- Em evento do Wall Street Journal, Ray Dalio citou três coisas que acontecem agora e nunca tinha visto antes: elevado nível de endividamento dos bancos centrais, grande número de conflitos internos e disputa entre países, particularmente entre China e EUA;
- Nesse contexto, Dalio recomendou a um investidor de US$ 10 mil primeiro se proteger do incerto e depois tomar risco diversificando;
- A prescrição do megainvestidor, que pode se traduzir em montar uma reserva de emergência e depois um portfólio diversificado, é universal e até pode parecer óbvia, mas poucos seguem.
Como você investiria se fosse 50 anos mais jovem e tivesse US$ 10 mil hoje? – perguntou o jornalista do Wall Street Journal ao bilionário Ray Dalio no evento que tive o prazer de acompanhar há poucos dias em Nova York, com a ambiciosa temática “O futuro de todas as coisas”.
Leia também
Dalio é o respeitado fundador da Bridgewater, tendo sido por muitos anos o responsável por investir mais de US$ 200 bilhões, o que lhe rendeu o título do maior gestor de hedge funds do mundo – fundos com poderes amplos de investimento, algo próximo de nossos multimercados.
Antes da pergunta prática, Dalio tinha acabado de dizer que, em alguns momentos de sua vida, se deparou com coisas que nunca tinha visto antes, que lhe surpreenderam e custaram dinheiro.
Publicidade
O megainvestidor citou então três coisas que, segundo ele, estão acontecendo agora e nunca aconteceram antes: o elevado nível de endividamento dos bancos centrais; o grande número de conflitos internos dos países, com populismo tanto de esquerda quanto de direita; e a disputa de poder entre países, particularmente entre China e EUA.
Ele mencionou ainda as questões climáticas e a evolução tecnológica, vistas como influências importantes no novo contexto.
Foi então que o jornalista partiu para a questão prática: o que faria Ray Dalio se não fosse bilionário como é hoje e tivesse US$ 10 mil na mão para investir – o que equivale, aos valores de hoje, a pouco mais de R$ 50 mil.
A primeira coisa que você tem que fazer, respondeu o megainvestidor, é pensar no propósito desse dinheiro: se é para comprar um apartamento, assegurar o futuro, para a educação das crianças.
“Primeiro se imunize” – ensinou Dalio. E seguiu dizendo que, quando era mais jovem e tinha esse nível de patrimônio, pensava em quantas semanas, meses ou anos poderia viver sem dinheiro entrando ou em como ele poderia se proteger de uma situação em que perdesse o emprego, por exemplo.
Publicidade
Depois, ultrapassada essa etapa, aí você pensa em como tomar riscos, continuou o fundador da Bridgewater. E aqui recomendou perseguir ganhos reais, ou seja, acima da inflação e, “o principal”, diversificar.
Daí Dalio seguiu para uma defesa contumaz da diversificação, que ele chamou do “Santo Graal” dos investimentos: “Quando eu descobri isso, significou tudo para mim”, afirmou.
Ele mencionou um cenário ótimo em que você encontra uma grande variedade de boas fontes de retorno descorrelacionadas entre si, ou seja, ativos que tendem a reagir de forma diferente ao contexto – chegou a falar em 15 deles. O objetivo: reduzir seu risco sem diminuir na mesma medida os ganhos esperados.
De forma simplificada, a proposta de Dalio poderia ser colocada em prática com uma reserva de emergência e um portfólio diversificado.
Veja bem, ele não apontou o ativo da vez, não recomendou investir tudo em renda fixa, em criptomoedas, dólar ou ouro – no caso do metal, inclusive, citou fatores que o favorecem neste momento, mas fez questão de reforçar para não investir todo o dinheiro nele.
Publicidade
O jornalista não conseguiu disfarçar a decepção. “O que você respondeu é uma verdade universal há muito tempo, diversificar é o núcleo da teoria do portfólio, mas você descreveu essas mudanças, o mundo em 40 anos não vai ser como há 40 anos… seus conselhos mudaram ou são os mesmos?”, questionou.
“Isso importa mais ainda”, respondeu Dalio prontamente. “As incertezas serão grandes”, continuou. E exemplificou com as implicações que o avanço da inteligência artificial vai ter sobre as companhias. “Quais serão os ganhadores e os perdedores? Nós temos muito mais incertezas sobre quem serão”. Por fim, reforçou a prescrição universal: “Pense em diversificação de ativos, de países… tudo isso vai importar mais, não menos”.
Se lhe parece óbvio, talvez na teoria seja mesmo. Posso dizer, porém, que isso é muito diferente do que muitos investidores têm feito por aí. Basta ver o fluxo de saída em fundos que tomam risco.
A diversificação como posição estrutural está longe de ser o padrão – apesar de ser a recomendação de todas as pessoas que fazem dinheiro que já tive a oportunidade de ouvir. Com Ray Dalio não foi diferente.