- A Selic foi ajustada pela sétima vez pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central
- Para analistas consultados pelo E-Investidor, não há consenso sobre o que fazer com os investimentos na Bolsa
- É recomendável que os investidores tenham cautela e avaliem bem os objetivos e perfil de risco
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu, pela sétima vez seguida, a Selic em 0,25 ponto porcentual nesta quarta-feira (8). Com isso, a taxa básica de juros do Brasil passou de 10,75% ao ano para 10,50% ao ano (a.a.), dando sequência a um movimento contínuo de queda começou em agosto do ano passado. Com os juros mais baixos, é hora de retornar ou mesmo priorizar os investimentos em ações na Bolsa?
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Os investidores devem ter cautela e avaliar bem os objetivos e seu perfil de risco, porque para analistas consultados pelo E-Investidor, não há consenso à resposta para a pergunta acima. Hugo Queiroz, sócio diretor da L4 Capital, avalia que o momento é pertinente para entrada na Bolsa pois os ativos estão sendo negociados a um “bom preço”, com múltiplos baixos.
“Quando olhamos o Ibovespa, estamos falando de um índice negociando abaixo de 8x (a relação de Preço/Lucro ou P/L), o que é muito barato, considerando a média histórica próxima de 14x. Então o valuation (valor do ativo) das empresas ainda está barato e atrativo para se investir, independentemente do cenário de Selic daqui para frente”, diz Queiroz.
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Andre Fernandes, head de Renda Variável e sócio da A7 Capital, também tem a mesma leitura de que os ativos brasileiros na Bolsa ainda estão descontados e, por isso, há bastante potencial de ganho com esses papéis. “Para quem procura investimento de longo prazo, as ações do Ibovespa estão a preços atrativos”, analisa Fernandes.
Recomendações antes de investir na Bolsa
Há quem entenda, todavia, que o momento atual não é o ideal para ingresso na Bolsa. Rodrigo Cohen, analista de investimentos e embaixador da XP, avalia que o patamar de ritmo de queda dos juros no Brasil vai diminuir ou parar de cair. O mesmo ele diz sobre os Estados Unidos, país que serve de balizador para outros mercados. Para ele, por lá, “os juros não vão cair tão cedo”. “Nesse cenário macroeconômico, não é um momento bom de entrar na Bolsa”, diz Cohen.
Sobre os preços das ações estarem descontados e, por isso, valer a pena investir nesses papéis, Cohen entende que a cautela se faz necessária. Para ele, a confirmação desse “desconto” nos preços se dará quando começarem a sair os próximos resultados corporativos. “Se a empresa que está descontada não tiver lucro no balanço ela continuará valendo pouco. Só valeria investir se o lucro se mantivesse similar ao do último trimestre. Essa é uma premissa básica”, defende Cohen.
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Além disso, ele afirma que, com os juros parando de cair em um patamar maior, o custo do dinheiro pode ficar mais caro para as companhias. “Se o cenário no Brasil também não estiver favorecendo com incertezas fiscais, por exemplo, as empresas podem não ter lucro, o que prejudica o crescimento delas. Então, no curto prazo, não vale investir na Bolsa, mas, sim, fazer caixa”, diz.
Para seguir a recomendação dele, Cohen sugere investimento em empresas estrangeiras, seja por meio de BDRs (título emitido no Brasil que representa uma ação de companhia aberta sediada no exterior) ou investindo diretamente nas ações gringas. Nestes casos, ele cita companhias de tecnologia, que “têm entregado ótimos resultados”. Como exemplo, cita Tesla (TSLA34), Apple (AAPL34), Microsoft (MSFT34), Alphabet (GOGL34), Google (GOGL34).
“Agora, o investidor tem que levar em consideração que, por serem empresas de tecnologia, têm uma volatilidade e sensibilidade maiores em relação à mudança dos juros. Mas, para longo prazo, eu gosto”, diz Cohen.
Quais ações investir
Com mais um corte na Selic, os três analistas têm suas apostas para a Bolsa. Embora não faça recomendações para papéis, Fernandes, da A7 Capital, acredita que o setor bancário se beneficia com a queda da Selic. “Em um primeiro momento, pelo aumento na demanda por crédito, já que o consumidor percebe que as taxas estão mais atrativas e com juros de financiamento mais baixos. Além disso, há a redução do custo do passivo (dívida) do banco, que é em sua maioria é atrelado ao CDI”, observa Fernandes.
Apesar de entender não ser o melhor momento para entrar na Bolsa, Cohen também faz sua análise sobre as melhores oportunidades para quem quiser investir em ações. Ele concorda que as empresas do setor bancário têm boas chances de performar bem, uma vez que, com os juros ainda em dois dígitos, essas companhias conseguem fazer empréstimos mais altos e ganhar dinheiro.
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Contudo, o analista da XP avalia que o setor mais promissor, neste contexto, é o de petróleo. Como exemplo, ele cita Petrobras (PETR3; PETR4), PetroRio (PRIO3) e 3R Petroleum (RRRP3). Outra alternativa, fica com as mineradoras. “O minério é uma incógnita em relação à China pois o país já deu uma freada grande no crescimento. Ainda assim, acho a Vale (VALE3) uma excelente opção para os investidores mais arrojados que estão preparados para lidar com as oscilações do preço da commodity”, adiciona Cohen.
Queiroz, da L4 Capital, entende que o corte de 0,25 ponto porcentual na Selic vai beneficiar papéis de setores com exposição global, no caso, as exportadoras de commodities metálicas, petróleo, proteína animal e celulose. Para ele, esse nível da redução dos juros influencia em um dólar mais valorizado, o que beneficiaria a receita de companhias dolarizadas. Como exemplo de papéis desses setores, o sócio da L4 tem recomendação de compra para 3R, Suzano (SUZB3) e Minerva (BEEF3), com preços-alvos de R$ 65, R$ 80 e R$ 15, respectivamente.