- Boa parte do mau humor de investidores este ano tem a ver com o cenário externo, mas não foi ele o grande responsável pelas quedas do Ibov em maio. Investidores estão cautelosos com risco fiscal e "racha" no Copom
- O Ibovespa encerrou esta sexta-feira (31) aos 122.098,09 pontos, com uma desvalorização de 3,04% em maio
- Frigoríficos lideraram as altas do mês; IRB caiu mais, pressionado pelas chuvas no Sul
O Ibovespa encerrou esta sexta-feira (31) aos 122.098,09 pontos, com uma desvalorização de 3,04% em maio. Não é uma queda expressiva, mas ajuda a estender por mais um mês o momento negativo que tomou a Bolsa brasileira em 2024. No acumulado do ano, o índice de referência da B3 recua 9,01%.
Leia também
Boa parte do mau humor de investidores este ano tem a ver com o cenário externo. A ainda aquecida economia americana adiou consecutivamente as projeções do mercado para o início do ciclo de cortes na taxa de juros dos Estados Unidos e, no geral, predomina o entendimento que a Bolsa só voltará a ter altas expressivas quando essa pressão macroeconômica internacional se atenuar.
- Veja também: Com setor “queridinho” em crise, qual é a melhor ação para ganhar dividendos em 2024?
Mas, ainda que esse fator tenha permanecido no radar, não foi ele o grande responsável pelas quedas do Ibovespa em maio. As bolsas americanas, inclusive, tiveram um mês positivo e voltaram a sondar as máximas históricas. Em termos de comparação, o S&P500 acumulava uma valorização anual de 9,76% até o dia 30 de maio; a Nasdaq subia 11,5%.
Para Ricardo França, analista da Ágora Investimentos, essa descorrelação evidencia que o que pesou no mercado brasileiro foram mesmo os fatores domésticos.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
“Vimos esse mês uma certa abertura de curva de juros, com uma série de revisões para cima nas projeções para a Selic. Foi uma mudança bastante significativa que reflete a preocupação persistente em relação à trajetória fiscal, as expectativas de inflação que seguem desancoradas para o longo prazo e um grau de incerteza relacionado à última a decisão do Copom e a como será o processo de sucessão do atual presidente do Banco Central”, explica.
Nos dias 7 e 8 de maio, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reuniu mais uma vez para dar continuidade ao ciclo de afrouxamento monetário no País. Dessa vez, o grupo optou por reduzir o ritmo de cortes na Selic que vinha sendo adotado desde agosto de 2023, de 0,50 ponto porcentual (p.p.), e cortar os juros brasileiros em apenas 0,25 p.p. Mas a decisão não foi unânime, em um placar de 5 a 4 votos – um “racha” no comitê que caiu mal no mercado e ajudou a acentuar o movimento de abertura na curva de juros.
- “Estamos cautelosos com a Bolsa, mas não pessimistas”, diz gestora de R$ 103 bi no portfólio
O último Boletim Focus do mês de maio mostra que, agora, o mercado espera por uma Selic terminal de 10% ao ano em 2024. Há 4 semanas, a projeção era de 9% ao ano. “É importante mencionar que esse cenário por si só poderia justificar até uma queda mais intensa do Ibovespa, então, em algum grau, nosso mercado mostra resiliência. Primeiro, porque o valuation (valor dos ativos) continua muito deprimido. Segundo, porque a temporada de resultados referente ao primeiro trimestre de 2024 foi em geral bem razoável”, destaca França, da Ágora.
Com preocupações no cenário doméstico e no exterior, investidores estão em modo de cautela e o fluxo de capital na Bolsa caiu. Caso não haja gatilhos positivos em junho, o próximo mês pode ser mais um período “de lado” do Ibovespa.
“Mesmo com algumas ações atrativas, não tem fluxo. Por isso vemos essa performance mais negativa”, afirma Renato Nobile, gestor e analista da Buena Vista Capital. “É muito difícil prever o curto prazo, mas o Brasil ainda está muito dependente do cenário externo. Enquanto não estiver mais claro quando será a queda de juros nos Estados Unidos, dificilmente veremos esse fluxo retornar para a Bolsa local.”
As 5 maiores altas da Bolsa em maio
Apesar da performance ruim do Ibovespa, alguns nomes e setores conseguiram se destacar na Bolsa em maio. O mês foi especialmente positivo para frigoríficos, com Marfrig (MRFG3), JBS (JBSS3) e BRF (BRFS3) entre as principais altas do período.
Publicidade
“JBS e BRF talvez sejam as duas empresas que divulgaram os melhores resultados e bateram mais o consenso no trimestre”, resume Bruno Benassi, analista de ativos da Monte Bravo. Veja os detalhes do balanço da JBS aqui e da BRF aqui.
No primeiro trimestre de 2024, a JBS registrou uma melhora nas operações nos Estados Unidos, além de margens positivas na operação de suínos e aves. Para Benassi, a JBSS3 tinha ficado para trás na Bolsa e, com os números apresentados, conseguiu se recuperar. “O mercado estava muito mais negativo com a continuação do ciclo ruim do gado nos Estados Unidos e não percebeu que as outras unidades de negócio da JBS poderiam vir com resultados positivos. Por isso a surpresa foi bem relevante”, diz.
A BRF surfou no mesmo movimento: apresentou um resultado considerado forte, com evolução nas margens em comparação ao primeiro trimestre do ano anterior. “O mercado começa a colocar na conta que a BRF, hoje, vai trabalhar em um novo patamar de rentabilidade depois da melhoria da estrutura de capital com os follow-ons (oferta subsequente de ações) feitos nos últimos anos e o novo time da Marfrig tocando. E, como a Marfrig é a controladora, a MRFG3 subiu no embalo da boa performance”, explica o analista da Monte Bravo.
A VAMO3 também foi impulsionada pelos resultados apresentados no 1T24. "Foram números acima do consenso no 1T24 em EBITDA e lucro líquido. A surpresa na melhora operacional foi observada principalmente na margem EBITDA de aluguel de 91,4%, um aumento anual de 2,2pp, e EBITDA das concessionárias de R$ 18 milhões, revertendo prejuízo de R$ 36 milhões apresentado no 4T23. Além disso, a rentabilidade sobre o capital investido (RoIC) dos últimos 12 meses permaneceu forte, em 16,8%", aponta José Ricardo Rosalen Filho, analista da Ágora Investimentos.
As 5 ações com maior queda
Fora do noticiário econômico, as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no pior desastre climático da história do Estado foram o principal acontecimento de maio. Entidades têm mobilizado a sociedade civil em todo o País para arrecadar doações às vítimas das chuvas, que, segundo a Defesa Civil, afetou mais de 2,3 milhões de pessoas. E isso teve impacto em algumas empresas da Bolsa.
A maior queda mensal do Ibovespa ficou com o IRB Re (IRBR3), que cedeu 25,71% em maio. "O mercado está preocupado com os possíveis impactos da tragédia do Rio Grande do Sul nas seguradoras", destaca Bruno Benassi, da Monte Bravo. "A seguradora faz o seguro e vende um porcentual disso para as resseguradoras. Imagino que o mercado entende que o IRB tem uma exposição relevante em sinistros que já surgiram que ainda vão poder surgir no Estado."
O IRB é a companhia do setor de seguros mais exposta ao Rio Grande do Sul, na avaliação do JPMorgan, que estima que o impacto dos eventos climáticos sobre o lucro na companhia pode alcançar 14%.
Publicidade
Quem também caiu em maio foram as ações da Petz (PETZ3), com uma desvalorização de 20,38%. Com a queda, a companhia devolveu os ganhos que acumulou em abril depois de anunciar a fusão com a Cobasi. "No caso de Petz, também pesou sobre o papel outro conjunto de resultados fracos no 1T24, impactados por recuo das vendas pelo critério de mesmas lojas e mix de canais negativo impactando a margem bruta. Sendo que a Petz já vinha apresentando tendências fracas nos dois últimos resultados trimestrais tendo em vista o cenário competitivo acirrado para os varejistas de cuidados com animais de estimação no Brasil", destaca José Ricardo Rosalen Filho, da Ágora.