Nesta sexta-feira (17) é comemorado o Dia Internacional Contra a Homofobia, a Transfobia e a Bifobia. Foi nesse dia, em 1990, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) deixou de classificar a homossexualidade como uma doença mental. Muitas coisas mudaram desde então, mas o preconceito e a discriminação permanecem contra a comunidade LGBTQIA+.
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Um levantamento recente do Instituto Pólis aponta que casos de violência contra lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e outros integrantes do grupo aumentaram 970% na cidade de São Paulo no ano passado em comparação com 2015. Os dados foram obtidos junto ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Sistema Único de Saúde (SUS), por isso trata-se apenas das vítimas que conseguiram chegar aos serviços de saúde pública.
Nessa toada, um estudo do banco suíço UBS mostrou que os cidadãos LGBTQIA+ necessitam de cuidados específicos com as finanças, principalmente pelo fato de sofrerem diversas adversidades ao longo da vida, como risco de agressão e rejeição familiar, ocasionando a saída ou a expulsão de casa.
O economista e educador financeiro Gean Duarte, criador do portal Bixa Rica, destinado a atender às necessidades específicas do público, concorda. Ele reforça que o dinheiro deve ser visto como um meio de realização pessoal e de liberdade, não apenas de sobrevivência. “É para desfrutar a vida e realizar nossos desejos mais íntimos, não aqueles que impuseram para nós”, diz.
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Duarte reforça que existem pressões sociais dentro da comunidade, que podem fazer o indivíduo dar prioridade a gastos não essenciais, a exemplo de festas, como forma de aceitação. Por isso, o economista destaca a importância de cultivar uma relação saudável com as finanças, dando preferência a necessidades pessoais sobre as expectativas do mundo externo.
Como cuidar das finanças?
De acordo com Duarte, muitas vezes as abordagens tradicionais de educação financeira não se aplicam diretamente às experiências e realidades enfrentadas pela comunidade LGBTQIA+. Em entrevista ao E-Investidor, ele listou algumas recomendações e pontos de atenção para as pessoas queer (aquelas cuja orientação sexual ou identidade de gênero não pertencem aos padrões heteronormativos).
O economista descreve uma jornada financeira de quatro fases pelas quais seus alunos podem passar. Ele as chama de ‘Bicha Endividada’, ‘Bicha Pobre’, ‘Bicha Rica’ e ‘Bicha Milionária’. As duas primeiras fases são consideradas períodos de desafios financeiros, quando se torna crucial criar um excedente no orçamento por meio de um planejamento financeiro.
Dessa forma, o mais importante está em eliminar as dívidas, primeiramente. Em seguida, deve-se construir uma base de segurança financeira que permita liberdade e autonomia. Veja mais detalhes a seguir.
Reserva de dinheiro
Uma reserva financeira proporciona a flexibilidade necessária para enfrentar situações imprevistas e tomar decisões importantes, como mudar de emprego ou sair de ambientes tóxicos. Duarte ressalta que mesmo começando com pequenas quantias, como R$ 50 ou R$ 100 por mês, é possível iniciar o planejamento financeiro e construir gradualmente essa reserva.
A quantidade necessária para essa reserva varia de acordo com a atividade profissional e padrão de vida de cada trabalhador. Por exemplo, para um servidor público, é recomendado ter uma reserva equivalente a três vezes o custo de vida mensal, enquanto para um trabalhador autônomo ou empreendedor, a recomendação chega a 12 vezes esse valor.
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Duarte sugere investir de forma inteligente, destacando o Tesouro Selic como uma opção segura – veja mais detalhes nesta reportagem. Ele enfatiza que alcançar essa fase de autonomia financeira é crucial para melhorar a qualidade de vida.
Cuidado com a saúde mental
O economista observa que muitos de seus alunos precisam de apoio psicológico e frequentemente incluem sessões com psicólogos ou psiquiatras em seus orçamentos. Duarte ressalta a importância de dar prioridade à saúde mental ao organizar o planejamento financeiro. Embora possa ser tentador gastar dinheiro em entretenimento ou com outros itens não essenciais, o investidor precisa eleger o cuidado financeiro como prioridade máxima.
O educador financeiro alerta contra o excesso de gastos em atividades de lazer ou compensações sociais, que muitas vezes são motivados pela necessidade de atender expectativas de colegas ou amenizar traumas passados. Ele encoraja o autoconhecimento e o investimento na saúde mental como uma forma de evolução pessoal e profissional.
Atenção com eventuais questões legais
Há questões legais em relação aos direitos de casais do mesmo sexo, como pensões, custos jurídicos e divisão de bens em casos de adoção. Por isso, é crucial construir autonomia financeira para poder negociar e garantir os direitos civis. Isso envolve segurança financeira, planejamento financeiro e a capacidade de pagar por orientação jurídica.
Ter controle sobre as finanças auxilia a evitar produtos financeiros prejudiciais ou cair em endividamentos. A autonomia financeira permite discernir o que é importante e reivindicar o que é de direito.
Tenha a aposentadoria em mente
A aposentadoria para a comunidade LGBTQIA+ no Brasil impõe um desafio, especialmente relacionados ao preconceito etário e à dependência do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). É fundamental começar a pensar no assunto o mais cedo possível. Para garantir uma aposentadoria segura, o investidor deve explorar opções de investimento que protejam o poder de compra ao longo do tempo.
O Tesouro Direto oferece opções acessíveis e eficazes de investimento, como o Tesouro RendA+ e o Tesouro IPCA+, que permitem garantir um futuro financeiro sólido, mesmo com investimentos iniciais modestos. e surgem como uma alternativas mais seguras e rentáveis quando comparados com a Previdência Social ou a poupança tradicional.
Transição de gênero custa dinheiro
Estabelecer um planejamento com metas para os custos relacionados à transição de gênero também precisa fazer parte do orçamento. Além dos procedimentos médicos, como cirurgias e hormonização, muitas vezes é necessário lidar com os preços dos planos de saúde.
A falta de recursos financeiros muitas vezes impede as pessoas transgênero de acessarem cuidados médicos ideais para a transição. Embora muitos problemas financeiros possam ser atribuídos à falta de organização, esse recorte da população possui desafios que se tornam mais complexos. É possível, no entanto, acionar o SUS para realizar o procedimento sem custos. Veja mais aqui.
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