional dos EUA, impulsionado principalmente pela imigração, além da maior participação das mulheres no mercado de trabalho. Com mais pessoas produzindo, a economia se tornou mais resiliente do que a média histórica.
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Além disso, os gastos do governo norte-americano cresceram em um ritmo muito mais forte do que o normal, impulsionado por programas de incentivo implantados durante a pandemia de covid-19, e algumas mudanças comportamentais, como a diminuição da taxa de poupança do americano.
Tudo isso, entretanto, é lido como temporário. A Verde não desistiu do corte de juros nos EUA e vê um cenário bem mais positivo no horizonte. Um sinal de que os juros altos estão funcionando por lá é o efeito já observado nas pequenas empresas, de diminuição expressiva de contratações nos últimos seis meses.
“Chance de ter uma desaceleração maior no futuro”, diz Leichsenring. “Acho mais razoável esperar que a gente de engaje num ciclo de queda adiante. Estamos no auge do aperto monetário (no mundo).”
O risco para esse cenário são as eleições nos EUA, caso o resultado entendido hoje como menos provável — a eleição de Donald Trump — desembarace um processo de reprecificação, fora as questões fiscais no país. “Não é só o fiscal brasileiro que é horrível, o americano também é. Embora ninguém cogite um default dos EUA”, afirma o economista.
Brasil especialista em gastar
Se por um lado, mesmo com uma economia mais resiliente do que o esperado, os EUA devem começar a cortar juros adiante. Por outro, o Brasil segue “gastando” – literalmente — a oportunidade de se aproveitar do efeito da queda de juros na maior economia do mundo.
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O motivo mais destacado é a questão fiscal. Leichsenring aponta o aumento explosivo de gastos obrigatórios, de R$ 300 bilhões de 2022 para cá. Na média, o economista estima que o país gaste R$ 900 bilhões a mais todos os anos.
Ele ressalta que, geralmente, no primeiro ano de governo todos os presidentes “razoáveis” fizeram algum ajuste fiscal – mas isto não aconteceu no atual governo Lula (PT). “Ficamos percepção de que o juro neutro é maior tudo isso por conta de uma política fiscal totalmente desajustada”, afirma Leichsenring.
Com isso, a percepção da Verde é de que a taxa básica de juros Selic deve chegar a 9,75% ao ano e permanecer nesse patamar por algum tempo. Já o consenso de mercado, projetado no Boletim Focus do BC, aponta para um juro mais baixo, de 9% ao ano até o final do ano que vem.
“Acho difícil nas condições atuais ir para 9%, o mundo precisaria melhorar muito”, aponta Leichsenring. Essa melhora no “mundo” transparece o quanto o Brasil ficou dependente do cenário externo, uma vez que o fiscal doméstico não pesa positivamente na balança. “Ficamos mais dependentes do dólar. Dá para esperar no futuro um cenário melhor, com países emergentes e desenvolvidos se engajando em uma queda de juros. Brasil se beneficia disso, mas estamos gastando tudo.”
Crédito de volta ao jogo
Luiz Parreiras, gestor da estratégia multimercado e previdência da Verde Asset, ficou incumbido de traçar as oportunidades no crédito após os eventos de grande volatilidade no ano passado – como o colapso da Americanas, a crise na Light e a quebra de bancos médios nos EUA.
Segundo ele, o cenário já está bem mais tranquilo. “Os mercados de crédito reabriram de maneira importante (no exterior). Crédito já não é mais um risco e está voltando com bastante força”, diz o gestor. “No Brasil não é diferente. O mercado primário reabriu nos últimos meses com muita força”, afirma.
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A Verde mostra que, ao longo do ano passado, o mercado brasileiro teve R$ 12 bilhões de emissão de títulos privados. “Nos últimos meses já voltamos a ter emissões na casa dos R$ 60,5 bi. O mercado está pujante com spreads baixos.”
Neste mercado de crédito, a Verde não olha para os títulos high grade. Ou seja, com menores riscos e menores retornos. Também não atua em Special Situations, créditos com o mais alto nível de risco e maiores retornos. A gestora prefere o “meio do caminho”, com os títulos high yield, que tem um nível de risco maior do que os high grade, assim como rentabilidade mais alta.
Ativos isentos
Outro fator para o qual Parreiras chama a atenção é o crescimento dos ativos isentos de forma exponencial nos últimos quatro anos.
No ano passado, por exemplo, o mercado brasileiro terminou com mais de R$ 1 trilhão em estoque de ativos isentos. “Em outras palavras, o governo está deixando de tributar o investimento de ‘todo mundo’ para dar incentivos a certos setores. O problema é que o negócio triplicou nesses anos e gerou problemas”, afirma o especialista, apontando que o principal problema é fiscal, já que o governo deixa de arrecadar.
Entretanto, com o aperto das regras em torno da emissão de ativos isentos, a expectativa é de que os produtos tributados ganhem atratividade. Em termos monetários, Parreiras estima que algo em torno de R$ 600 bilhões a R$ 700 bilhões voltem para os investimentos tributados. Luis Stuhlberger também lançou suas análises sobre a situação do mercado brasileiro e classificou 2024 como um ano “extremamente frustrante“.