O dólar tem registrado altas desde o início do ano, quando estava abaixo de R$ 5. Nesta quinta-feira (13), a moeda encerrou com uma queda de 0,70%, cotado a R$ 5,36 – veja mais detalhes aqui. Somente em junho, a moeda americana acumula alta de 2% na comparação com a cotação de R$ 5,25 registrada no primeiro pregão do mês.
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A valorização se deve principalmente ao dólar forte no exterior e à indecisão sobre a política fiscal no Brasil. Na quarta-feira (12), a moeda americana saltou para R$ 5,43, na máxima da semana e recorde em 18 meses. Pesou para a alta o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante o evento FII Priority, do Future Investment Initiative (FII), organização sem fins lucrativos apoiada pelo PIF (sigla em inglês de fundo soberano da Arábia Saudita) e 30 empresas globais.
O discurso de que o governo está “colocando as contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal”, mas que “não consegue discutir economia sem colocar a questão social na ordem do dia” não agradou o mercado, que se preocupa com a meta de fiscal para 2025.
No cenário externo, a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sobre os juros nos Estados Unidos também foi fator de pressão para o câmbio no Brasil. Ainda na quarta-feira, a autoridade monetária americana manteve a taxa básica da maior economia do mundo no intervalo entre 5,25% e 5,5% e ainda deu um importante sinal para os investidores do que pode acontecer nos próximos encontros de 2024 – confira nesta reportagem.
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Para analistas, um corte nos juros pelo Fed poderia tornar a economia brasileira mais interessante para o capital externo e aliviar a pressão sobre o real, mas no momento o cenário se mantém e a economia norte-americana ainda fica como alternativa segura para investidores internacionais. “[O início do corte] poderia impactar positivamente o Brasil por meio da apreciação do real frente ao dólar, uma vez que a perspectiva seria de receber parte desses recursos que migram para os EUA e outras praças financeiras” afirmou Matheus Pizzani, economista da CM Capital.
A variação do dólar afeta o cotidiano do brasileiro de várias formas, desde o preços de produtos importados até a viagem de férias. Neste último caso, como os custos do setor são dolarizados, acabam provocando o aumento no preço de passagens aéreas. Para viagens internacionais, os Estados Unidos são um dos principais destinos dos brasileiros. Além disso, o dólar é uma moeda aceita em vários outros países.
Entenda abaixo como a alta do dólar afeta a sua vida e as medidas que você pode tomar para se proteger.
Como o dólar alto afeta o bolso do brasileiro
O dólar afeta diretamente o preço dos produtos importados que o brasileiro compra no varejo no Brasil. Mas, além deles, o câmbio pode estar embutido em itens fabricados aqui. Insumos importados são comumente utilizados na indústria nacional, a exemplo dos fertilizantes no setor agrícola e de peças para montadoras de veículos. “O dólar é a moeda mais forte do mundo e é por meio dela que são negociada as principais commodities e os principais produtos do nosso dia a dia. Ou seja, uma alta do dólar faz com que a gente tenha produtos mais caros, que haja inflação”, comentou Victor Furtado Pinheiro, head de Alocação da W1 Capital.
A alta do dólar também pode afeta a política monetária. Em um momento de alta da moeda americana, a economia brasileira perde apelo para os investidores internacionais, disparando, assim, pressão inflacionária. Uma medida do Banco Central para segurar a inflação e atrair investidores é manter a taxa básica de juros da economia, a Selic, em patamar alto. Tal movimento busca reduzir a escalada de preços ao frear o consumo e atrair investidores com a oferta de retornos mais atraentes nos títulos públicos brasileiros.
Recentemente o mercado deixou de acreditar que o câmbio encerrará o ano na casa dos R$ 5, como previa o Boletim Focus na virada de 2023 para 2024. A edição mais recente, publicada na última segunda-feira (10), traz uma projeção de R$ 5,05 para o câmbio o fim do ano – o Itaú BBA revisou suas expectativas e agora espera que o dólar estacione em R$ 5,15 em dezembro. A previsão para a Selic também mudou, e, nas últimas edições do Boletim Focus o mercado manteve a projeção da Selic para 2024 em 10,25% ao ano. Há um mês, o patamar era de 9,75%.
Dólar alto afeta os investimentos: o que vira oportunidade
A alta do dólar também abre oportunidades no mercado financeiro e há algumas formas de investir na moeda norte-americana. Uma delas ocorre por meio de contratos futuros de dólar na B3, a Bolsa de Valores brasileira, por meio de duas categorias: contratos cheios de dólar (DOL) e os minicontratos de dólar (WDO). “Os contratos cheios são para quem deseja movimentar grandes quantias, pois eles correspondem a uma movimentação de US$ 50 mil por unidade. O mini contrato é indicado para quem vai operar valores menores, pois cada minicontrato vale US$ 10 mil”, diz Paloma Lopes, economista da Valor Investimentos. Ela explica também que o contrato de US$ 10 mil não tem mínimo para operar, enquanto o de US$ 50 mil tem o mínimo de 5 contratos, equivalente a US$ 250 mil.
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Em função do valor elevado, os especializadas consultados pelo E-Investidor comentam que essa modalidade é mais recomendada para quem tem um maior poder de barganha para investir, visto que em real é necessário ter pelo menos R$ 50 mil para comprar um contrato, o que passa a ser complicado para investidores com um patrimônio não tão grande. Na visão de João Piccioni, gestor de fundos da Empiricus Gestão, o dólar futuro não se mostra uma boa alternativa para o investidor que não está acostumado à volatilidade do mercado futuro. “O contrato futuro prevê fluxos diários de entrada e saída de recursos e, portanto, deve ser monitorado de forma recorrente. É um produto voltado para investidores mais experientes ou que desejem fazer alguma operação de proteção de carteira”, explica o analista.
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Outras alternativas consistem em investir diretamente na bolsa norte-americana ou em fundos cambiais. Quem quiser aproveitar essas oportunidades deve estar atento ainda ao seu perfil de investidor, visto que os ativos podem aumentar o risco da sua carteira.
Como mencionado antes, a alta do dólar reflete negativamente nas importações, mas é positiva para empresas exportadoras. “A empresa que eu mais gosto e que tem receita em dólar é a PetroRio (PRIO3), que exporta petróleo. É uma empresa que apresenta um crescimento muito forte e está negociando 6x o múltiplo preço sobre o lucro (P/L)”, avalia Bruce Barbosa, analista da Nord. As ações da Vale (VALE3) e da Petrobras (PETR3; PETR4) também se beneficiam com a apreciação da moeda norte-americana por terem receita dolarizada. Já para outros, o impacto tende a ser negativo – veja aqui quem ganha e quem perde com a alta do dólar.
Como prevenir que o dólar estrague a sua viagem
Uma alta do dólar perto de uma viagem pode ameaçar a programação do turista que vai para fora do País. Quem espera a véspera da viagem para comprar dólar ou pretende usar o cartão de crédito – cuja cotação costuma ser a do momento do fechamento da fatura – corre risco, avisa a educadora financeira Aline Soaper. “Pode ser que ela tenha sorte e o dólar apresente uma baixa e acabe pagando mais barato, mas também pode acontecer, como agora, de haver uma grande alta e perder dinheiro”.
É possível reduzir o risco cambial da viagem com planejamento, orienta a educadora financeira. “O ideal é que o turista que está se planejando para viajar vá comprando dólar aos poucos, porque comprará o dólar mais caro um dia e mais barato no outro, mas ao longo do tempo ele vai conseguir uma média que será melhor que a surpresa da alta”.
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